Anjo Sedutor

Capítulo 16 - No Toque da Chuva

 Rosa abriu os olhos e viu a luz fosca entrar vacilante pela porta aberta, dando-lhe as boas vindas junto à brisa leve do amanhecer. A neve branca do lado de fora derretia aos poucos devido ao calor e criava uma pequena poça de lama próxima a porta.

 — Bom dia Rosa! Saúda Enidy colocando uma tigela de cerâmica sobre a mesa contendo pãezinhos doces quentinhos e frescos, junto de uma jarra de suco de laranja com gelo transbordando na boca suada.

 — Bom dia! Onde está o Enrry? Pergunta ela esfregando os olhos, ainda sonolenta.

 — Ele está caçando... Ele tem o apetite um pouquinho "maior" do que o meu, então ele costuma caçar direto, só por precaução.

 Rosa sentiu um calafrio correr por suas costas. Será que ele havia ido caçar porque sentia fome perto dela? Preferiu não arriscar fazer esta pergunta em voz alta.

 Ela se atirou para fora da cama e ajeitou a camisola que certamente Enidy a vestira na noite anterior.

 — O dia está tão belo hoje, você não concorda? Pergunta ela mudando de assunto.

 — Siiiim! Eu sinto que essa neve toda vai derreter em até uns nove dias mais ou menos. Bom... Até a próxima nevasca chegar. O lado positivo é que isso vai demorar um pouquinho para acontecer, o que nos dará bastante tempo ensolarado! Nós estamos mesmo precisando de dias assim para alegrar as coisas... Você não acha? Enidy sorri novamente, escondendo as mãos trêmulas atrás das costas.

 — Sim, concordo e acho isso tudo ótimo! Eu já não aguento mais toda essa neve lá na ilha atrapalhando os nossos afazeres externos e os dias de descanso ao ar livre... — Ela pondera sobre isso olhando a porta aberta. — Quero dizer... Esse clima aqui vai se aplicar por lá também, certo?

 — Uhum, pode apostar nisto! Afirma a amiga trazendo mais comida a mesa.

 — Certo, eu nunca fui muito fã de neve.

 — Nem eu. E nesse tempo que os animais costumam hibernar. Isso dificulta um pouco na nossa caçada, se é que você me entende.

 — Por favor, você quer parar de falar em comida, eu estou morta de fome! Ela riu.

 — É... Você quase morreu mesmo... 

 Fez-se um silêncio no recinto e ambas se encararam por um segundo antes de caírem na gargalhada. 

 — Então desfrute! Porque nessa mesa é tudo para você! Enidy cantarolou e riu de volta ao notar  sua cara de espanto.

 Pelo visto ela ama mesmo cozinhar. E o que Rosa estaria prestes a descobrir e que a sua comida era realmente muito deliciosa! Só não achava que havia a necessidade de preparar tudo aquilo só pra ela, mas para Enidy, a felicidade estava apenas no fato de prepará-los e vê-los sendo degustados por ela.

 — Espero mesmo que você goste, não é sempre que eu tenho a oportunidade de mostrar todos os meus dotes culinários para alguém. — Falou ela olhando Rosa se sentar a mesa. — Não se preocupe, se sobrar alguma coisa, eu levo tudo para a cozinha de algum restaurante aqui nos países das redondezas. — Garantiu estendendo as mãos para o alto de forma teatral. — O que eu duvido muito, já que você está me parecendo uma alma esfomeada prestes a desmaiar se não enjerir nada...

 — Perdão pelos poucos modos a mesa, isso está com um gosto fantástico! Elogia ela mordendo um pedaço de pão doce amanteigado, que derreteu em sua língua de tão delicioso.

 — Eu posso fazer uma observação? Rosa largou o pão.

 — Claro.

 — Andei me perguntando algo...