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▪ Ignorar sentimentos ▪

Dia 48 (noite)/ Dia 49

Estive a dar voltas aos quarteirões o dia todo. Está frio, está escuro, não sei onde estou, a rua está deserta.

Ainda não acredito que o Ethan me tenha proposto tal coisa! Como se atreve! Primeiro protege-me do Cody e depois age como ele?!
Mas no fim, eu é que fui parva. Ele tem razão. Do que é que eu estava à espera? Eu sou humana e ele um diabo! Ele só está aqui comigo porque tem de me controlar e esconder de Talon até ao dia em que a minha alma deixar o meu corpo.
Ele é um diabo. Eles não sabem o que é o amor. Eles não sentem amor.
Vocês, humanos, sentem tudo com muita intensidade.
E neste caso, é uma maldição.
Só me resta ignorar o que aconteceu. Ignorar os sentimentos.
A rua estava deserta e só me apercebo que um carro vem na minha direção quando sou impulsionada para trás com força.

A minha cabeça doi-me quando abro os olhos. Ainda estou na estrada mas não vejo nenhum carro. A minha cabeça está deitada sobre as pernas de alguém. Olho em frente e vejo uma cara que me mostra um sorriso no momento em que abro os olhos.
O seu cabelo é loiro e os olhos de um azul que sobressai com a sua t-shirt branca.
-Olá. - murmura o rapaz.
-Olá... - tento sentar-me no passeio enquanto seguro a minha cabeça dorida - O que é que aconteceu?
-Ias sendo atropelada por um carro mas eu empurrei-te e bateste com a cabeça no passeio. Desculpa...
Rio-me.
-Estás a pedir desculpa por me salvares a vida? - ele risse comigo - Obrigada. Sou a Kira.
-Jev.
Ele sorri e eu retribuo. Tento levantar-me mas sinto uma tontura e apoio-me no ombro de Jev que me rodeia a cintura com um braço para me ajudar.
-O que é que fazias aqui? - pergunto ao lembrar-me que a rua estava vazia.
-Isso pergunto eu. Eu vivo ali. - diz apontando para a casa atrás de nós - Vi-te pela janela e parecias perdida então vim perguntar-te se precisavas de ajuda. Cheguei mesmo a tempo de te empurrar. O idiota do condutor continuou o seu caminho.
Ele segura-me de maneira a manter-me em pé. Para além de me doer a cabeça da queda também é difícil andar sozinha sem nada no estômago.
-Consegues andar sem ajuda? - pergunta.
-Acho que não. - aperto o seu braço - Sinto-me tonta.
Ele parece preocupado.
-Tens fome?
Como que a responder o meu estômago faz barulho. Ele sorri amigavelmente e ajuda-me a andar.
-Vamos até ao meu carro. Eu levo-te a comer o melhor pequeno almoço da tua vida.

A viagem de carro é curta. Estava mais perto do centro do que eu pensava. Entramos numa casa de waffles. O céu está a ficar claro. São 6.38 da manhã. 41 dias.
Jev vem com um tabuleiro enorme. Contém sumo de laranja, café, um prato cheio de panquecas e waffles e outro com ovos mexidos e bacon.
-Bom apetite. - diz com um sorriso.
Começo a comer devagar, pois não como à muitas horas e não quero ficar agoniada mas depois de começar não há como parar. Jev olha para mim surpreendido e divertido.
-Estavas com fome...
-Que vergonha... - digo e sei que estou a corar por isso tento esconder com o cabelo.
-Não há razão para pedires desculpa. Não me importo minimamente com a tua maneira de comer animalesca. - responde tentando atenuar o ambiente.
Sorrio e ele retribui.
-Posso levar-te a casa? - pergunta.
Digo que sim com um aceno de cabeça e ele acaba de comer.

▪▪▪

-É aqui. - digo - Obrigada.
-Sabes onde moro, se precisares de alguma coisa.
Sorrio e beijo-lhe a bochecha muito rapidamente.
-Obrigada mais uma vez.
Saio do carro e dirijo-me para a porta. Não preciso de abri-la porque a minha mãe já o fez.
-Por favor, diz-me que te protegeste. Não estou preparada para uma gravidez. - diz, mal eu entro.
-Mãe! Acabei de o conhecer!
-Já vi gravidezes por menos.
-Mãe! Não aconteceu nada!
-Então onde estiveste? Estava preocupada.
-Precisava de dar uma volta e... - não lhe vou dizer que ia sendo atropelada - ...encontrámo-nos por acaso.
-E como é que ele se chama?
-Jev. Mãe, eu estou cansada, vou-me deitar um pouco.
Dirijo-me ao meu quarto e Ethan levanta-se logo da cadeira.
-Demoraste. - aproxima-se e afasta o meu cabelo - O que é isto? O que é que aconteceu? E quem era aquele?
-Para quê o interrogatório? - ambos reviramos os olhos - Jev salvou-me de ser atropelada.
-O quê?! Ias sendo atropelada?! Eu não volto a deixar-te sem supervisão!
-Ethan, eu estou bem...
-Eras minha responsabilidade e ias sendo atropelada, isto não está nada bem, Kira!
-Tem calma. - Ethan passa a mão pelo cabelo e senta-se na cadeira enquanto eu me enfio dentro da cama prontinha para adormecer.
-Tu não entendes... - resmunga.
-Entendo - começo já de olhos fechados - Não me pode acontecer nada até àquela noite. Eu entendo isso tudo, Ethan.
Às vezes pergunto-me se não teria sido mais fácil ter logo dado a minha alma. A cada dia que passa parece que morro um bocadinho.
Fecho os olhos e começo a adormecer quando oiço Ethan a falar.
-Não entendes. - está a falar mais para ele do que para mim - Eu quero proteger-te. Eu vou proteger-te.

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