Capítulo 19

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Choque. Pânico. Terror. Repulsa. Intolerância. Covardia. Essas palavras foram estampadas em todos os jornais e noticiários onlines, bem como pronunciadas por pessoas do mundo todo à medida que eram informadas sobre o que acontecera na Ópera de Paris. A notícia do atentado se espalhou pelo mundo quase instantaneamente. A polícia ainda não tinha números precisos, mas acreditava-se que pelo menos 12 pessoas perderam a vida no Palais Garnier. Ainda, mais de vinte pessoas haviam sido hospitalizadas, sendo que pelo menos 5 em estado grave.

Em poucos minutos, um vídeo divulgado pela Resistência Unida reivindicando o atentado viralizou na internet. Em contraponto, o Secretário de Segurança e o próprio primeiro-ministro, Fronçoais Volussê, falaram em cadeia nacional de comunicação e manifestaram sua indignação com mais esse ato de covardia realizado pelos terroristas. Além disso, prestaram suas condolências às famílias das vítimas e listaram as medidas que o governo tem adotado para conter os atos de terror, destacando, inclusive, que naquele mesmo dia o serviço secreto impediu um segundo atentado na Sinagora de Paris. O secretário de segurança informou ainda que três suspeitos foram detidos, dois na Sinagoga e um na Ópera. No entanto, em função da integridade das investigações, seus nomes seriam mantidos em sigilo.

O perímetro da ópera foi isolado, mas isso não impediu que curiosos, jornalistas e familiares das vítimas se aglomerassem nas proximidades. Tal como nos demais atentados, muitas pessoas levaram flores e acenderam velas em homenagem às vítimas daquela tragédia. Artistas e intelectuais do mundo inteiro também lamentaram a destruição e estragos ocorridos em parte do belo edifício da Ópera, ícone da cultura ocidental.

Muitos tentavam explicar o inexplicável. Alguns diziam ter sido imprudência das autoridades permitir que espetáculos acontecessem em meio a essa onda maciça de terror. Outros diziam que não se deve viver amedrontado. Ainda havia, porém, os que ficavam em silêncio. Alguns por não saberem o que dizer, outros, por saber que simplesmente de nada adiantava dizer. Também havia aqueles que sabiam que de todos os silêncios, de todas as palavras não ditas, o que causava mais dano era o silêncio vindo das comunidades árabes. Salvo alguns cidadãos com pouca importância, nenhuma grande autoridade religiosa manifestara o seu desprezo pelo atentado, nem mesmo os moderados, com exceção, é claro de Ibraim Kalache, que deu uma longa entrevista no principal jornal do país. O islã é uma religião de paz, dizia ele. Não podemos ser condenados por uns poucos radicais que deturpam as escrituras sagradas. Ele falava tais frases como um mantra que deveria ser repetido, para que, quem sabe assim, fizesse com que o significado das palavras fosse mais forte do que os fatos. O que parecia funcionar muito bem, pois discursos como esses eram multiplicados pela mídia e faziam, de uma forma extraordinariamente inexplicável que de repente, os mortos deixassem de ser as verdadeiras vítimas, tornando-se primordial a defesa da maioria muçulmana moderada, pois estes enfrentariam mais intolerância, mais preconceito e mais maus-tratos. A maioria moderada não poderia ser penalizada por atos que, embora cada vez mais frequentes, foram praticados por grupos isolados. A mesma maioria moderada que permanecia em silêncio e não era capaz de expressar repúdio pela tragédia; que não era capaz de invadir as ruas e exigir o fim da Resistência Unida. A mesma maioria moderada que orava pelo Califado mundial, onde toda criatura deveria se curvar diante de Alá. A mesma maioria moderada que não sabia dizer como Alá faria isso a não ser pelo uso da força.

***

— Não pode entrar aqui!

Gabriel olhou para o policial diante da porta. Era um policial que deveria ter no máximo trinta anos, em início de carreira e que certamente jamais deveria saber com quem estava falando. Ele fora colocado diante daquela porta com uma metralhadora na mão e com uma missão específica: impedir que alguém se aproximasse do suspeito que fora preso na ópera e que agora estava sobre custódia da polícia dentro daquela sala do distrito policial. A bravura em sua voz só era equivalente à arma que portava, o que fez Gabriel se questionar se sem ela, ele falaria de forma tão resoluta.

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