▪ O Pacto ▪
Eu só não queria perder mais uma pessoa. Todos os que amo desaparecem e eu não podia perder mais ninguém.
A minha mãe estava a morrer com cancro. O corpo não reagia aos tratamentos ou reagia de forma negativa. Davam-lhe poucos dias de vida. Dezasseis anos, pensei eu, não estou preparada para perder a minha mãe.
O meu pai morreu quando tinha nove anos, a minha irmã mais velha quando eu tinha doze e agora estava a dias de perder a minha mãe também.
Eu estava sentada ao lado da cama, a segurar-lhe a mão quando o fiz.
-Não posso perdê-la. Por favor, vive, por mim. Nem que eu tenha de entregar a minha alma ao diabo mas, por favor, não morras. Eu faço o que for preciso.Durante dias nada aconteceu. Até que um dia eu tinha ido apenas buscar um café e vi a enfermeira da minha mãe a correr na minha direção.
-Kira! Kira! A tua mãe!
Estas três palavras foram o suficiente para me fazer largar o café e correr como nunca até ao quarto dela.
-Mãe! - grito mal entro. Para minha surpresa a minha mãe estava a sorrir, um sorriso genuíno de uma alegria verdadeira. Os olhos verdes que eu herdei estavam a brilhar de novo. Lágrimas de felicidade.
-Mãe... - repito segurando a sua mão.
-Kira, - começa o Dr. David Porter, o médico que tem tratado da minha mãe - a tua mãe pode ir para casa hoje.
-Doutor, isso não faz sentido nenhum! Não vai continuar a tratá-la?!
-Não é necessário. - diz.
-Como assim não é necessário?! Acha-a assim tão morta que pode descartar o tratamento?! Desiste dela?!
Para minha surpresa o médico apenas sorri contra o meu desespero.
-Não é necessário, pois a tua mãe já não está doente. Não há vestígios de cancro no seu organismo.
Estou sem palavras. Será possível?
Abraço-me a ela e rimos e choramos as duas. Tive tanto medo nestes últimos meses que já não estava habituada a sentir felicidade ou alívio.Nessa mesma noite festejámos. Passámos num restaurante chinês para comprar comida e jantámos em casa. A minha mãe estava cansada por isso deitou-se cedo, ao contrário de mim que com aquele acontecimento tinha perdido o sono e estava apenas na cama a olhar para o teto.
-Olá.
Dou um salto ao ouvir uma voz vinda do quarto. Rapidamente acendo a luz e olho para a origem da voz. Não é uma pessoa que vejo mas oito.
O meu grito é sufocado por alguma coisa.
-Desculpa, querida, mas os gritos humanos stressam-me. - diz uma voz feminina. A única rapariga. Alta, cabelo loiro comprido e liso. Veste um vestido justo vermelho escuro.
Como assim gritos humanos?!
Depois vejo na sombra dela o que não vi na realidade. Um par de asas pontiagudas e uns cornos compridos que fazem uma curva na ponta.
Deixo escapar um gemido. O que é isto?!
Vejo que as sombras de todos mostram membros extras.
Um deles ri-se para mim e diz.
-Não nos culpes. Viemos buscar a tua alma.
Dois deles aproximam-se mas eu salto rapidamente para o outro lado do quarto.
-A minha alma?!
O do cabelo castanho meio prateado revira os olhos e aproxima-se.
-Somos diabos, enviados por Talon, o Diabo Supremo, para vir buscar a tua alma. Não nos culpes, fizeste-o a ti própria.
Nem que eu tenha de entregar a minha alma ao diabo.
-Não estava a pensar quando disse aquilo! Só queria salvar a minha mãe!
-E ela está salva! - suspira a loira - Troca por troca, querida.
-Lilith. - o rapaz que revirou os olhos chama-a à atenção para se calar. Então é esse o nome dela.
Ela parece irritada mas obedece.
-Então queres fazer o quê? - pergunta-me o rapaz.
-Viver.
Todos se riem menos ele que continua sério e parece sem paciência.
-Não podemos fazer isso. Mas podemos dar-te mais tempo.
-Quanto?
-Noventa dias, no máximo.
Noventa dias?! E faço o quê durante noventa dias? A contagem decrescente até à minha morte?!
-O que é que estás a fazer, idiota?! Queres arranjar problemas com Talon?! - pergunta Lilith mas o rapaz ignora-a.
-Com um de nós sempre a supervisionar, para Talon não descobrir. - conclui.
Não sei o que fazer ou dizer. Aconteceu tudo tão depressa. Mas...a minha mãe está viva e saudável e isso é o mais importante. Respiro fundo e digo.
-Aceito.
E, de um momento para o outro, tudo mudou.
Fiz um pacto com o Diabo.
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90 Dias
FantasyOs diabos vieram reclamar a alma dela. Ela implorou pela vida. Eles deram-lhe mais 90 dias de vida. Com eles. Ela aceita o acordo. O pacto com o diabo está feito e ela tem 90 dias. 90 dias sob a supervisão de um dos diabos. No primeiro dia conhece...