Capítulo 2 - 100%

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Enquanto isso, na sala do Trono de Gárgula, uma sala gigantesca cheia de pilares de ouro, um tablado enorme com um trono de ouro e ao lado uma cama e algumas prateleiras ocultadas atrás dos pilares, o rei estava encapuzado e girava um anel em sua mão brincando com ele. Repentinamente, Gremos surgiu no meio do tapete vermelho através de uma cortina de fumaça e ajoelhou-se imediatamente.

– Mestre, ele não quis acreditar em sua profecia. – Disse o Sacerdote ajoelhado e de cabeça abaixada.

– Levante-se Gremos – Ordenou o rei impaciente. – Ele acreditando ou não na profecia não irá muda-la. Alexander não tem este poder.

– Eu sei, mas talvez não tenhamos tempo suficiente para que ele descubra isso. – Exclamou o Sacerdote se levantando.

– Você é ou não um sacerdote? – Ironizou o rei. – O destino faz com que tudo aconteça na hora certa. – O rei jogou o anel no chão e ele ficou girando várias vezes. Enquanto girava, a palavra DESTINO foi sendo projetada em um holograma acima do anel girante.

– Sim, eu compreendo Vossa Majestade. – Falou Gremos olhando para o anel e depois novamente para o rei. – Mas você sabe muito bem que o Destiny, mesmo preso no inferno, consegue influenciar o destino. Ele é muito forte. – Insistiu o Sacerdote com uma preocupação no rosto.

– Então vamos usar outra arma contra Destiny. – Argumentou o rei com uma melancolia em sua voz. – Vamos ter esperança! – Afirmou com uma força de vontade resplandecente.

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Alexander e seus amigos, duas horas depois, não estavam nem na metade do caminho. Só era possível escutar o barulho dos cavalos trotando e da roda em atrito com as pedras da estrada, mas não era possível escutar um único som da voz de qualquer um deles. As horas foram se passando, o dia acabando e a noite chegando. Alexander ainda estava desnorteado com tudo que havia acontecido no castelo e com um pensamento terrível ainda em sua mente. Porém, depois de tanto tempo, uma pequena gota de lágrima caiu de seu rosto. Os amigos dele até tentaram insistir novamente em perguntar o que houve no castelo e do porquê da lágrima, mas sem sucesso nenhum. A única coisa que Alexander fazia é olhar sem rumo para as estrelas que eram possíveis avistar através da porta da carroça. E fazer aquilo estava fortalecendo o pensamento. Sua mãe agora é uma estrela filho, disse seu pai naquele horrível dia. A frase lhe atormenta desde então. Por mais que soubesse que isso é apenas uma metáfora para Sua mãe está morta, Alexander olhava para o céu todas as noites e sentia que sua mãe também estava o olhando seja de onde for que ela esteja. Mas, ao mesmo tempo, quando mais olhava para o céu, mais sentia falta dela.

Muito tempo se passou, e a carroça parou perto da casa de Alexander. Sem falar nada com os outros, desceu as escadas da carroça, colocou a mão na maçaneta da porta de sua casa e tentou abri-la, porém estava trancada. Alexander bateu na porta até que se ouviram os passos de seu pai se aproximando. A porta se abriu lentamente; era seu pai abrindo a porta. Quando o pai de Alexander viu seu filho em sua frente com a cabeça abaixada e uma carroça com guardas do reino atrás, sua primeira reação foi puxa-lo para dentro. No interior da casa ficaram abraçados por minutos que pareciam horas em frente à lareira queimando um tronco que foi colocado há pouco tempo. Até que certo momento, o pai dele parou de abraça-lo, colocou a mão em seu rosto e perguntou:

– Você está bem filho? – Questionou Alex com um alívio no rosto por ver seu filho. Ele havia entrado em desespero quando um mensageiro do reino veio informar que os soldados haviam levado ele e seus amigos para uma conferência com o sacerdote do rei.

– Estou pai. Não aconteceu nada demais. O sacerdote apenas quis dizer uma mensagem da minha mãe. – Mentiu Alexander com uma lágrima descendo o seu rosto por causa do pensamento.

– Mas se está tudo bem, por qual motivo você está chorando? O que fizeram com você? Qual era a mensagem? – Questionou Alex preocupado olhando para ele em procura de qualquer ferimento.

Alexander virou a cabeça em direção a um porta-retratos com a pintura em preto e branco dele, seu pai e sua mãe rindo e unidos. Aquela foi a primeira vez que foram para uma praia de Gárgula. Aquele dia foi o melhor da vida dele e, agora, olhar para aquela pintura e se lembrar daquele dia, apenas trazia sofrimento. Alexander começou a chorar desesperadamente e agarrou seu pai com toda a força do mundo abraçando-o para tentar se consolar.

– Eu sinto tanta falta dela pai! – Disse Alexander aos prantos.

– Eu também sinto Alexander. – Disse Alex tentando encontrar as melhores palavras possíveis para acalmar seu filho. – Mas eu tenho certeza que ela queria ver a gente feliz e não chorando por causa dela. – Argumentou Alex abraçando o seu filho com mais força. Ele também se sentia triste quando se lembrava de sua esposa, mas sempre foi forte e queria que o filho aprendesse a ser forte também. Sabia que a vida o derrubará um dia caso ele não aprenda ser forte.

– Eu sei que ela não queria, mas a saudade é grande. – Disse Alexander soltando seu pai. Ele respirou fundo e decidiu ir para o quarto. – Eu vou me deitar para dormir porque estou muito cansado... e preciso de um tempo sozinho para pensar.

– Tudo bem filho. Vá dormir. Mas não se esqueça de que amanhã tem aula cedo. – Disse Alex com a mão no ombro de seu filho. – Mesmo por tudo que aconteceu você vai amanhã. E quero que me conte tudo o que o sacerdote lhe disse sobre sua mãe quando chegar.

– Está bem, pai. Eu conto amanhã. – Exclamou Alexander caminhando até seu quarto

Alex sentou-se numa cadeira e ficou olhando vidrado para o porta-retratos deles. Em Gárgula, pinturas pessoais eram coisas caras e sem cor. Mesmo assim, as suas lembranças coloriam aquela imagem perfeitamente. Ele imaginou novamente aquele dia e a risada de sua esposa. De Alexander e ela correndo juntos pela areia e ele tentando acompanha-los mesmo que sem folego. Sentia falta daquilo tudo. E imediatamente o pensamento de sua esposa sem os batimentos cardíacos retornou em sua mente. Alex respirou fundo e deixou que lágrimas brotassem do seu olho pela primeira vez depois de anos.

Já era tarde da noite, mas Alexander ainda estava deitado olhando para o teto. Estava sem sono e completamente desnorteado. Ele segurava uma moeda de ouro que guardava com tanto esmero e cuidado. Aquela moeda fora dada a ele por sua mãe no dia em que Alexander entrou pela primeira vez para a escola. Quando sentir minha falta, pegue-a. Assim você e eu nunca ficaremos afastados. Ele lembra perfeitamente de sua mãe levando-o até a porta da sala de aula com um sorriso enorme em seu rosto. Estava orgulhoso de seu filho ir estudar, coisa que ela não havia conseguido em sua vida. Aquela moeda de ouro também pertenceu a ela. Fora dada por seu pai no dia da morte dele e cuidou dela até dá-la para Alexander. Ele virou a moeda com os dedos e olhou para a espada dourada, brasão do rei e estandarte de Gárgula. Alexander se lembrou novamente do que Gremos havia lhe dito sobre a profecia. Talvez não fosse maluquice do sacerdote. Aliás, ele era um sacerdote. Sabia muito bem do que dizia. Mas ele não estava pronto para arcar com uma responsabilidade tão grande de ter a salvação de Light Font em suas mãos. Dá última vez que alguém dependeu dele, deixou-a morrer no meio das chamas. Se ele ao menos tivesse puxado sua mãe, a pessoa mais importante de sua vida, para a sala, ela talvez ainda estivesse viva até hoje tentando conviver com tumor até que ele a matasse. Alexander deixou que as lágrimas descessem seu rosto e tocassem seu cobertor. Ele não estava pronto e não iria aceitar mais nenhuma responsabilidade que vidas dependessem disso. Alexander sentiu sua consciência sendo puxada e adormeceu.

Gárgula - O destino começaOnde histórias criam vida. Descubra agora