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Sufocada pelos sentimentos e memórias

Dias 72

Olho-o nos olhos e repreendo-me a mim própria por estar tão consumida por ele que não consigo ver as mentiras transparentes nos seus olhos.
Afasto-me das suas mãos e atrevo-me a chorar aquilo que prometi não chorar.
-Tudo uma mentira? - ele tenta aproximar-se mas eu recuo - E que conversa é essa de seres tu a tirar-me a alma?
-Kira...
-Pára de dizer o meu nome! - é só mais uma fraqueza - Queres a minha alma? Leva-a agora! Faz o que quiseres com ela! Eu simplesmente já não quero saber!
Ele fica sério e alcança-me, puxando-me bruscamente contra si.
Tento lutar mas ele é mais forte e obriga-me a olhar para ele.
-Sabes que mais, Kira? Sim, quero a tua alma! - engulo em seco - Mas eu achava que já sabias disso. Achava que já sabias o quanto eu te quero, e isso inclui a tua alma, o teu corpo, o teu coração. Tudo!
-E sabes que mais, Ethan? Beija-me ou leva-me a alma! O resultado é o mesmo! - Destruição.
Ele fica em silêncio e empurra os seus lábios com força contra os meus para um beijo salgado por causa das minhas lágrimas.
Estou presa a ele. Entreguei-me e agora não me consigo libertar.
O beijo acaba e ele afasta-se. Afinal o beijo tinha uma mistura das lágrimas dos dois.
-Acho que ainda não entendeste o meu amor por ti. - diz.
-"Parte-me o coração mas não me leves a alma", é o que se costuma dizer. - faço uma pausa - Tu ficaste com os dois. Entende tu o meu amor por ti.
Virei-lhe as costas e quando olhei para trás ele tinha desaparecido.
Deixando-me destroçada.
E a culpa era minha.

Dia 75

Três dias e Ethan ainda não voltou para mim. Nunca pensei vir a precisar tanto dele. Mas preciso. Preciso muito dele.
Durantes estes três dias limitei-me a relembrar os nossos momentos desde o primeiro dia, como um fantasma que assombra as recordações de que mais gosta.
Quase me sinto sufocada pelos sentimentos e pelas memórias.
A culpa é minha. Eu duvidei da sua palavra. Eu duvidei do seu amor por mim e agora posso tê-lo perdido.
Eu só quero sentir os seus lábios de novo nos meus. O seu corpo quente contra o meu. A sua voz contra o meu ouvido. As suas asas ao meu redor.
Olho para a cadeira onde ele costuma estar e de seguida para a parede onde a sombra das suas asas costumam estar. Sinto-me desprotegida. Sinto-me vazia.
Abro a gaveta e pego na pena adormecendo ainda com ela nas mãos.

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