Presley Rock Club

O sucesso

Tem dias que eu me seguro muito para não dar um soco na cara do Dudu. Eu não sei que tipo de idiotice passa na cabeça desse menino para justificar as merdas que ele faz e fala. Deve achar que o mundo gira em torno dele.

Ele, mais do que ninguém, sabe muito bem o esforço que todos nós fizemos para chegarmos até aqui. O sonho de ter uma banda não era só dele. Nós quatro investimos tempo e dinheiro nos Lumberjacks. Nós quatro passamos noites em claro compondo músicas e fazendo shows em barzinhos que não pagavam nem o suficiente para cobrir a gasolina que gastávamos para voltar pra casa.

Fora todos os perrengues que passávamos, ainda precisávamos aguentar a desaprovação de nossos familiares. Afinal, qual mãe gostaria de ver o filho desistindo da faculdade para se dedicar a uma banda que mal consegue arrumar show? Mas a gente conseguiu se virar.

Desde que aquele jornalista assistiu nossa apresentação no Presley, as coisas só melhoraram. Fechamos contrato com uma gravadora, arrumamos um bom empresário e o Brasil inteiro passou a nos convidar pra participar de festivais, eventos e até programas de televisão. Nem em nossos sonhos imaginávamos que nossa música atingiria tantas pessoas.

E ainda assim esse filho da puta tem coragem de dizer que não está contente com a banda? Faça-me o favor, né? Se ele acha que é bom demais para continuar tocando com a gente é só falar na cara. Não precisa vir com esse papo de que "estamos nos distanciando das nossas ideologias e precisamos planejar com calma o nosso futuro".

Do meu ponto de vista, nós chegamos onde sempre quisemos chegar. Mas eu sou só o guitarrista de apoio, as músicas que componho são todas "lado B". Como que vou entender o que se passa na cabeça do grande e poderoso líder da banda?

É por essas e outras que costumo dizer que, de todas as minhas tarefas dentro dos Lumberjacks, a mais difícil é ser melhor amigo do Dudu. Ele esteve do meu lado desde os meus 13 anos e, por mais que ele torre a minha paciência, fico mal de vê-lo deprimido.

Acho que vou marcar um churrasco só pra nós quatro lá em casa. Quem sabe a gente acabe tendo uma ideia para melhorar os ânimos de todo mundo na banda, né?