Capítulo 6

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Afonso se esforçou, quando acordou na manhã seguinte, para se trocar e ir resolver assuntos na cidade; porém, logo que viu a feição adormecida de Daniela, ele não resistiu e beijou-lhe a testa, menos demoradamente do que gostaria, mas, mesmo assim, aquele pequeno toque foi o suficiente para que se contentasse, por hora.

Tomou seu café da manhã, observando aquela casa. A casa em que Daniela e ele viveriam. A casa em que passara seus melhores momentos quando criança, brincando perto do rio, mesmo que a água estivesse gelada. Se Deus permitisse, passaria ali seus melhores momentos com Daniela. Sua Daniela.

Apressou-se ao olhar o relógio perto da parede, era tarde. Agradeceu a Olívia por tudo e pegando seu casaco e cartola, pediu ao cocheiro, do qual não se lembrava do nome, para levá-lo a cidade. Não era mais John... Uma coisa difícil para se acostumar, Afonso forçou-se a lembrar de perguntar, discretamente, a uma das criadas como o cocheiro e seu novo valete se chamavam.

***

Algumas horas depois que Afonso deixou a casa, Daniela fazia Olívia apertar-lhe a coluna com o joelho para que o espartilho ficasse o mais sufocante possível.

- Aperte-o mais, Olívia. - implorou Daniela, tentando não se contorcer no chão, a cada lufada de ar que deixava seus pulmões. - Mas, milady, se eu apertar mais o espartilho, a senhorita não vai conseguir respirar.

- A Senhora... - murmurou uma das criadas mais velhas.

- Certo, perdoe-me. - acatou Olívia. - A senhora sabe, fui criada de milady desde que ela era pequena, então acostumei-me.

- Trate de se acostumar, Olívia - disse a outra criada - Milady é casada agora.

- Sim, senhora, eu irei.

- Com licença, milady. - pediu a criada mais velha. Daniela esforçou-se para manter a compostura até que ela saísse do quarto e, assim que a criada o fez, ela deixou-se gargalhar baixinho, sabendo como a senhora estava errada. Ela ainda era uma senhorita, não que alguém precisasse saber, mas para ela, isso era a coisa mais importante de tudo.

- Se ela soubesse, Olívia. - comentou Daniela.

- O segredo está seguro, milady, mas é bom que a senhorita saiba que as paredes têm ouvidos. Eu serei vossa criada mais leal, como milady já sabe, no entanto, não poderei evitar que certas coisas sejam comentadas na cozinha.

- Eu não me importo, Olívia. - respondeu Daniela, com a respiração entrecortada, ao levantar-se do chão com a ajuda da criada.

- O que vai vestir hoje, milady? - quis saber Olívia.

- Tecnicamente, eu poderia já vestir um vestido de passeio, já que Najla virá aqui para passearmos pela cidade. Ganhei algum vestido novo de casamento?

- Sim, milady. Vossa mãe lhe deu um vestido róseo, com rendas.

- Será o que vestirei então. Ah,Olívia! Em pensar que agora todos os meus penteados deverão ser completamente presos... Vou sentir falta dos meus cabelos no pescoço, protegendo-me do frio.

- Pare de se lamentar, milady. Tenho certeza que milhares de jovens naquele salão, ontem à noite, se jogariam em cima de milorde só para que elas pudessem usar os cabelos presos ao se casar com ele.

- Você sabe porquê eu tenho que ficar bonita, não é, Olívia?

- Para agradar ao vosso marido, é claro. Apesar - a criada abaixou a voz - de ser apenas um casamento de fachada.

- E, além disso - continuou Daniela, murmurando - eu não seria capaz de envergonhá-lo, Olívia. Não posso envergonhar Afonso vestindo-me como se não me importasse. Porque se eu o envergonhasse, a reputação de Najla estaria acabada. Ninguém se casaria com uma moça cuja cunhada se vestisse mal, apesar de todos os esforços do marido.

It Was Always You [EM PAUSA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora