Capítulo 1 - 100%

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Depois de uma boa caminhada, cheguei finalmente em casa. Coloquei a chave na fechadura e abri a porta. O ar dentro de casa estava mais aconchegante do que o calor que estava no lado de fora. Meu pai, Alex, estava dormindo no sofá. Ele havia abandonado a serralheria e se tornou ajudante de fazendeiro. Um trabalho muito mais pesado do que a serralheria, mas era a única coisa viável em Wourtefill. Larguei minha chave em cima da mesa e entrei no meu quarto. Joguei minha mochila de pano no chão e me esparramei na cama. Meus olhos se mantiveram abertos por pouco tempo. Eu estava tão cansado que adormeci mesmo com a luz do sol batendo em meu rosto.

Quando finalmente meus olhos se abriram, estava de noite. Levantei-me sobressaltado. Até mesmo eu me assustei com o tempo que dormi. Incrivelmente, mesmo tendo dormido a tarde inteira, ainda estava com sono. Bocejei e deixei os dedos do meu pé tocarem o chão gelado. Meu estômago roncou de fome. Me levantei e fui até a porta, mas imediatamente retornei quando percebi que eu ainda estava usando as roupas de escola.

Quando eu finalmente me troquei, entrei na cozinha. Meu pai estava lavando louça e pude sentir o cheiro do sabão de coco metros de distância.

- Finalmente acordou. Dormiu a tarde inteira! – Falou meu pai secando o prato e olhando para mim como se eu tivesse algum tipo de doença contagiosa.

Peguei um pão dentro da cesta. Para a minha alegria, estava bem quente. Pão fresco é a melhor coisa do mundo. O banquete dos deuses servido aos humanos.

- Realmente eu perdi a ideia do tempo. – Concordei cortando o pão. – E eu ainda estou cansado. Acho que vou comer e depois dormir de novo.

Pude ver meu pai olhar com espanto para mim através da visão periférica.

- Está com alguma doença? – Perguntou incrédulo ao fato de eu ainda estar cansado.

- Eu não! – Respondi deixando um pouco de irritação escapulir na voz.

- Parece! – Afirmou ironicamente e voltou a lavar os pratos.

Olhei para ele de cara fechada. Eu apenas estava cansado, qual era o problema nisso? Dormir é uma coisa normal para um ser humano. Mas ele sempre pegava no meu pé quando eu dormia demais. Sempre repetia o velho discurso que me dava tédio só de imaginar escutando-o. Que eu pareço um vagabundo e coisas do gênero. Mas eu pouco me importava com o falatório dele. Mesmo sendo um pai chato, sei que ele só quer o meu bem.

- Como foi o trabalho hoje? – Perguntei mordendo o pão.

Ele abanou as mãos secando-as e as esfregou em um pano seco. Pegou um pão e se sentou cortando-o.

- Acho que o fazendeiro John vai ter problemas com o reino. Algumas vacas fugiram e com toda certeza do mundo vão invadir as casas para roubar comida se eu e ele não as encontrarmos amanhã. – Respondeu Alex não conseguindo evitar a preocupação emergir em sua voz. – Não quero nem imaginar o que vai acontecer se não conseguimos encontrar elas.

- Já tentaram ver o rio Hudson? – Questionei se lembrando daquele enorme rio que ficava perto da fazenda em que ele trabalhava. – Eu me lembro que uma vez, quando eu fui trabalhar com você na fazenda, deixei uma vaca fugir sem querer e ela foi pastar perto deste rio. Por algum motivo aquelas vacas gostam muito do rio Hudson.

- Você tem razão. – Concordou Alex pensativo. – Eu e John nos esquecemos desse detalhe. – Alex olhou para Alexander com um sorriso de orgulho estampado no rosto. – Já vi que alguém nasceu para liderar.

Bufei, desviei o olhar dele e fitei a parede. Não gostava de que me dissessem que eu sou um bom líder, pois quando eu precisei ser, falhei. Eu sempre me culpei pela morte da minha mãe. Se eu tivesse tirado ela do quarto, talvez estivesse viva até hoje mesmo os médicos dizendo que ela não sobreviveria por muito tempo. Meu pai bufou e desmanchou o sorriso no rosto. Ele sempre me interrogava o porquê de eu agir daquela forma quando ele dizia que eu sou um bom líder, mas hoje parecia impaciente para fazer isso.

Gárgula - O destino começaOnde histórias criam vida. Descubra agora