Capítulo 9 - Caos Em Londres

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Londres, 3 Julho de 1936 – 23h50min

Dia antes do ataque a Rosa na floresta.

 Era de longe a madrugada mais fria daquele ano, nada se comparava ao gélido tempo que se alastrava tão repentino e sem avisos pelos arredores da gigantesca cidade, a paisagem caótica e acinzentada de Londres tornava-se ainda mais escura ao ser lavada pela furiosa tempestade.

 Muitos dos prédios que outrora vibravam de alegria e novos começos, agora não passavam de cômodos e mais cômodos sem vidas. Algumas cortinas e persianas permaneciam cerradas havia algum tempo enquanto em seu interior acumulavam-se poeira e teias de aranhas devido aos ocorridos assustadores daquela inicio de mês, o que era de dar medo.

 Às vezes o clamor brotava aqui ou ali, revelando-se através de fracas lamparinas a gás ou ao som de rádios e novíssimos televisores sem cor em algumas salas de estar, mas aquela não era uma Londres que muitos gostariam de conhecer um dia.

 Os transeuntes corriam para se abrigar da chuva — que de tão fina, cortava a pele como navalha afiada — em casas de hospedarias e bares locais enquanto ratos aproveitavam para se esbaldar das porcarias que se espalhavam pelas calçadas. Os postes já iluminavam fracamente as pedras sujas das ruas e passarelas, que eram varridas aos poucos para os bueiros pela torrente que se formava em algumas esquinas mal cuidadas.

 O menino que vendia jornais gritava feito um louco os anúncios mais importantes da semana, sacudiu o jornal à mão para chamar a atenção das poucas pessoas que lhe esbarravam e corriam para o bar onde ele estava parado a porta.

 Ele estava bravo por não poder entrar — devido sua idade —, pois queria vender o jornal para os clientes que o bar lhe roubara. Ele apenas olhava emburrado para as pessoas que entravam e raras vezes saíam daquele ambiente adulto e alegre que gargalhava cada vez mais alto quando sua porta era aberta. Um homem alto e de capa saiu assustado e às pressas do bar, chocando-se com ele.

 — Porque você esta parado aqui rapaz? Perguntou o homem bravo se ajeitando e ajudando-o a se levantar.

 — Estou apenas tentando vender jornais, preciso comprar pão para meus irmãos e ajudar em casa senhor. O menino se levantou calmo ao segurar sua mão, pela ligeira educação que aparentava possuir, trombar com possíveis clientes devia ser algo que ocorria com bastante frequência por ali.

 O menino recolheu os jornais espalhados pela calçada — alguns molhados pela chuva — e os colocou na bolsa esfarrapada de vendedor presa ao pescoço.

 — Perdoe-me por essa inconveniência, eu estou bastante atrasado para um jantar importante, não devia descontar em um garoto por meus erros... Diga-me, quanto custa um jornal? O homem tentou ser o mais amável possível.

 — Três de prata, senhor. Respondeu o menino automaticamente ainda buscando um exemplar aos pés.

 O homem pegou um jornal e jogou nas mãos do menino mais do que ele pediu.

 — Quarenta pratas, senhor? Perdão, mas não tenho troco para isso tudo. Falou o menino desapontado.

 — Não tem importância, você pode ficar com o troco, talvez isso lhe ajude por hoje. Descarte o restante molhado em algum lixo e saia dessa chuva terrível imediatamente! Antes que você pegue uma doença por aqui desse jeito. São tempos terríveis! Disse o homem apressado saindo com o jornal embaixo do braço pela rua principal, a cabeça abaixada e protegida dentro do casaco enquanto a chuva fuzilava sua humilde costa.

Anjo SedutorOnde histórias criam vida. Descubra agora