Capítulo 3 - 25%

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As horas se passaram e a aula terminou. Entretanto, naquele dia, eles tiveram que ficar até mais tarde na escola por causa de um projeto de sustentabilidade que a escola estava fazendo junto com os alunos, e eles eram praticamente obrigados a participar. O projeto terminou assim que começou a escurecer. Alexander e os outros estavam indo para a sua casa fazer o trabalho de Robson, porém no meio do caminho resolveram parar na sorveteria da tia de Alexander para saborear um sorvete de menta, chocolate e flocos. Vicktória tinha os melhores sorvetes de todo o reino.

– Bom apetite garotos! – Desejou a tia de Alexander tirando os potes de sorvete da bandeja e colocando-os na mesa.

– Obrigado tia Vicktória. – Agradeceu Alexander com um sorriso enorme no rosto. Seus olhos brilharam quando viu os potes de sorvete.

– E como vai seu pai Alexander? – Questionou Vicktória sentando-se a mesa para descansar um pouco.

– Ele está bem e está pensando em ir a sua casa qualquer dia. – Falou Alexander sorrindo para ela, pois a simpatia de Vicktória resplandecia. Alex sempre lhe dissera que sua tia um dia poderia se torna rainha, mesmo que soubesse que isso é uma impossibilidade para plebeus.

– Fale para ele ir logo que eu não mordo ninguém. – Brincou Vicktória com uma risada.

– Pode deixar! – Respondeu Alexander rindo da piada de sua tia.

Vicktória olhou para os irmãos que estavam mais quietos do que o normal e não estavam nem si quer sorrindo. Vicktória sabia que o pai deles era apenas um bêbado. Ele sempre atormentava a freguesia da sorveteria dela quando estava passando com uma cerveja na mão por perto.

– E vocês meninos, como vão os pais de vocês? – Perguntou Vicktória só para ver o que eles iriam dizer.

– Estão bem! – Disse Marcos olhando para o lado como se estivesse mentindo

– Então tá. – Disse Vicktória com um tom de ironia e voltou para a bancada da sorveteria.

Minutos depois que eles terminaram de atacar os sorvetes, decidiram continuar andando. Depois de devorarem o sorvete, os irmãos estavam parecendo mais alegres. Gustavo já estava novamente contando piadas sem graça que fazia apenas Bruno e Marcos rirem enquanto Alexander ficava sem entender o que ele queria dizer com elas. Para não ficar com fama de lerdo, ele deu uma risada falsa para fingir que havia entendido a piada, mas na verdade não tinha compreendido nada. No meio do trajeto, enquanto Gustavo contava mais uma gracinha, ele tropeçou no próprio pé e caiu de cara no chão. Ninguém tentou ajudar ele, todos ficaram gargalhando. Ele se levantou revoltado.

– VOCÊS NÃO SABE AJUDAR OS OUTROS NÃO? – Berrou Gustavo se limpando ferozmente.

– Você nunca ajuda ninguém quando sofre um acidente, Gustavo. – Brincou Alexander liberando mais gargalhadas.

Ele respirou fundo de raiva e continuou andando a passos firmes. Os outros o acompanhou tentando segurar a vontade de continuar rindo. Gustavo parou de fazer piadas ridículas por todo trajeto e permaneceu de cara emburrada.

Quando estavam chegando bem perto da casa de Alexander, eles viram uma luminosidade diferente na casa. Também sentiram um cheiro de queimado. Alexander não sabia o que estava causando aquela luz forte na casa dele, semicerrou os olhos tentando conseguir ver o que estava acontecendo. Aos poucos foi percebendo e ele começou andar mais rápido na frente dos outros até perceber que estava correndo. Ele correu mais rápido e mais rápido até chegar bem perto da casa e ver que a luminosidade e o cheiro eram porque a casa dele estava em chamas. Alexander correu com toda velocidade que conseguia correr e suas pernas ficaram bambas. Estava desesperado. Ele deu um chute na porta com a força que tinha nas pernas e a arrombou. A velocidade tinha lhe ajudado a arromba-la com muita facilidade. Alexander pegou a porta quebra com muita força e tirou-a do caminho. Ele entrou no corredor e viu o pai deitado no sofá da sala da mesma forma que havia deixado ele mais cedo. O pai incrivelmente ainda estava dormindo mesmo com as chamas por todos os lados. Alexander entrou em pânico. Ele não podia deixa-lo ali, caso contrário ele iria morrer. Ver o pai dele no meio da sala em chamas fez com que ele ficasse desesperado. Não havia como Alexander passar pelo corredor porque havia um relógio pegando fogo barrando a passagem.

– PAI!!! ACORDAA. – Gritou Alexander desesperado e tentando apagar as chamas do relógio para então empurra-lo e salvar seu pai.

Alexander tentou várias vezes gritar seu pai em uma tentativa frustrada e sem sucesso de acorda-lo. Seu grito ecoava com um desespero enorme. Ele não ia suportar ver o pai dele morrer como a mãe havia morrido. Ele não aguentava perder mais ninguém. Ele tinha que ajudar Alex. Mesmo que Alexander não quisesse aceitar mais nenhuma responsabilidade que alguma vida dependesse dele, o destino havia encarregado de obriga-lo a agarrar a responsabilidade de salvar o pai. Alexander tirou a camisa e ficou chicoteando-a no relógio para tentar apagar as chamas. Viu que não ia ter sucesso naquilo, então colocou a camisa e jogou o ombro contra o relógio várias vezes. O calor das chamas chamuscou sua camisa e queimou seu ombro, mas a dor pouco importava. O importante naquele momento era a vida de seu pai.

De repente, Alexander escutou a gargalhada distorcida do pai. Uma risada tão profunda e monstruosa que gelou seu coração. Alexander olhou assustado entre um espaço minúsculo que o relógio não estava ocupando e viu o pai dele de pé. Alex estava gargalhando de alguma coisa que ele não sabia o que. Aquilo estava ficando fora do normal.

– PAI, SAIA DAÍ IMEDIATAMENTE!!! – Gritou Alexander. Marcos, Bruno e Gustavo entraram e viram também o pai dele de pé ressoando uma gargalhada monstruosa. A vontade de Bruno ao escutar aquilo era tampar os ouvidos, se agachar e chorar de medo.

Alex começou abrir os olhos lentamente enquanto a tábua de sustentação do teto acima dele pegava fogo. Aquilo não era normal... Os olhos de Alex estavam negros como o céu sem estrelas, e com lágrimas mais negras ainda descendo pelo rosto e pegando fogo ao tocar o chão de granito. Uma voz grossa, rouca e fora dos padrões normais começou a sair de Alex.

– Vamos sofrer mais um pouco filho? Ou melhor, um dos quatro escolhidos. – Uma risada macabra saiu de Alex e ecoou. Depois se concentrou nos três irmãos, continuou. – Os próximos serão vocês três, escolhidos da profecia.

A boca de Alexander secou completamente de medo quando viu aquela anormalidade em seu pai. Ficou tão seca quanto um deserto. Ficou sem reação e em estado de choque. Aquilo estava anormal, mas ele não sabia o que fazer. A tábua de sustentação foi se quebrando e estalando enquanto queimava. Quando Alexander escutou o estalo vindo da madeira, foi tarde demais. Ela se rachou e o teto caiu em cima do pai dele matando-o definitivamente. Mas antes os pedaços do teto atingir sua cabeça e esmaga-lo, Alex deu uma gargalha estridente.

– PAI !!! – Gritou Alexander desamparado. Marcos puxou Alexander e os irmãos para fora antes que o restante da casa desabasse e eles também fossem esmagados. Uma coluna de poeira ergue-se em todas as direções.

Alexander não acreditava que aquilo estava acontecendo novamente. Ele se ajoelhou no chão aos prantos enquanto gritava desesperadamente. A mãe dele havia morrido pelas chamas anos anteriores e agora seu pai estava morto. Os vizinhos apareceram imediatamente por causa do estrondo do teto desabando. Eles pareciam não ter visto e nem ter ouvido o crepitar das chamas. Alexander se jogou no chão chorando com sua respiração fragilizada pela tristeza. Bruno tentou consola-lo, mas de nada adiantou. Alex era importante para ele assim como a mãe foi e agora estava morto. Ele era a única pessoa que entendia a sua dor e agora ele tinha se transformado numa outra dor que se juntou ao sofrimento já existente desde a morte de sua mãe e se tornou um vazio de trevas dentro da alma dele. Alexander sentiu-se caindo em um buraco sem luz e sem fim. Seus pensamentos se esvaíram como água de um copo quebrado. Estava em estado de choque e a única coisa que fazia era chorar e rolar no chão.

Gárgula - O destino começaOnde histórias criam vida. Descubra agora