90 Dias

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▪ O Príncipe do Desejo foi desejado e agora deseja ▪

Dias 72

Cubro a minha cara para proteger da claridade que entra pela janela do sótão e sorrio perante as imagens da noite passada.
Ele disse-o! Ele finalmente disse-o! Aliás, ele disse muito mais que isso. Ele disse que estava apaixonado por mim.
Depois de me abraçar, ele elevou-me nos seus braço e subiu as escadas em direção ao sótão. Eu agarrei numa manta que estava pendurada na porta e mandei-a para o chão onde ele me deitou, beijou e sussurrou mil e um segredos ao ouvido.
A memória das suas mãos a percorrer as minhas costas e os seus lábios no meu pescoço provocam-me um arrepio agradável.
O chão é bastante desconfortável por isso achei estranho estar a sentir-me tão aconchegada. Ontem à noite ele deve ter escondido mas agora está tudo bem visível. Uma das suas asas está por baixo do meu corpo e a outra cobre-me. Passo as mãos suavemente nas suas penas negras e ele tem uma reação engraçada mas não acorda.
Olho agora para a sua cara adormecida e sorrio. Quero passar-lhe os dedos na face mas não quero acordá-lo.
Ainda é cedo por isso fecho os olhos e volto a dormir.

Mais tarde quando acordo já não me encontro no chão do sótão mas sim na minha cama e ao meu lado já não se encontra o Ethan. Apenas vejo uma pena negra nos lençóis ao meu lado. Pego nela com cuidado e guardo-a na gaveta.
A seguir levanto-me e visto o casaco comprido que pertencia ao meu pai mas que eu uso como robe.
Faço o meu caminho em direção à cozinha mas detenho-me quando oiço vozes.
-Muito bem, Ethan. Agora que já te envolveste com ela já lhe vais dizer que és tu o escolhido para lhe retirar a alma? - é a voz de Lilith e parece zangada.
Ethan não responde.
-Eu sabia que dar-lhe mais tempo não era boa ideia. - diz o Príncipe da Preguiça.
-Eu só espero que isto tudo não passe de uma diversão por estares aborrecido aqui. - continua.
-Devíamos ter-lhe retirado a alma enquanto podíamos quando cá estivémos. - diz o Príncipe da Ira.
-Vocês estiveram aqui? - Ethan quase grita - Não voltem a aproximar-se dela!
Lilith ri-se.
-Parece que o Príncipe do Desejo tomou do seu próprio veneno e agora deseja a humana. És patético, Ethan!
Os outros riem-se e quero intervir e defendê-lo mas não sei se não faria pior.
-Eu espero que isto tudo seja uma grande mentira, Ethan. - continua.
-Achava-te mais profissional que isso, Ethan. Onde está o diabo que eu conhecia? - fala o Príncipe da Inveja - Sem piedade, sem sentimentos.
-Porque é isso que nós somos, Ethan! - já estou farta de ouvi a Lilith - Somos diabos! Príncipes do Inferno! Nós não sentimos! Não temos sentimentos!
As minhas pernas ameaçam ceder e denunciar a minha presença. Cada vez que o atacam é como se me atacassem a mim.
De repente sou arrastada por uma força invisível até à cozinha. Por isso é que ainda não tinha ouvido o Príncipe da Gula.
-Kira... - murmura Ethan mas controla-se.
Levanto-me com dificuldade e Lilith aproxima-se.
-Não pensei que fosses tão vulnerável, anjinho.
-Não me chames anjinho. - digo cerrando os dentes. Ou me aches vulnerável.
-Cuidado que ela morde! - troça - O vosso romancezinho proibído é ridículo. Eu mal posso esperar que isto tudo acabe para voltarmos a ter o nosso irmão de volta. E, Ethan, tu estás tão ansioso como nós por sentir a alma dela a passar por ti.
Olho para Ethan mas ele não se digna a olhar para mim.
Sinto uma dor aguda na perna que me faz cair e gritar de dor. Ethan rapidamente corre até mim. Olho à minha volta e sei que foi o Príncipe da Gula.
-Talon esteve ontem lá em casa de surpresa e não estavas. Ele está desconfiado. - já não suporto a voz de Lilith - Mentímos por ti, agora vê lá de que lado estás.
Dito isto desaparecem deixando-me com Ethan.
Não costumo ter medo. Mas agora estou aterrorizada por haver a possibilidade de isto ter sido tudo apenas uma diversão. Aterrorizada por haver a hipótese de Lilith estar a dizer a verdade. Aterrorizada por ela ter razão, Ethan é um diabo, um Príncipe do Inferno.
Ethan coloca as suas mãos em ambas as minhas faces e olha-me intensamente nos olhos, tão aterrorizado como eu.
-Do teu lado. - diz - Escolherei sempre o teu lado.