O capítulo de hoje será narrado por uma pessoa especial: Clare Mitchell, a mãe biológica de Ronnie. Espero que gostem!
Clare
"Você nunca acha que alguma coisa pode acontecer, até que um dia ela realmente acontece e você fica sem direção."
Essa é a coisa mais estranha, surreal, desconcertante e parecido com um sonho insano ou algum dos episódios que eu escrevo para meu seriado que já me ocorreu. Eu não sei porque fico tão chocada com o que aconteceu, afinal de contas, eu sempre soube que este momento poderia chegar desde o dia em que assinei aqueles papéis e concordei com os termos, eu estava absurdamente ciente de que ela havia completado 18 anos no dia vinte e dois desse mês. Eu nunca consegui esquecer essa data e mesmo dezoito anos depois eu não estava preparada para ver de novo seu rosto e ouvir sua voz, ver seus olhos e tocar seu cabelo, se ela deixasse, é claro.
Deve ter sido fácil para ela me encontrar, assim que completasse os sonhados 18 anos poderia entrar em contato com o orfanato em Indianópolis e pedir minhas informações de contato, nome, endereço e idade que eu atualizava todos os anos para cumprir com minha obrigação. Eu não precisava fazer isso se quisesse – poderia ter escolhido o anonimato – ter entregue ela a adoção e nunca mais saber notícias suas e seguir minha vida, então, eu ainda não sei o porquê fiz essa escolha, talvez foi para tentar amenizar a minha culpa de dá-la a adoção ou por pena de quando ela crescesse e não soubesse quem a gerou e nunca ver o rosto de seus pais biológicos. Mas bem lá no fundo eu sentia que quando concordei com isso eu tinha a intenção de tê-la perto de mim outra vez, de poder vê-la e tocá-la outras vezes.
Se tenho certeza de uma coisa é que nunca imaginei que ela viesse mesmo me procurar. Eu certamente não podia imaginar que isso iria acontecer de uma hora para a outra, passado da meia noite numa cidade onde visitas não sobem sem serem anunciadas e nem mesmo amigos próximos podem fazer isso. Ainda mais depois de uma discussão com meu namorado. Eu não sei o que falar com ela e nem por onde começar, mas preciso dizer alguma coisa, porque ela me olha esperando que eu fale.
Em meio a um frenesi de emoções, deixo que ela entre, pendurando silenciosamente sua jaqueta Lacoste no armário do vestíbulo e colocando sua bolsa em um cabide próximo, mas ela recusa e diz que prefere segurá-la. Observo sua roupa por um momento e posso ver que são de grife, alguma delas são as mesmas que eu visto. Fico olhando para ela sem graça não sabendo para onde levá-la e então percebo que ainda estamos no escuro na minha sala e peço que ela sente enquanto ligo a luz. Não sei se a sala parece um lugar formal demais para ela mas eu me sinto confortável ali.
Diminuo e aumento as luzes até achar uma luminosidade adequada e que não fira meus olhos nem irrite minha cabeça. Quando me volto para ela, vejo que continua parada em pé, faça um gesto em direção ao sofá enorme da sala. Ficamos de lados opostos uma da outra e ela me olha esperançosa, talvez até apreensiva. Não sei dizer quem estava mais abalada com tudo isso, estava me sentindo novamente com 18 anos e não sabia como conduzir a situação.
Procuro desesperadamente algo para dizer, algo que a deixe tranquila e confortável, mas como não consigo pensar em nada significativo, o que me deixa mais nervosa então, eu peço:
__ Você está com fome? – digo dando uma olhada para a bancada da cozinha e imaginando se tenho alguma coisa que ela goste além garrafas de água aromatizada, alface italiana, iogurte grego e caviar, talvez eu devesse ter passado em alguma padaria ou café para comprar bolo como fazia todos os sábados à noite.
__ Não, obrigada – ela responde um pouco decepcionada, imagino que não era exatamente isso que ela gostaria de ouvir como boas-vindas.
Então, me pego pensando no seu nome "Veronnica", ela ainda usava o nome que eu dei a ela quando nasceu em homenagem a minha vó, não consegui imaginar o porquê de os pais manterem o mesmo nome já que quando a adotaram podiam escolher o que quisessem, aquela era sua filha. Assim que pensei nisso me conti para não perguntar sobre eles, os seus pais. O que faziam? Trabalhavam? Eram religiosos? Talvez tivessem partido político? Ela tem irmãos? E principalmente, de onde ela vem? Tiro conclusões de que a família deve ser rica, pois ela se veste bem e é bonita. Mas evito falar isso de cara, pois parece ser invasivo demais e demonstra que eu estou com supostos ciúmes da família que a adotou, exatamente porque percebo que sinto uma ponta de ciúmes sim, pois eles puderam ver ela crescer, ter o primeiro dentinho, dizer a primeira palavra e quem sabe encontrar o primeiro namorado?
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Em busca da felicidade
RomanceLIVRO 1 Veronnica Victoria Horan, ou mais popularmente, Ronnie é uma garota sonhadora que está prestes a completar os tão esperados dezoito anos. Essa idade, além de ser um marco inicial para a vida adulta lhe dá a grande oportunidade de conhecer...