Capítulo 19

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Flávia sabia que suas chances podiam não ser muito boas. Chegara a conclusão que se dependesse de Jack seu plano nunca daria certo e ela não obteria Afonso só para si - como nos bons e velhos dias que eles costumavam ficar juntos, emaranhados num lençol. Se bem que ela não tinha muito o que reclamar, tendo a fortuna do velho Blamer para si. Cada dia mais viciado em álcool que ela insistia todas as manhãs que ele tomasse, Blamer logo morreria e toda a fortuna dele iria para as mãos de um primo distante da família - que pelo que ela sabia não era casado - então, apenas bastaria se mostrar muito solidária e oferecer suas condolências que ele logo seria seu. Era sempre assim. Homens como Blamer - e ela imaginava que o primo dele era deste tipo - eram fáceis demais para seduzir.

Estreitou os olhos para a vela pingando em suas mãos. A cera quente realmente não a incomodava, não quando estava no porão e alguns ratos com certeza rodeavam sua saia. O velho mantinha, ou, melhor dizendo, os criados do velho mantinham todo o tipo de quinquilharia que havia sido moda em tempos remotos, de quem ele herdara a mansão. Ali, naquela bagunça, deveria ter algo que pudesse usar como arma.

Aproximou a chama de um monte que pareceu promissor. O mordomo lhe dissera - quando havia inquirido e informara que gostaria de uma resposta muito precisa - que Blamer fora um excelente atirador quando jovem e deveria manter algumas de suas pistolas - além daquelas que não funcionavam, expostas no escritório muito masculino que agora Flávia usava para si - no porão.

Era por isso que, mais decidida do que nunca, cansada de esperar por homens que obviamente não sabiam fazer seu trabalho direito, ela se sujeitara a ir até o porão, infestado de poeira e dos mais nojentos bichos que ela já poderia ter visto, para procurar as armas por contra própria. O mordomo, enxerido, havia oferecido para acompanha-la, para sua própria segurança, mas ela lhe contara que não precisava de segurança. Se tinha uma coisa que havia aprendido em bordéis antes de conhecer Afonso era proteger a si mesma. Era vital para sua sobrevivência e isso, de certa forma, a fizera aprender a mirar e atirar.

Mudou mais uma vez de direção e aproximou a luz dum cabide preso à parede. Ali estava. Ela sorriu diabolicamente para si mesma, deixando uma deliciosa gargalhada escapar. Afinal, ali estava a arma que mataria Daniela Burmingham.

Ali estava a arma que faria Afonso ser seu.

O mordomo de Blamer, assim que se viu livre da Srta. Nye, enviou um mensageiro para a casa do Sr. e da Sra. Burmingham, os recém-casados, mas um dos vizinhos informou que eles haviam deixado a casa às pressas. Talvez, se deixasse uma nota... O rapaz olhou para suas mãos sujas de terra e machucadas por cortes. Ele realmente precisava de um dinheiro extra para levar para casa. Era tudo que podia dar de luxo à família, além do salário que ganhava e sua mãe realmente merecia um presente de casamento.

Talvez, se ele esperasse...

Levantou a cabeça quando uma sombra se projetou em sua frente. Ergueu os olhos e manteve-se ereto.

- Bom dia, meu rapaz. O que deseja? - o criado uniformizado da Casa Burmingham sorriu para ele.

- Bom dia, senhor. Tenho um bilhete da Casa Blamer para o Sr. e a Sra. Burmingham. Disseram que é urgente. - o criado mais velho sorriu para o jovem e lhe entregou a moeda antes de pegar o envelope e dispensar o rapaz que, montando em seu cavalo, acenou e partiu.

O criado dos Burmingham, uma vez que seu veículo fora abastecido com o resto das roupas que viera buscar para os patrões, guardou o recado no bolso de seu uniforme e, com a testa descansando na madeira do encosto da charrete, suspirou.

- Vamos logo. - disse ao cocheiro - Tenho um recado urgente.

O recado não chegou a tempo. Essas coisas nunca chegam a tempo, não é mesmo? Mesmo que o criado tivesse se esforçado o máximo que conseguira, ele não encontraria Daniela Burmingham, nem Afonso, para que pudesse entregar o bilhete. Desta forma, ele foi parar nas mãos de Brandon - que não pode fazer muito a não ser pegar a capa e mandar selar seu cavalo para sair atrás de do amigo, entretido em outros assuntos que não a segurança da esposa porque ainda estava zangado com a discussão que tiveram.

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⏰ Última atualização: Jan 24, 2018 ⏰

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