Gabe:

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Ouço vozes que ecoam e parecem estranhamente robóticas. Abro os olhos e olho em volta, uma luz forte ilumina o que parece ser um quarto, as coisas se movem lentamente, e tem um chiado em meu ouvido, vejo um rosto mas não consigo distinguir. Meus olhos estão pesados, e tem algo atrapalhando meu campo de visão.
Alguém fala algo que não entendo, e então caio no sono novamente.
***

Acordei novamente, e desse vez minha cabeça latejava, e eu sentia o sangue pulsando em meu ouvido, nariz, e boca. Meu olho esquerdo estava inchado, e pesava, minha barriga doía, sempre que eu tentava me mexer, tudo em meu corpo parecia estar prestes a quebrar.

Meu pai estava do lado de fora, falando no telefone, parecia irado, provavelmente deve estar tentando processar alguém, ele não lida muito bem com coisas que ele é incapaz de fazer, como por exemplo: colocar cinco jovens na cadeia por agredirem seu filho.

Eu tentei me levantar mas minha cabeça doeu tanto que caí novamente no travesseiro, direcionei as mãos delicadamente para meu rosto, e senti alguns pontos no nariz, que ainda estava dolorido, minha boca estava pouco inchada, e havia também pontos acima de minha sobrancelha esquerda, que era provavelmente o motivo de meu olho estar inchado. Minha boca estava seca, e minha língua parecia uma esponja inchada, meu pai olhou para dentro e viu que eu estava acordado, e veio em minha direção.

-Ooh Gabriel, ainda bem que você acordou. - Ele passou a mãe em meus cabelos, uma demonstração de carinho estranha vindo de meu pai. - Como se sente?

Ele esperou que eu respondesse, mas eu não conseguia falar, minha garganta estava muito seca, então gesticulei apontando para a jarra e ele entendeu o recado, servindo em um copo plastico, uma pequena quantidade de água, que tomei como se tivesse andado por um deserto por mil anos sem água.

-Com dor. - Disse o mais alto que conseguia, e isso era quase um sussurro. - Quanto tempo?

Ele entendeu o que eu queria saber, quanto tempo eu fiquei ali deitado naquela cama de hospital.

- Dois dias apenas.- Ele disse. - não foi nada muito grave, uma contusão leve.

De repente me lembrei do vídeo, será que ele sabia o motivo?

- O vídeo. - Pensei alto demais, e ele me olhou surpreso.

- Eu vi. - Ele respondeu, mas não me olhando diretamente. - Porque não me contou antes? Eu poderia ter te ajudado filho.

Eu não sabia como lidar com aquilo, minha cabeça parecia ter parado de doer, e o mundo todo congelou, que come de alguém houvesse pausado um filme, para que eu tivesse tempo para pensar, mas eu não conseguia pensar direito, as coisas vinhas de maneira embaralhada e sem sentido.

- Eu sou seu pai, eu posso não ter notado, mas se isso foi a causa do que você tentou fazer algum tempo atrás, eu podeira ter te ajudado. - Ele me olhou, eu podia ver seus olhos molhados, e vermelhos. - Eu queria ter ajudado!

Silêncio. Eu realmente não sabia o que dizer. Então só coloquei a mão sobre a dele.

- Desculpe. - foi o que disse.

- Não se desculpe, eu deveria me desculpar, eu sou péssimo com essas coisas, sua mãe saberia lidar melhor com isso, ela saberia te dar o apoio que precisa. - Ele olhava para o chão. - Você e seu irmão, são as únicas coisas que me sobraram da sua mãe, e ela amava vocês antes mesmo de você terem nascido, eu não suportaria perder mais uma parte dela, eu não suportaria perder as coisas que mais amo nesse mundo filho.

-Eu te amo também pai.

***

Mais tarde naquele dia o medico veio me ver, examinou minhas pupilas, olhou meus exames, e disse que por precaução seria bom que eu ficasse mais uma noite lá, e que depois disse a recuperação seria um pouco chatinha, eu teria muita dor de cabeça, e teria que tomar muitos analgésicos, e não poderia colocar uma gota de álcool na boca, isso era um pouco chato, mas depois que eu lembrei do corte enorme que tenho nos lábios acho que manter o álcool distante seria uma ótima ideia.

Meu pai me falou que Anthony foi quem me encontrou lá jogado no caminho de terra todo ensanguentado, e que chamou ajuda, ele tinha vindo me visitar junto com Jenna, mas eu não havia acordado para falar com eles, os garotos foram identificados, e já foram expulsos da escola, e as garotas que gravaram foram suspensas, havia sido uma especia de delação premiada, elas entregavam os garotos e não seriam expulsas, e claro elas aceitaram. Meu pai prestou queixa, mas a policia não podia fazer nada pois os três eram menores de idade, e não poderia ficar na delegacia, seriam mandados para um reformatório se não fossem filhos quem são, a fiança foi paga, e eles terão que prestar dezoito meses de trabalho voluntario. Claro esse acordo foi feito duas semanas depois de eu ter saído do hospital, e com muito trabalho dos advogados do meu pai, eles queriam mandar os garotos para o reformatório, e estavam quase conseguindo, mas como disse, os pais deles também são bem influente.

Com duas semanas a menos eu tinha exatamente uma semana para escrever o trabalho sobre o Anthony, e eu já estava ficando cansado de te-lo me ajudando quando eu estava encrencado, e eu provavelmente não conseguiria escrever o trabalho a tempo, mas Jenna conversou com a Professora Angela que após avaliar a situação me deu mais uma semana, Anthony já havia entregado o dele duas semanas atrás.

No sábado da terceira semana que eu havia saído do hospital eu recebi uma visita inesperada.

Eu estava deitado na minha cama, esperando meu analgésico fazer efeito, quando alguém bateu a porta.

- Entre. - Eu gritei, o que fez minha cabeça doer mais anda.

A porta se abriu lentamente, e uma garoto de cabelo desbotado apareceu: Amy.

- Que que você tá fazendo aqui? - Disse encarando ele com todo o ódio que eu por algum motivo guardava pra ela.

- Desculpa Gabe, é que eu precisava falar com alguém. - Disse ela, levantando o rosto, e então vi que estava com os olhos inchados, e vermelhos, o que não era comum, Amy era uma vadia sem coração, e ela não chorava por qualquer coisa.

-Falar sobre o que? Sobre como você é boa em tirar as pessoas do armário quando elas não estão prontas, e faze-las apanharem no caminho de casa por tentarem serem quem são?- Joguei as palavras querendo que eles fossem projeteis capaz de arrancar sangue dela.

- Quanto a isso, me desculpe, me desculpe mesmo, eu não sei onde estava com a cabeça. - Disse ela chorando ainda mais. -Acontece que eu só faço merda e você sabe disso,

- É eu sei. Diz o que você quer logo.

- Eu não sei se você pode me perdoar, e nem acho que deva, eu fui uma vadia sem coração, eu fiz merda eu sei, eu só preciso de sua ajuda. porque eu acho que... - Ela começou a hesitar, e passar a mão pelos cabelos.- ...eu acho que tô gravida.

Boys n GirlsOnde histórias criam vida. Descubra agora