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Primeiro segundo encontro ▪

Dia 51

   -Já decidiste o que vais vestir? Já me estás a irritar com a quantidade de vezes que já te mudaste. - reclama Ethan.
   Reviro os olhos. Ethan é a pessoa mais irritante e impaciente que conheço.
   -Não te obrigo a ficares aí. - respondo.
   -Não é que eu tenha opção.
   Saio da casa de banho e Ethan olha para mim com uma expressão indecifrável.
   -O que foi? Está assim tão mau? - pergunto ajeitando a saia.
   -Não. É só... Nada. Já acabaste?
   -Ethan... Podes...?
   -A resposta é não. Já te disse que se queres sair eu vou contigo.
   -Pára de ser tão protetor!
   Ele olha para mim com os olhos muito abertos. Di-lo! Diz aquilo que disseste antes. Diz que me queres proteger, que me vais proteger e eu entrego-me a ti.
   -Não é uma questão de proteção. - desvia o olhar. Suspiro e olho para a janela.
   -O que é que se passa? - pergunta.
   -Nada. Absolutamente nada, Ethan. Estou pronta.
   Dirijo-me para a porta e oiço os passos de Ethan atrás de mim.
   Oiço a campainha e preparo o meu melhor sorriso para Jev, coisa que fez com que Ethan mostra-se uma expressão de nojo.
   Abro a porta e lá está ele com os seus olhos azuis, sorridente.
   -Olá... - olha-me dos pés à cabeça - Estás linda.
   -Obrigada.
   -Três horas a escolher roupa para um "Estás linda"?
  Discretamente dou uma cotovelada a Ethan que se encontrava mesmo atrás de mim. Queixa-se mas não por muito tempo.
   -Vamos?
   Assinto e sigo-o até ao seu carro.
   -Belo carro. - comenta Ethan, invisível, sentado no banco de trás.
   Jev coloca música e vamos a conversar amigavelmente até a um edifício onde eu nunca tinha estado.
   Saímos do carro.
   -Pensei que gostasses que viessemos ao bowling.
   Sorrio e sigo-o para dentro do edifício.
   Jev vai pedir uns sapatos e atribuem-nos uma pista.
   Ethan senta-se no sofá posto na nossa pista.
   -Queres começar tu? - pergunta Jev.
   -Não, não. Começa tu.
   Ethan ri-se.
   -Tu não sabes jogar.
   -Posso fingir. - murmuro.
   -É bowling. Ou sabes ou não sabes.
   Jev manda a bola e esta derruba todo os pinos.
   Pega numa bola e estende-ma.
   -É a tua vez.
   Sorrio embaraçada e passo o olhar por Ethan. Está sentado de braços cruzados, mortinho por me ver falhar.
   Respiro fundo e atiro a bola. Acerto num pino.
   -Oh meu Deus! Eu acertei!
   Abraço Jev e ele ri-se enquanto retribui.
   -Desculpa. - afasto-me ainda a rir. Eu tenho de parar com isto dos abraços de felicidade.
   -Tudo bem. Foi bom para primeira vez.
   -Obri... Espera! Como é que sabias?
   -Pela maneira como atiras-te a bola. Por pouco não foi parar à pista do lado. - sinto-me a corar de embaraço - Anda. Eu ensino-te.
   Pego numa bola e Jev coloca-se atrás de mim.
   -Não precisas de estar tão tensa. - diz.
   Eu não estaria, mas ele está tão perto que sinto a respiração dele no meu pescoço.
   Ele coloca uma mão no meu cotovelo e outra na mão que está a segurar a bola.
   -Não precisas de a atirar, ou usar demasiada força. Apenas deixa-a deslizar.
   Ele afasta-se e o calor do seu corpo vai consigo.
   Respiro fundo e faço como ele disse. Deixa-a deslizar.
   Quatro pinos caiem e Jev sorri com os polegares para cima.
   -Patético. - diz Ethan e eu ignoro.
   Jev aproxima-se.
   -Queres ir comer alguma coisa?
   -Por favor!
   Ele ri-se e dirigimo-nos para a praça. Escolhemos um pequeno restaurante e ficamos na esplanada.
   Ethan sentou-se na mesa atrás do Jev. É mesmo muito difícil estar à vontade com o Jev sabendo que o Ethan está ali.
   -Está tudo bem? - pergunta Jev.
   -Sim, sim. Só tenho fome.
   Ele sorri.
   -Esperemos que não tanta como no nosso primeiro encontro.
   Isto é um encontro?! Espera, primeiro encontro?!
   -Por favor, não contes aquilo como um encontro.
   -Ofereci-te comida, para mim é um encontro.
   Rio e ele aproxima a sua mão da minha mas sem lhe tocar.
   Ethan está concentrado nas nossas mãos e isso incomoda-me.
   -Então isto é um encontro? - pergunto.
   -Eu considero um encontro. Tu não?
   Sorrio timidamente.
   -Sim.
   Ele sorri os seus dedos tocam suavemente nos meus.
   -Ai! - ele queixa-se e esfrega a mão.
   Estava tão concentrada nos olhos dele que não reparei em Ethan. Bateu na mão de Jev. Olho para ele mas este apenas me encolhe os ombros.
   Jev tenta aproximar a sua mão de novo mas Ethan belisca-o no braço impedindo que isso acontecesse.
   Suspiro e fuzilo Ethan com o olhar.
   -Estás a ser infantil.
   -Desculpa? - Jev parece surpreendido e Ethan ri-se.
   -Desculpa, estava só a pensar em voz alta, não era para ti.

   Durante o jantar, Jev não tenta tocar-me na mão de novo e Ethan mostra o seu ar arrogante e satisfeito.
   Ethan impediu qualquer avanço que Jev tentásse fazer e eu estava a perder a paciência.
   Em vez de irmos de carro, Jev levou-me a casa a pé.
   A mão dele ia roçando na minha mas sempre que tentava segurá-la lá vinha o diabo irritante. Chegámos a minha casa e Jev parecia embaraçado. E eu compreendia-o.
   -Bem... Estás entregue. - diz quando já estamos em frente à porta.
   -Sim...
   -Falamos depois?
   -Claro.
   Sorrio e entro dentro de casa.
   -Para que é que foi isso? Vinhas comigo mas não era para te intrometeres!
   Ethan não responde nem olha para mim mas a expressão rude continua lá.
   -Para quem disse que não compreendia a necessidade dos humanos de marcar território estás a agir da maneira errada! - digo.
   -Par...
   O argumento dele é interrompido pela campainha. Abro e vejo Jev.
   -A noite tem sido estranha mas...a... Não sei bem o que estou fazer. - ele sorri embaraçado e eu sorrio aproximando-me e depositando um beijo na sua bochecha.
   -Até depois. - digo.
   -Até depois.
   Entro em casa e passo por Ethan. A sua expressão rude foi substituída por espanto. E talvez algo mais...

  

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