Capítulo 4 - 50%

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Alexander estava cutucando a lareira como se fosse um mendigo no inverno quando Gustavo entrou no quarto. Fechou a porta calmamente e desconfiado. Nem mesmo o fato da porta batendo despertou a atenção de Alexander que permaneceu cutucando as lareira. Gustavo aproximou dele, e questionou:

– O que... está fazendo?

– Tentando encontrar a chave. – Respondeu Alexander sem olhar para ele. Estava tão vidrado no fogo como se sua vida dependesse daquilo.

– Eu acho que seria um pouco difícil esconder a chave dentro dessa lareira. – Refletiu Gustavo tentando fazer com que Alexander parasse com aquela besteira. Mas nada adiantou. Ele permaneceu mexendo na lareira com a aste de ferro.

– Maravilhoso! – Exclamou Marcos entrando no quarto. Apenas Gustavo olhou para ele. – Esse guardinha está pensando que é quem pra fazer esse tipo de coisa? Ele simplesmente nos humilha como se estivéssemos felizes de estar aqui e ainda por cima acha que devemos decifrar enigmas. Era só o que me faltava.

– Ele é... um súdito de confiança do rei. Apenas isso é suficiente para que ele dê ordens. –Observou Gustavo.

– Tanto faz! – Marcos abanou as mãos e olhou para Alexander que ainda cutucava a lareira inutilmente. – O que você está fazendo? – Indagou também desconfiado.

Alexander jogou a aste de ferro para o lado percebendo que estava inutilmente cutucando a lareira. Sentou-se e apoiou as mãos no joelho enquanto encarava as chamas dançantes.

– Esquece! – Respondeu Alexander decepcionado.

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– Mas o fogo sentirá. – Recitou Bruno sentado de frente a lareira de seu quarto. Pensou algum tempo sobre aquelas palavras. – Isso não faz o menor sentido.

E realmente não fazia nenhum sentido lógico naquela afirmação. Mas, para Bruno, havia alguma coisa querendo ser dita naquelas palavras além da primeira interpretação que teve.

Pensou no que havia acontecido há pouco tempo. Nexus havia diante de seus olhos atirado um vaso de flores contra o chão sem que o tocasse. Tudo aquilo que apenas tinha visto em livros de contos havia se realizado simplesmente em alguns segundos. Bruno sempre viveu no mundo de fantasia com medo de lidar com o mundo real, mas não estava preparado para ver tudo aquilo que os outros julgavam ser falso acontecer na sua frente. Memórias de sua mãe contando estórias para ele dormir retornaram e o deixou triste. Lembrar-se da última vez que a tinha visto foi como passar uma faca dentro de seu coração vagarosamente.

Uma lágrima brotou ardendo em seu olho. Escorreu lentamente fazendo cócegas por onde passava. Bruno abaixou os olhos para o chão com as memórias cada vez mais fortes. Sentia nojo de seu pai por todas as noites que sofreu com os gritos de sua mãe. Sentiu medo quando se lembrou dos olhos negros de Alex e de seu pai.

– A fonte d'água. – Sussurrou uma voz vibrante e fraca vindo da direção das chamas.

Bruno olhou em direção de onde havia vindo aquela voz. Nada havia além de troncos velhos colocados há muito tempo queimando. E aquilo só serviu de espanto para Bruno. Era como se as chamas tivessem sussurrado para ele. E mais estranho de tudo era que Bruno, depois do espanto, não sentiu medo, e sim conforto como se as chamas fossem amigas de muito tempo.

– Mas o fogo sentirá. – Recitou Bruno novamente. Agora sua voz ressoava com absoluto entendimento. – A fonte d'água. – Bruno levantou-se e saiu correndo. ♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠

Alexander agarrou o cadeado da caixa de madeira e tentou força-lo. Marcos e Gustavo seguraram no braço dele e tentaram ajudar. Por algum motivo, mesmo com a maior força do mundo, a caixa de madeira não se quebrava. Eles tentaram chutar a madeira na parte mais frágil e todos os chutes não causaram nem si quer uma única fresta. Assim que Gustavo percebeu o quanto inútil estava sendo aquilo, sentou-se no chão totalmente sem esperança.

– Desisto dessa palhaçada. – Gustavo apontou para a caixa. – Nem mesmo si quer ela se move. Do que vai adiantar chutar esta porcaria?

A força que Alexander e Marcos usavam contra a caixa era tanta que já estavam ofegantes. Alexander persistiu outro chute e, vendo que Gustavo estava certo, sentou-se ao seu lado.

– Não acredito que vou ter que passar por isso todo dia agora. Se eu soubesse disso, jamais teria vindo pra esse lugar. – Disse Alexander desanimado.

Nenhum dos outros disse um único comentário sobre aquilo. Tocar naquele assunto era delicado demais para os irmãos. Marcos se limitou a olhar para o outro lado escondendo as lágrimas que haviam brotado em seus olhos. Gustavo se perdeu em várias memórias desordenadas. Mas, para a sorte deles, Bruno entrou rapidamente no quarto de Alexander carregando um chaveiro molhado com quatros chaves em suas mãos. Sua respiração estava totalmente ofegante.

– Bruno? – Perguntou Marcos retoricamente percebendo que havia esquecido totalmente dele. – Onde você... estava?

– No meu quarto. – Respondeu Bruno rapidamente e passando por Marcos.

– Que chaves são essas? – Indagou Marcos desconfiando de que aquelas eram as chaves para o cadeado da caixa de madeira, mas manteve-se quieto.

Bruno apenas ignorou a pergunta dele e começou a testar chave por chave no cadeado. Assim achou a chave certa fazendo um estalo, jogou-o o mais longe que pode e levantou a tampa da caixa deixando todo o restante surpreso. No fundo, uma armadura de ferro e totalmente detalhada reluzia mostrando o quanto era nova.

– Onde estava a chave? – Questionou Gustavo e Alexander em uníssono enquanto se levantavam do chão.

– Na fonte d'água. – Respondeu Bruno como se aquilo não houvesse a mínima importância. Ele olhou para Alexander. – Vista a sua armadura enquanto pego as outras. – Bruno sinalizou para Marcos e Gustavo. – Vamos rápido!

Antes mesmo que eles respondessem, Bruno retirou-se rapidamente do quarto deixando várias perguntas na cabeça de Alexander. Marcos e Gustavo se entreolharam completamente desconfiados. Mesmo que tudo aquilo fosse estranho, não iriam ser úteis se olhando. Correram até os seus quartos acompanhando Bruno.

Gárgula - O destino começaOnde histórias criam vida. Descubra agora