Capítulo 34 - "Monstro"

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Gabriel e Miguel apenas olharam os corpos caírem desconjuntados no chão. Não se abalaram a fazer qualquer coisa para impedir a queda.

– Gabriel – suspirou Angelina quando o viu, desviando dos corpos caídos, atravessar a porta junto a Miguel, Rafael e Maria.

Aos poucos, aquela tensão que pesava em seu corpo foi se aliviando. Angelina então foi-se tranquilizando. Seu salvador havia aparecido e salvado o dia novamente. Tudo correria bem agora...

– Orá, orá o que temos aqui. – Foi quando a voz de Vinz soou nos ouvidos de Angelina e ela se lembrou que ele ainda estava na sala. Se lembrou que as trevas a perseguia. – Anjos!

Se voltou instintivamente para o Perpétuo. Um sorriso odioso e irônico tinha brotado em seu rosto pálido. Toda cisma que o tomava a poucos minutos atrás, tinha sido deixada para trás rapidamente, o que parecia importar para ele agora eram os Anjos. Seus dentes alinhados e brancos demonstravam o prazer em ter feito aquela descoberta.

Com as palavras de Vinz, todos relembraram que ele estava ali, e o silencio acabou dominando a sala novamente.

– Então, o que me dizem sobre seus novos "amiguinhos"? – questionou ele sem se mover, apenas apreciando a dominação que começou a exercer sobre Angelina e os demais no ambiente.

Ficou sem reação perante aquele questionamento e um sentimento de raiva a beijou. Aquele homem estava novamente em sua vida e a queria fazer mal, e Angelina sentia-se indefesa mais uma vez.

"Maldito"

A raiva se transformava em ódio pouco a pouco.

– Ninguém vai dizer nada? – insistiu Vinz.

– Os... – Começou antes de ser interrompida.

– Os novos amiguinhos apenas vieram aqui para lhe dizer que não tem medo de você ou da Convenção! – Disparou Miguel, notavelmente irritado com o Perpétuo.

Vinz parou por um segundo para observar o anjo. Sua expressão de felicidade se quebrou e aos poucos se retorceu em seriedade.

– Hum, bom saber que essa amizade já apresenta força – disse ele em tom de ameaça.

– Porque?! – Indagou Angelina, vincando as sobrancelhas para aquele homem que começava a tirar "aquilo" de dentro da caixa de proteção.

O Perpétuo se voltou para ela calmamente, como se nada o ameaçasse, como se ela nem mesmo estivesse ali. Isso apenas fez a raiva de Angelina se ampliar e finalmente atingir o ódio.

– MALDITO! – cuspiu.

– E a fera se liberta aos poucos – disse Vinz sem demostrar nenhuma reação.

Foi nesse momento que percebeu já não ter mais o controle. Percebeu que "aquilo" já estava a dominando. O ódio já reinava.

POF!

O barulho assustou Angelina e fez corpo de Vinz se levantar do chão e ser lançado sobre a mesa da cozinha, quebrando as pernas da mesa e danificando parte das cadeiras, enquanto a taboa da superfície pareceu se manter intacta. Uma leve poeira amadeirada se levantou em volta do Perpétuo caído.

– Ele estava pendido isso. – Disse Maria, autora do soco após olhar sorridente para Angelina, perplexa pela surpresa.

– Maria?! – exclamou Rafael de longe.

– Se ela não fizesse isso eu faria. – Resmungou Miguel.

Maria tinha agido com uma velocidade que Angelina jamais tinha visto. Gabriel já demostrará ser rápido, mas não daquele jeito. Ela tinha muito mais rápida e precisa do que Vinz, nunca tinha visto alguém o acertar daquela maneira.

– Como fez isso? – Perguntou intrigada, quando sentiu uma pontada de felicidade e conseguiu resgatar parte de seu controle.

Maria deu um risinho antes de responder.

– Me orgulho de ser o anjo mais rápido do céu. – E lançou um novo sorrisinho para os irmãos. – Claro, depois dos Arcanjos. – Enfatizou.

"Ela boa, muito boa. O maldito mereceu isso" – comemorou.

O movimento perfeito de Maria realmente a tinha surpreendido, contudo outra pessoa não havia gostado da surpresa.

– Maldita! – Levantava Vinz, cambaleante proferindo xingamentos a Maria. – Maldita! Como ousa? – Ameaçou assim que se pôs em pé.

A casa se concentrou em quietude perante aquele homem que todos nutriam sentimento de raiva. Todavia, não mais do que o que Angelina cultivava a muitos e muitos anos.

– Como ous...

– Como ousa você, Vinz – interveio seu pai. Pondo-se a frente de todos ao caminhar até o Perpétuo. – Como ousa vir a minha casa, me agredir, agredir minha filha e ameaçar a todos desta forma?! – Vinz o observou com veemência. Marcos esbanjava força, poder. – COMO OUSA?! RESPONDA-ME!

Suas palavras ecoaram pelos cômodos da casa.

O Perpétuo mante-se em total silencio. Sem mostrar medo, parecia irritado.

– Isso não ficara assim Marcos Leone! Não mesmo! – cuspiu palavras amargas, após se firmar em pé. – Lúcios saberá de tudo o que aconteceu aqui. Então veremos se essa ridícula união de famílias será capaz de vencer a Convenção.

Antes que mais uma palavra fosse dita, Vinz rodopiou com sua capa cinza-escuro, seus olhos esmeraldas furiosos e sumiu como um vulto pela porta da cozinha.

Angelina não pode deixar de sentir uma súbita felicidade a revigorar. Esboçou um sorriso para seu pai quando ele se voltou para ela sério. Pode sentir uma preocupação nos olhos dele, não com Vinz ou com a Convenção, mas, com ela.

– Uhuuul! Vencemos – comemorou Maria abraçando Angelina ao dar pulinhos de alegria. Interrompendo o olhar de Marcos.

– Acho que não deve comemorar ainda, Maria – falou seu tio Rodrigo chegando próximo a elas. – O pior logo chegara. – Pode ver no fundo dos olhos dele uma sombra crescer e algo triste surgir.

A alegria de Maria se esvaiu tão depressa como se iniciou. Logo a sala se aprofundou em uma calmaria angustiante e foi um ruído vindo do chão que deu uma nova direção aos pensamentos de todos.

O ruído vinha da porta de entrada, do chão, de Patrícia se arrastando no chão tentando, com muita dificuldade, se pôr em pé.

A espinha de Angelina se arrepiou, o mal ainda não tinha passado. O mal estava nela. "Aquilo" tinha ganhado força e ela não sabia mais se estava o controlando.

O pescoço torcido com força pelas mãos de Miguel já havia voltado ao normal e aos poucos Patrícia se pôs em pé.

Sua mente ainda devia estar confusa e suas vistas embaçadas. Patrícia esfregou os olhos, os abriu e piscou várias vezes, até que por fim enfrentou todos a sua frente.

Por poucos instantes ela pareceu procurar alguma coisa ou alguém. A busca teve seu fim quando seus olhos pararam sobre Angelina.

– VOCÊ! – berrou Patrícia apontando o dedo indicador para Angelina enquanto arregalava os olhos para a mesma. – VOCÊ É UM MOSTRO!

Sim, Patrícia havia descoberto seu segredo.

A forma como aquela pessoa que Angelina conhecia, mesmo depois de tantas coisas, a olhou foi o grande estopim para abalar de vez suas estruturas emocionais. Foi o momento perfeito para "aquilo" sair de sua caixinha negra e trazer tudo que Angelina sempre lutou para esquecer, e nunca mais lembrar, voltar à tona. Foi o início para o mal preso dentro dela ganhar a chave da liberdade.

Desculpe meus erros. Muito obrigado por estar me apoiando nessa estória.
Até daqui a pouco!

PROMETIDOS (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora