Anjo Sedutor

Capitulo 6 - A Caçada Real

"Uma moça deve sempre em primeiro lugar manter uma postura altiva, as mão sempre descansadas abaixo da cintura, o queixo bem erguido e as costas eretas, como um forte e resistente muro. Não se deixe enganar, pois é assim que moças de alta-classe se portam diante de figuras importantes, no próximo capítulo você saberá como se comportar diante das festas mais finas.".

Quanta baboseira...

Rosa fingia ler para não conversar com ninguém em seu tempo livre, pois toda vez que se via encurralada em algum lugar da casa, era obrigada a presenciar tortuosos minutos de conversa onde todos lamentavam por sua perda. Esses terríveis momentos de desconforto ocasionavam em fazê-la assumir várias tarefas que não lhe pertenciam — outrora obrigações de sua finada amiga — há qual ela se ofereceu com enorme prazer em realizar, trabalhando cansativamente, para que chegasse ao fim de cada dia completamente exausta e a cama fosse o seu único encontro durante as noites que se seguiram.

Já haviam se passado um mês desde o ocorrido e por mais que fosse doloroso tudo o que tivesse acontecido, ela buscava evitar longas conversas por respeito ao seu próprio luto pessoal.

A cicatriz já não doía mais e o doutor já havia terminado de tratar sua cabeça, somando também a exumação do corpo mutilado de Anita que levou uma semana para ser remontado e sepultado no único cemitério da cidade, onde quase todos os moradores foram prestar suas condolências, inclusive Rosa e todas as pessoas na mansão, por serem grandes amigos da família e por Anita ter sido uma jovem muito amistosa na cidade.

Sendo umas das últimas pessoas a permanecer no cemitério depois do enterro, ela aproveitou para visitar o túmulo de seu pai e seus avos paternos que se encontravam não muito distante dali, ajoelhou-se sobre as baixas formações de terra com as lápides de pedra que ela mais adorava observar quando pequena por causa da cor xadrez e deixou as lágrimas caírem, parando para pensar o quando a vida pode ser tão curta para pessoas tão boas e que agora ela havia levado mais uma e sua dor fora somada mais uma vez por essa perda.

Por um segundo chegou a avistar pelo canto dos olhos um homem alto e vestido de preto se afastar, pela forma graciosa como andava não demorou muito para descobrir de quem se tratava e logo ele já havia se afastado o suficiente para deixá-la brava. Por que ele evitava se aproximar dela quando justo todos os outros faziam o possível para lhes prestar seus pêsames? Seria essa a sua forma de respeitar sua dor? Isso ela não saberia dizer, mas Erol Evons era a única pessoa de quem ela esperava esse conforto.

Na noite quando todos retornaram, ela percebeu que não seria fácil evitar a dor com todo aquele clima de pessoas vestindo preto, enlutados e cheios de lamúrias de "meus pêsames" ou "sinto muito", como se conhecessem Anita havia anos e isso estava deixando Rosa completamente irritada. Tudo o que queria agora era apenas uma forma de evitar que as cenas chocantes que presenciara da janela aquela noite voltassem a lhe assombrar.

Ninguém teve notícias do paradeiro de Erol, que misteriosamente havia desaparecido por dias depois do funeral, muito menos sobre o sumiço das feras as quais os caçadores ainda procuravam com seus rifles e espingardas, enquanto o Sr. Evons providenciava todos os ajustes para que o conforto da família de Anita fosse garantido, um ato um tanto generoso de sua parte, embora uma vida não possa ser comprada.

Certo dia enquanto carregava produtos de limpeza para arrumar o aposento de Erol, Rosa parou por um segundo a porta para escutar, poderia jurar ter ouvido uma conversa do lado de dentro, frases como "está chegando..." e "vocês sabem o que ira acontecer... E se..." e a conversa parou.

Batendo na porta de leve por educação ela esperou, mas não houve respostas, ao entrar no quarto constatou que não havia ninguém a sua espera.