"Digamos que você esteja mal, desculpe, mas você nunca realmente mostra"
Gold - Kiiara
Éramos quatro naquele quarto, a luz do meio dia entrava forte pela janela e era suavizada pela cortina, elas não sabiam mais o que fazer para tentar me animar. As fotos ainda teriam que ser rasgadas, mas não tinha certeza de que era aquilo que queria. A caixa com as nossas memórias foi colocada no topo do meu armário para quando, em um dia em que estivesse melhor, visse os momentos felizes que passamos juntos e ao invés de chorar, sorrir.
- Que tal cinema? Ou shopping? O que você acha de irmos ao parque? - agradecia muito por elas estarem ali comigo naquele momento, mas todos os lugares me lembravam dele, estava com o pensamento longe, até que a voz da minha mãe me trouxe para a realidade.
- Sorvete para todas! - exclamou como se comida fosse a salvação e, não é que era mesmo?
- Virou vidente, Tia Bia? - Maya chamava ela assim desde que éramos pequenas, e essa mania acabou passando para o nosso grupo inteiro, inclusive para o Joaquim, que chamava a "ex-sogra" de tia. Depois de muitas perguntas que me fizeram e eu não respondi por falta de atenção, elas conversaram, combinaram algo entre si e se despediram. Disseram que mais tarde passariam lá para irmos para um lugar especial.
Liguei o iPod na ordem aleatória e a música que começou a tocar foi XO na versão do John Mayer, que parecia combinar com aquele momento, principalmente na parte em que dizia: "nós não temos a eternidade". Eu deveria ter me dado conta antes, eu precisava esperar que uma música me dissesse isso? Me senti em uma daquelas cenas de filme, com a trilha sonora triste e que a protagonista fica chorando pelo término do namoro com o galã. OK, ele não era o galã mas eu poderia ser a protagonista, ou melhor, eu era a protagonista do meu próprio filme, e elas sempre viram o jogo.
Não seria fácil, inclusive estava com um aperto no coração, a qualquer momento poderia desabar. Mas iria tentar, e conseguir não mais sofrer por isso. Enquanto descia as escadas, me deparei com a minha mãe tocando piano, mas parou assim que me viu.
- Olivia, precisa de alguma coisa meu amor? - falou indo em direção ao sofá.
- De verdade mãe? Eu preciso escrever o roteiro da minha vida, e nela a personagem principal não fica abalada por causa de um término de namoro.
- E para escrever esse roteiro, você precisa de ajuda? Ou a protagonista já está "curada"?- ela perguntou um pouco confusa.
- Eu preciso que você faça com que meu coração nunca mais se parta e que eu nunca mais me apaixone pelo cara errado - disse com a expressão nitidamente triste.
- Ah minha filha... Isso não posso fazer. Eu não posso te prender em uma bolha que te proteja de todos os males e injustiças do mundo, porque se pudesse, pode ter certeza que você já estaria lá dentro - me colocou com a cabeça deitada em seu colo, assim como fazia quando eu era mais nova.
- Espero que eu supere logo. Mas, e a Nina onde está? - perguntei tentando mudar de assunto.
- Esqueci de te avisar, ela foi para a casa da sua tia ver a Alana - a tia Eva ficou grávida no mesmo período em que a minha mãe descobriu a gravidez, então, por terem a mesma idade a minha irmã e minha prima eram inseparáveis.
Fui para o banho, para finalmente começar a me arrumar. Os meus pensamentos estavam completamente bagunçados entre memórias, citações e trechos de músicas chiclete. Essa era mesmo eu? Eu realmente estava em um dia ruim? Isso não era a minha cara. Eu tinha prometido desde a minha paixão platônica do jardim de infância que não iria mais sofrer por pessoas que não merecessem, OK o Joaquim não era tão ruim assim, ele só era um pouco cabeça quente mas de resto, valia a pena. As lágrimas que escorriam pelo meu rosto eram misturadas com as gotas quentes do chuveiro. Saí do banho, enrolei uma toalha em meu corpo e outra em meu cabelo. Como aquelas lembranças ruins não saiam da minha mente? "Eu não fiz nada Olívia" - foi tudo o que ele disse, como as pessoas não se dão conta dos erros que estão cometendo?A campainha tocou, era a Maya. Entrou e ao me ver ainda com a cara um pouco inchada já percebeu que algo estava errado e começou um discurso que fazia quando algo realmente ia mal.
- Liv, você está realmente perdendo o seu tempo com isso? Você não é assim, a Olívia que conheço não é assim, ela é de bem com a vida, vê tudo pelo lado bom mesmo quando não tem. Sorri e ri de tudo e para tudo, ela é a única pessoa que conheço que mesmo sendo muito sensível, só fica mal por um instante e depois volta ao normal. Que vive em um mundo incrível em que só vê os amigos, as coisas boas, unicórnios e arco-íris. Essa é você, e todo mundo fica melhor quando está ao seu lado, não por que estão sempre em um dia bom, mas você faz ele ficar bom.
Como ela conseguia ficar fofa de uma hora pra outra? Não sei, até porque geralmente a minha função é ser fofa toda hora, mas Maya conseguia mudar de humor muito rapidamente.
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Nota do autorO que estão achando da história? No capítulo da semana que vem ela deixa de ser tão melancólica.
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Olívia
Teen Fiction"Essa é você, e todo mundo fica melhor quando está ao seu lado, não por que estão sempre em um dia bom, mas você faz ele ficar bom." Olívia, uma história de como tudo pode mudar, seja do bom para o ruim, uma mudança completa ou simples, para algo ne...