Aurora e Atena

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Aurora e Atena
Um sangue da nobreza sempre percorreu pelas minhas veias finas, porém fatais ao toque gélido. Nobre significa ser elegante, ter riqueza, ou ao menos ter uma linhagem ligada a aquilo que chamávamos de coroa. A minha coroa está perdida em uma caixa há dois séculos mais ou menos, não faço questão de procura-la, pois as pedras colocadas ao seu topo emergem pensamentos temperamentais e ruins de lembranças que pretendo esquecer com o vento, e meu inimigo mais cruel: o tempo.
Minha coroa é manchada por sangue de inúmeros homens, fui uma mulher assassina sem consciência para aconselhar-me a parar com tais ações cruéis das quais só um monstro seria capaz de concretizar, mas mesmo assim, eu Não parei. Meu florete era e é minha dádiva, sua lâmina cortou inúmeras palavras nunca pronunciadas pela boca do morto. Mortos até não podem falar, porém, não queremos surpresas não é mesmo? Matar nem me parece ser algo tão proibido hoje em dia, até me arrependi de ter uma vingança tão perfeita... Talvez nem tão perfeita assim já que não foi concretizada como o planejado.
O Futuro que pretendo dar às minhas pequenas princesas não é este passado horrível pertencido à minha coroa cheia de segredos e pesadelos cruéis. Pretendo dar uma tiara cheia de boas lembranças e sem nenhum tipo de medo aparente, porque medos são fraquezas, e fraquezas não devem pertencer a ninguém cujo tem meu sangue.
Posso estar sendo rígida e não ter a mínima ideia de como parar essa minha ambição por ter tudo perfeito na palma da mão, afinal, eu já fui querida, amada, odiada e procurada a minha vida toda, sei exatamente o que é ter tudo de mão beijada. Mesmo criança eu tinha pensamentos distantes de derrubar exércitos, destruir impérios e conquistar aquilo que minha mãe deixou para trás junto às ondas de minhas lembranças: O reino. Um reino muito pouco aproveitado por minhas mãos, passou tudo tão rápido, meus olhos não viram nem a cor do poder em minhas mãos, ou em meu próprio espelho.
Me ver no espelho hoje em dia é fácil. Sou bonita, linda, atraente, poderosa e tudo que um ser humano qualquer nunca poderá ser a mais. Porém, quando olho para o meu interior, vejo uma mulher corrompida lutando a todo momento com sua triste e pequena consciência. Por isso estou aqui, disposta a dar a vida por essas duas pessoas já donas do meu coração, as únicas.
Fui tola ao pensar em me sobressair saindo sozinha em busca de respostas, pensando inocentemente sobre sair ilesa estando vulnerável, sem poder se defender como antigamente. Agora estou colocando a vida de minhas filhas em risco por ambição, por não aceitar ser a perdedora da vez, ser a derrotada na guerra ao invés da batalha. Agora pagar o preço é mais difícil, não é? É a pior parte dentre várias outras consequências seguidas de pecados cometidos e retornados agora.
O medo de meus pensamentos finalmente chegaram em meus olhos, os olhos profundos e ameaçadores, agora estando sobre puro medo. Não posso ser a Rainha perfeita, nunca fui digna de ter o título de alguém real se nem de minhas emoções posso ter controle, principalmente daquilo pretendendo a ser eternizado.
- Por que o medo? Você vai ser mãe dentre poucos minutos! Devia estar contente.
América colocou suas mãos em minha barriga, liberando uma luz roxa nada agradável eu diria.
A luz parecia envenenar minha pele, cada centímetro do meu corpo ficava dez vezes mais dolorido do que o habitual desde o início da gravidez. Estou acabada, mas as afetadas na minha bela histórias são minhas filhas, os seres sem nenhum pouco de culpa da na consciência. Que sorte a delas.
- Agora é só empurrar, e elas vão vir, ao mundo. Sem se preocupar com quem deu a luz a si mesmas. - Seus olhos cruéis cheios de inveja me observaram como um falcão. - Porque você não é nada mais do que uma mera lembrança!
A luz roxa parecia aumentar o ritmo das contrações, minha garganta era usada como desfoco da dor causa por América. Meus gritos pareciam agulhas no ouvido de quem estaria por perto. A dor dentro de mim era tão forte que nem os gritos eram capazes de superar o sentimento, a dor. A dor nunca foi um problema para mim, até agora é claro. Talvez seja por que meu ego esteja ferido, massacrado e jogado no lixo feito um pobre nada. Agulhas pareciam me furar a cada minuto obtido ali. Meu consciente seria de defesa, mas nessas condições minha única escolha era gritar e gritar, nada mais além de inúteis e estrondosos gritos.
A porta do apartamento se abre com um barulho impactante. Não vi nada, apenas América jogada no chão após um tiro em seu pescoço. A bala atravessou seu corpo, permitindo com que a parede tenha uma sessão de loção americana grátis. Meu senso de humor parece ignorar a dor... Nunca aguentei anda tão forte quanto isto, apenas naquele maldito dia... Em que eu pude ser a única perdedora para o Universo.
Meus olhos quase apagados foram até a maldita porta e, pela primeira vez fiquei contente por ver aquele verde no cabelo de uma jovem rebelde sortuda por fazer parte de uma linhagem tão poderosa. Era Rachel. Seus olhos castanhos me julgavam por ter tanta falta de maturidade e responsabilidade. Mas nada poderia vir por tentar fazer tudo sozinha, como sempre tento fazer.
- Se não estivesse prestes a dar a luz, meu soco inglês encontraria seu lindo rosto. - Rachel colocou algo azul brilhante em meu braço, e por um milagre, a frequência das contrações sumiram.
- Que adorável. - Pronunciei as palavras com a voz totalmente fraca ignorando o suor em minha pele. - Pode me tirar daqui? Juro nunca mais ofender seus cupcakes horríveis.
- É o que eu estou tentando fazer. Quieta.
- Fale isso para as duas bem aqui! - Falei gritando por ter mais uma contração.
- Só precisa respirar. Essa é sua única função agora.



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⏰ Última atualização: Jun 30, 2016 ⏰

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