Capítulo 4 - A Carol

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Um indefeso goblin ajoelhava-se perante uma rainha nobre com um manto feito magicamente a partir de cristais de diamante negro. O vestido era tecido por fios magníficos. A coroa em sua cabeça reluzia o esplendor de suas joias. A rainha era muito semelhante a uma leoa-humana. O pelo alaranjado e desbotado corria por todo o seu corpo. Seus olhos de fera estavam dilatados como se estivesse avaliando sua presa. Ao lado dele, pilares de ouro se erguiam até se perder de vista no teto curvado de mármore. O tapete vermelho parecia ter sido bordado com pedras avermelhadas e se estendia do grande portão até acima do tablado na frente do trono esculpido de diamante negro. As orelhas pontudas do goblin pareciam agitadas por algum motivo.

– O que você fazes aqui Gordx? – Questionou Carol deixando que o desprezo ressoasse em sua voz. Um leve rosnar ecoou dentro de sua garganta.

– Vossa Majestade... – Disse Gordx desajeitado, mas imediatamente se calou. As palavras pareciam não sair de sua boca. O medo que sentia pela rainha era maior que a vontade de dita-las.

– Desembucha Gordx, você tem alguma informação sobre os meus atuais desejos? – Perguntou novamente com a raiva crescendo e apertando o trono com força evitando que explodisse de ira.

– Não, Sua Majestade... – Respondeu o Goblin com vontade de cavar um buraco e enfiar-se dentro dele. O medo que estava sentido pela rainha se estampava nitidamente em seu rosto e olhos.

– VOCÊ NÃO TEM NENHUMA INFORMAÇÂO? – Gritou Carol interrompendo o Goblin. A rainha se levantou rapidamente como uma águia indignada com a perda de tempo que ele havia causado. – Quantas vezes eu terei que dizer para vocês não me incomodar até que me trague qualquer informação sobre um possível portal? SUAS PRAGAS IMUNDAS! – Berrou Carol com uma ira que assustou Gordx. Ela levantou-se do trono e deu alguns passos firmes para frente como uma derradeira rainha.

Carol levantou a mão rapidamente como uma cobra dando o bote em sua presa. Um feixe de luz cruzou o interior de sua mão fechada e, quando a luz desapareceu, um enorme machado vermelho com pontas de ferro e joias magníficas se balançava com sua mão. A ponto do machado reluziu quando Carol levantou-o mais ainda apreciando sua beleza.

– Vou lhe mostrar uma lição que jamais irá esquecer em toda a sua vida medíocre. – Ameaçou Carol mirando o machado no goblin com um brilho de prazer nos olhos. Em certos momentos, parecia excitar como se o que fosse fazer também lhe causasse remorso. Mas, relutante, apertou com mais força o cabo do machado.

Palavras em línguas estranhas vindo de algum lugar foram sussurradas enquanto um feitiço emergiu da ponta do machado e avançou contra Gordx que tentou correr, mas inutilmente. A magia atingiu-o e lançou-o o mais longe que pode. Enquanto o goblin voava no ar, Carol virou-se na direção do trono fazendo com que o seu manto dançasse atrás de sua costa. Os seus passos ressoavam contra o tablado. Quando escutou o barulho do impacto do goblin contra a parede de mármore, virou-se rapidamente e estendeu o machado para frente. Um raio ricochetou contra o chão em sua frente e, da explosão de faíscas, tecidos de carne, nervos e, depois de muito tempo, um tecido de pele verde surgiu lentamente enquanto o ser que se formava grunhia de dor. Quando finalmente a tortura acabou, Gordx tentou respirar o máximo que podia. Porém, os pulmões dele estavam sentindo tanta dor que era difícil sugar um único fio de ar. Carol parecia se esforçar para ser fria como uma pedra. Sentou-se no trono de diamante negro ignorando totalmente os grunhidos de dor do goblin. Ela bateu os dedos contra o diamante tentando encontrar uma ideia de retirar as informações do goblin em todos os detalhes sem que perdesse o seu precioso tempo. Repentinamente, um sorriso estranho se estendeu de uma ponta a outra.

Ela levantou-se do trono calmamente enquanto os arquejos de Gordx ficavam cada vez mais fortes ao ponto de se tornarem gemidos fortes. Chegou bem perto e agachou-se ao ponto de ficar cara a cara com o goblin que apertava os próprios olhos com força de tanta agonia que sentia. Carol ergueu o dedo abaixo do queixo dele e forçou lentamente a cabeça para cima. Quando os olhos de ambos ficaram pertos, uma energia vermelha e estranha emergiu dos olhos de Carol e adentrou os de Gordx. O goblin abriu vagarosamente seus globos oculares esquecendo totalmente a dor que estava sentindo. Carol afastou-se sorrindo e sentou-se novamente no trono.

– O que você veio fazer aqui? – Questionou Carol menosprezando-o com o seu olhar.

– Não temos informações de um portal, mas encontramos um Oráculo infiltrado no exercito. – Respondeu Gordx vidrado em Carol e sua voz sem sentimento algum. No interior de seus olhos, uma energia vermelha dançava de um lado para o outro.

– E você não o trouxe até aqui por qual motivo? – Indagou com o sentimento de surpresa e ira misturado.

– Preferiam que eu avisasse Vossa Majestade antecipadamente. – Respondeu Gordx não temendo mais Carol. Parecia que todo medo havia se tornado respeito.

Gordx sentiu uma vontade incontrolável de se agarrar aos pés de Carol. Rastejou-se pelo chão até a direção do trono como um inseto. Agarrou-a pelos pés beijando-os. Carol sentiu nojo daquilo e chutou-o no rosto com uma força sobrenatural fazendo-o voar uma longa distância pelo Grande Salão. Mas, assim que atingiu o solo criando um enorme eco, ele apenas levantou-se como se nada houvesse acontecido.

– Você tem cinco horas para trazer o Oráculo até aqui. Caso contrário... – Disse Carol e imediatamente estalou os dedos assoviando.

De repente, barulhos de unhas contra o mármore ecoou mais forte do que apenas passos humanos. O barulho chegava a ser insuportável. De trás do trono de Carol, uma enorme cadela de três cabeças emergiu sacudindo os pelos como se tentasse se livrar de uma corrente. A cadela deu alguns passos a mais para frente e deitou-se ao lado de Carol. Ambas olhavam para Gordx como se ele fosse um inseto incapaz de trazer algum dano.

– Bem... – Carol começou a dizer. – Digamos que Maya adora carne de goblins. Você e sua família será um petisco maravilho ao paladar dela. – Disse Carol com um sorriso macabro. Maya uivou com a cabeça do meio enquanto as outras duas salivavam. O som do uivo era como várias facas cortando os ouvidos de uma pessoa.

A energia vermelha que dançava nos olhos de Gordx se perdeu em um vazio de negro sem fim. O feitiço havia se quebrado.

– O QUE? MAS CINCO HORAS É MUITO POUCO TEMPO PARA QUE EU CHEGUE ONDE ELE ESTÁ. VOCÊ NÃO PODÉ FAZER ISSO COMIGO! – Gritou o Goblin desesperadamente e tentou correr na direção de Carol.

– GUARDAS! – Conclamou Carol. – Retirem esse inseto da minha frente imediatamente. E Gordx, caso não trague ele no tempo que estipulei, já sabe o que acontecerá. – Disse Carol acariciando a cabeça de Maya com um sorriso.

De repente, seres enormes com asas secas, peles negras, com garras tão afiadas como a faca mais pontiaguda de todo o universo, olhos vermelhos como sangue e dois dentes sobressaltando da boca emergiram de cima de uma pilastra voando e agarraram Gordx pelos braços. O goblin tentou lutar, mas quanto mais força fazia, mais uma ferida se abria por causa das garras que estavam cravejadas dentro de sua carne. O sangue brotou de sua pele verde em fios e jorrou-se em gotas pelo chão. Os vampiros emitiram um som agonizante e arrastaram-no para fora do Grande Salão. De certa forma, a forma que Gordx foi retirado, fez com que um sorriso ergue-se no rosto de Maya.

Assim que os vampiros desapareceram de vista, Carol disse em uma língua estranha. "Quod ad me latet clauderetur" A forma que havia dito aquilo parecia ser um cântico. Rapidamente os portões que haviam sidos encomendados e feitos por magia se fecharam lentamente enquanto ruíam estrondosamente. Assim que se fecharam totalmente, Maya se levantou choramingando. Carol olhou-a com tristeza e acenou com a cabeça.

Gárgula - O destino começaOnde histórias criam vida. Descubra agora