Capítulo 37 - "Criança"

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A criança inocente havia se perdido no tempo. E naquele momento, deitada sobre o peito de Gabriel, que dormia um sono tranquilo, sentiu arrepios ao relembrar aquele passado tenebroso. Que teimava em voltar a sua mente e relembra-la quem ela já foi um dia.

...

Suas mãos estavam amaradas com uma corda fina. O frio congelava seu corpo. Seu rosto já estava adormecido e não mais sentia seus pés, que afundando na neve, a arrastava para onde aqueles homens a levavam.

Crianças seguiam em sua frente e atrás dela, todas em uma única fila. Vigiadas pelos homens, os quais a todo momento batiam em uma criança que teimava em parar ou simplesmente não resistia mais, iam caminhando pela estrada que acompanhava a destruição e incêndios nas casas e celeiros que aqueles homens haviam feito.

Os pinheiros sem folhas pareciam chorar a destruição, por outro lado, a escuridão que se fazia longe do fogo comemorava, e as crianças, continham o choro para não apanharem.

Todas não tinham menos de nove anos e mais de doze, procuravam se mostrar forte, mesmo naquela horrível situação. Não tinham outra escolha se quisessem continuar vivas.

Lucy sentia que poderia ser morta com uma adaga cega no peito naquele digno momento, que não sentira tanta dor quanto já sentia. Sentia-se como se suas vísceras tivessem sido arrancadas e seu coração levado junto.

Caminhava a pouco menos de algumas horas, mas pareciam dias invendáveis. As imagens das mortes se revezavam em tortura-la cada miserável minuto que se seguia. Tudo no mundo resumia-se somente a aquelas cenas.

Sem muito mais demora e sem perceber para onde caminhava, Lucy foi jogada dentro de uma fétida carocha fechada. Acabou notando que aquele veículo era usado para transportar prisioneiros. Lá dentro encontrou outras dezenas de crianças, quase amontoadas como sacas de trigo. Teve de ficar em pé, já que poderia ser arriscado se sentar em acabar sendo pisoteada.

A neve continuava a cair e se intensificar lá fora quando a carocha começou a andar. O cheiro era insuportável, mas o calor dos corpos aglomerados começou a aquece-la. 

O tempo dentro da carocha correu como a própria, a qual o cocheiro não se importava com as pessoas que transportava.

As crianças que faziam companhia para Lucy, estavam na mesma situação. Podia ver a tristeza estampada em cada rosto sujo de sangue e dor. Vendo isso, as mortes voltaram a atormenta-la. A dor se fez presente nela e acabou levando uma cotovelada na nunca de um moleque que se desiquilibrou com um solavanco da carocha.

A viajem pareceu ter seu fim quando o cocheiro parou a carocha e as portas traseiras foram abertas de imediato. Algumas crianças caíram no chão.

Lucy foi obrigada a descer do veículo. A neve ainda a perseguia, assim que pôs os pés no chão sentiu o frio a gelar novamente. O cheiro fétido havia se entranhado em suas vestis e a perseguiu mesmo após se distanciar de seu transporte.

Foi naquele momento que Lucy percebeu aonde estava.

Uma alta muralha escura protegia o local, tendo como única saída, um imponente portão de madeira e ferro. Em sua frente, um gigante castelo se erguia com inúmeras torres cilíndricas e pontiagudas, negro, beirava o céu nublado.

Flocos de neve pousaram no rosto de Lucy, mas logo caíram, pois com um puxão, um dos homens começou a arrasta-la na direção do castelo. Na direção de sua tortura eterna.

...

Porque eu não fugi aquele dia? – se perguntou Angelina, após relembrar o dia em que conheceu o Castelo dos Perpétuos.

PROMETIDOS (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora