{Capítulo 21}

102 10 4
                                    

Depois do acontecido eu fiquei perplexa, ou melhor dizendo, nós ficamos. Um silencio fez morada naquele ambiente, entre eu a Lisa, as paredes, sua toca, os outros leitos e até uma plaquinha na qual eu não havia observado, na parede ao entrar, escrito: "Oncologia Pediátrica". Ao voltar meu olhar para a garota, pude encara-la como se eu pudesse ver sua alma através de seus olhos verdes brilhantes, olhar esse, vazio, sem ânimo, quase gritando SOCORRO. Uma brisa de ar fresco percorreu o quarto fazendo com que pudesse respirar fundo antes de falar algo, depois de encher e esvaziar meus pulmões as palavras sairam involuntariamente.

Eu:Faz tempo que você está aqui?
Lisa:É...Trê-Três an-anos- Dificuldade na fala
Eu:Cadê seus pais?-puxando uma mexa do cabelo para trás da orelha.
Lisa:Não Se-sei, momo-rava em u-um abri-abri abrigo.

Lau-pe

Quanto mais eu perguntava, quanto mais eu tentava, ficava mais dificil prosseguir a conversa.Além de ter que lutar contra um câncer, ela ainda é de um abrigo?Como pode Deus?

Lisa:Tá pen-pensando em que Laur-Laura?-olhar curioso
Eu:Ah, desculpa.Viajei um pouco boneca, kkkk
Lisa:Kk kk kk
Eu:Tenho um convite pra você, que tal?
Pra quem estava escorada no almofoado da cama, até que se levantou rápido.
Lisa:O que?-Sorriso no canto da boca
Eu:Mas a mocinha tem que me prometer que vai ser segredo.
Lisa:Pro-Prometidinho-Levando os dois dedos em forma de X a boca.
Eu:Então vamos lá-Pulando da cama saltitante e trazendo Lisa em minhas mãos.

Desde o momento que comecei a conversar com aquela garota, eu sabia, mesmo tendo passado pouco tempo perto dos 3 anos dela, que era horrivel e tedioso ficar ali, e era dever meu, bolar algo pra distrai-la e pra até mesmo, me distrair. Enquanto ela falava, mesmo com dificuldade e expressava toda sua dor, eu a entendia, não tão bem, feito ela a si, mas tentava. Sabendo que a noite os hospitais estão mais "quietos" e vários médicos estão descansando, foi ai que veio a ideia, que tal aprontarmos um pouco? Aquela noite entraria com certeza para as melhores coisas já feitas pela Lisa. Depois de fazer grande esforço pra tentar tirar todos aqueles fios que ligavam seu corpo as máquinas, corremos minuciosamente na pontinha do pé para fora daquela Ala, ao chegarmos no corredor escutamos passos, Lisa correu pra se esconder atrás de um carrinho de limpeza, fazendo sinal com a mão pra que eu lhe seguisse, era por volta das quatro da manhã, estava quase amanhecendo e precisavamos por em prática nosso plano, ao ver lençóis dobrados no carrinho da limpeza, fui pegando-os.

Eu:Rápido Lisa, cubra-se com algum desses.
Lisa:Fez sinal de joinha.

Rapidamente eu e ela, estavamos cobertas com lençóis brancos, da cabeça aos pés. O nosso alvo, de acordo com a Lisa seria a Dr. Andréia a qual era super chata e desatenciosa com as crianças. Demos passos lentos e curvadas pra não chamar a atenção de ninguém, ao chegar na porta de sua sala, vimos ela sentada diante de sua mesa, cheia de papeis, esperamos ela dar um descuido, quando o bib soou, indicando que precisavam dela. Direcionou sua mão até ele para desliga-lo, pôs sua mascara de volta ao rosto e saiu rapidamente.

Eu:É agora, depressa!- olhando firmemente
Lisa:O-ok
Eu:Já sei, procure um batom na bolsa dela.
Lisa:Tem cert-certeza?-apreensiva
Eu:Deixa que eu mesmo pego.

Após ter pego o batom, tentei reunir todas as folhas em um amontoado em forma de cruz.No qual eu escrevi "S.O.S for you" de batom vermelho.

[...]

Você deve está se perguntando o por quê eu escrevi "socorro para você" em inglês, e a resposta é, sei lá, acho que dá um toque de terror, sabe.

[...]

Posso afirmar que o lençol atrapalhou na hora do "crime", mas foi realizado com sucesso. Depois de ter levado a Lisa pra sua Ala e me livrado dos lençóis no corredor, corrir pra meu quarto, coloquei todos os aparelhos de volta em meu corpo e antes de adormecer, olhei pela janela e vi que o sol já estava aparecendo, ao desviar o olhar para o lado vi meus pais do mesmo jeito, sentados dormindo um encostado ao outro. Logo a baixo, no tapete, o Guel, só ele mesmo pra tá ali naquele piso frio.

Lau-Pe

Não fiz grande coisa, mas só de ver a Lisa sorrindo, um sorriso tão doce, por algo tão banal, me vi feliz, vi que fui heroina naquela noite, heroina não só de uma garotinha, mas de uma história.

Quase PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora