O primeiro dia de trabalho amanheceu calmo e tranquilo, de algum lugar que não se sabe ao certo, um galo selvagem de peito cheio cacarejou baixou. Anita continuava dormindo quando Rosa se levantou lentamente para acordá-la. Rosa foi a primeira a se banhar, penteou o cabelo cumprido e escovou os dentes.
Anita ainda parecia muito cansada devido a viajem, mas logo se acostumaria ao horário como ela. As duas vestiram o uniforme que fora postado ao pé da cama mais cedo e saíram para enfrentar o longo dia.
Rosa achou desconfortável tudo aquilo, tinha como obrigação vestir um vestido preto que descia até os calcanhares, um avental branco com babados arredondados que pinicava bastante e um gorro branco que se amarrava em baixo do pescoço para esconder os cabelos.
Como havia lido no quadro de avisos, deveriam esperar na cozinha até que Dora — a governanta — as chamasse para servir aos patrões.
Como ordenado, as duas correram para a cozinha fazendo o mínimo de barulho para não acordar as outras empregadas, mais três moças vieram atrás delas, as duas primeiras muito magricelas e brancas feito papel de cartas e a terceira bem rechonchuda, suas grandes bochechas levemente rosadas de excitação.
Ao chegar à cozinha permaneceram esperando por meia hora até que outras cinco moças entraram pela porta de serviços. Uma bem alta e morena como a noite estava parada de braços cruzados ao lado da porta, duas que ainda não haviam prendido os cabelos bem escuros em baixo do gorro riam enquanto seus olhos verdes como a grama, brilhavam de alegria, deviam ser irmãs gêmeas.
Já a quarta entre elas de fato era a mais bela de todas e sorria com vigor desejo estampado no rosto afinado, tinha as sobrancelhas igualmente finas e as olhava de um jeito bem ligeiro, como o olhar de um gato.
Os cabelos loiros desciam em longas cascatas até os ombros segundos antes que ela os pegasse e começasse a prendê-los embaixo do gorro. E por fim a última moça, também de pele bem morena, tinha seus mistérios por trás de seus olhos cor de folhas secas e o rosto bem anguloso.
Ela não sabia qual o motivo das outras estarem ali, já que hoje não fazia parte de seus dias de seus serviços, mas não quis questionar, logo Dora iria lhes explicar tudo.
Rosa percorreu o olhar sobre a cozinha grande e espaçosa, toda azulejada em quadradinhos brancos, armários e os fogões do mais novo modelo, as panelas da melhor marca sendo manuseadas pelos chefes que trabalhavam como nunca, todos vestidos de branco com gorros e aventais, pratos valiosos de porcelanas e talheres da mais pura prata estavam à vista, prontos para ser posto a mesa.
O mais engraçado e que havia apenas quatro pratos para serem distribuídos. Dois para servir sobremesa e os outros como de costume, para o café de entrada. No final do aposento avistou mais duas portas, a que estava aberta era uma grande dispensa e a outra devia desembocar no pequeno corredor de acesso a funcionários que levaria ao salão de jantar, evitando assim que as criadas servissem as refeições vindas direto do corredor principal.
Várias refeições estavam preparadas em cima da mesa no canto da cozinha, pães de sal de todos os tamanhos, geleias, suco de morango, laranja e abacaxi, várias porções de tigelas de molhos de carne e recheios para pães, caldo de galinha e pimenta, empanados de frango, pão de frutas, tortas de limão, taças de manteiga derretida e muitos outros alimentos dos quais ela desconhecia, o cheiro delicioso de tudo aquilo fez seu estomago roncar baixinho.
Rosa não fazia ideia de como seus patrões aguentariam comer aquele tanto de comida apenas no café matinal, mas não iria questionar, sabia por sua mãe que mesmo que os Evons não desfrutassem de todas aquelas iguarias, eles nunca desperdiçavam nada, devem deixar alguns daqueles lanches para os criados.
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Anjo Sedutor
RomanceSinopse - Alguns anos após o fim da Guerra Mundial, as pessoas ainda sentem o peso que esse terrível massacre global lhes causou e para que as coisas voltem ao normal uma nova oportunidade de ganhar a vida e sustentar suas famílias surge para vár...