*Bônus* Esperança de dias melhores

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Eu me chamo Rosa Gonçalves, tenho 33 anos, três filhos de outro casamento, um de 10, uma de 8 e mais um de 6. Sou casada com Júnior que é 3 anos mais novo que eu, na verdade mesmo nós moramos juntos, e ele agora se encontra preso por tráfico de drogas.

Meus filhos são a razão da minha vida, faço tudo por eles, trabalho pesado pra conseguir dar o melhor que posso para meus meninos. Sou faxineira e trabalho em várias casas, e um dos meus patrões é o Seu Gabriel, ele é um cara muito bacana e respeitador.

Com as faxinas que faço vou conseguindo levar a minha vida. Tudo o que tenho é com muita dificuldade. Trabalho duro aqui e ali para conseguir o sustento para meus filhos e para minha casa, já que não posso contar com a ajuda do meu marido, que fez besteira e pegou 6 anos de cana. Seriam 5 anos, mas pela quantidade de drogas ele pegou 6. Ele já cumpriu quase 2 anos e pode entrar com o pedido de progressão de regime fechado para semiaberto.

Eu e Júnior de uns tempos para cá estamos brigando muito. Quando vou visitá-lo, ele fica me pedindo dinheiro, dizendo que precisa de grana, é uma verdadeira perturbação. Pra que, que ele quer dinheiro dentro da cadeia, não precisa, eu e a mãe dele levamos tudo que ele necessita. Ele está é arrumando mais problema pelo visto. A coisa está difícil pra mim sozinha, será que ele não entende.

Nós moramos em uma grande comunidade no Rio de Janeiro, e sabe como é né. Vim pra cá porque ele me trouxe; eu não queria, mas era o que dava pra ser no momento, então aceitei e aqui infelizmente a gente vê muita coisa que não quer ver e escuta muita coisa que não quer escutar.

Se em favela tem bandido? Mas é claro que tem. Mas também tem muita gente trabalhadora, muitas gente mesmo. Que sai de casa antes do sol nascer e trabalha e muito honestamente. Assim como eu.

Já faz um tempo que eu tô querendo sair daqui. Tô cansada de me esconder com meus filhos dos tiroteios, de ver gente morta pelas vielas e de polícia atirando primeiro em morador pra depois perguntar se é bandido. Os PM já até invadiram e bagunçaram minha casa achando que tinha alguém escondido, foi um susto danado. Não aguento mais isso, viver com medo o tempo todo.

Pensei que Júnior tinha mudado, mas ele não largou o vício (ele deu foi um tempo) e está na cadeia por causa disso. Chega, eu quero sair daqui, sei que a violência está em todo o lugar, mas sei também que morar em favela é bem pior.

Já conversei até com seu Gabriel, por alto, sobre a situação que passo, e ele me dá a maior força. Diz que tenho sim que buscar o melhor para mim e para meus filhos. Mas meu marido, aquele cabeça dura, não pensa como eu. Parece que só porque nasceu aqui está enraizado. Ele diz que quando sair da cadeia vai voltar pra favela e que lá é o lugar dele.

Sei que não posso ter tudo na vida, ninguém está completamente satisfeito. E eu já decidi, assim que tiver condições vou me mudar, com ou sem meu marido. (E é mais provável que seja sem ele)

Seu Gabriel me aconselhou a conversar mais, com jeito explicar os meus medos, expor os meus anseios. Mas eu já conversei nas visitas, e agora quando eu começo a falar ele não quer nem ouvir. Já diz logo: _Lá vem você de novo com essa ladainha mulher? Que coisa chata. Coloca na sua cabeça, eu não vou sair da favela e ponto final!

Esse amor que sinto há tempos não está me fazendo bem, tô cansada, ele não muda e nem parece se esforçar para mudar. Eu amo o cabeça dura do Júnior, mas amo mais os meus filhos e a mim. Sou responsável pelo bem estar deles e pela segurança, e eu vou lutar para conseguir o meu objetivo. Vou trabalhar muito, e vou vencer se Deus quiser. E como diz o Seu Gabriel, que é cristão, "Posso todas as coisas Naquele que me fortalece" e eu sei, Deus vai me ajudar.

"Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo."

2Timóteo 2:13

Nas Mãos de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora