6.

14 1 0
                                    

Me olho no espelho, eu estava com um vestido preto, hoje seria o enterro dos meus tios. Não posso dizer que estava feliz, por que eu não estava. Porém eu não estava triste. Eu não sentia nada. Me sentia como se fosse um dia normal.

Alguém bate na porta, Rose. Ela também vestia um vestido preto, nós duas vamos até um táxi, que nos leva até o cemitério onde meus pais foram enterrados, ao entrarmos lá, vimos algumas pessoas em volta de dois caixões, eu não conhecia nem metade daquelas pessoas, as poucas que me eram familiares eram os amigos dos meus tios. Várias pessoas vieram me abraçar, perguntaram se eu estava bem, eu apenas acenava com a cabeça e saia de perto. Os dois caixões já estavam fechados, e ao lado de casa um, havia uma foto do meu tio e outra da minha tia.
Várias pessoas a minha volta choravam, mas eu não, olhava a minha volta e pensava no quão ridículo era essas pessoas que choravam pela perda das outras, elas já se foram. Chorar por elas não vai adiantar nada. Temos apenas que esquecer os que já morreram. Eu já chorei muito pelos meus pais, já me senti mal por não ter nenhum tipo de emoção quando vi meus tios mortos. Mas isso já passou, essa fase em que eu era "fraca" já passou. Agora eu sei que eu viverei bem melhor sem ter ninguém para me preocupar com. Apenas eu. Foda-se o mundo.

Alguém me cutuca, olho para o lado, era Rose. Ela queria dizer que o enterro já iria começar, acenei com a cabeça e fui até o lugar que seria os túmulos, fiquei olhando aqueles dois homens colocando os caixões nos buracos que haviam no chão e, logo depois, os cobrindo com terra. As pessoas choravam sem parar, eu, apenas ficava quieta no meu canto pensando em qualquer coisa mais importante que o que estava havendo.

O tempo foi passando e as pessoas foram indo embora até que apenas eu fiquei na frente daqueles túmulos, olhando para o nome dos meus tios. Rose havia me deixado ficar mais  tempo aqui sozinha. Silêncio. Eu amava aquilo. Sempre gostei de ficar rodeada de pessoas. Mas isso mudou. Agora a solidão era minha melhor amiga. Enquanto encarava o túmulo dos meus tios, me veio à cabeça a lembrança do dia em que os encontrei mortos na cozinha da minha antiga casa. Um sorriso brotou em meus lábios. Apenas de lembrar do sangue saindo do cadáver dos meus tios novos sentimentos percorreram no meu corpo, nenhum deles era tristeza.

Um barulho me faz despertar dos meus pensamentos. Olho para a direção do barulho, havia um homem de aproximadamente uns 40 anos vindo em minha direção eu o encarei por um tempo, "ei, menina!" Ele gritou para mim, chegando cada vez mais perto " você não deveria ficar andando aqui sozinha, é perigoso." Disse ele já perto demais do meu corpo. "Sai daqui" disse, com uma voz fria, que até então, não sabia que existia. Mas ele continuo se aproximando e agarrou meu corpo, me jogando contra a lápide de meu tio, e começou a se aproximar de mim. Eu, num movimento rápido pego uma  pedra do chão e bato com força em sua testa fazendo a mesma sangrar, um sorriso se abre no meu rosto quando sinto o seu sangue em minhas mãos. Volto a bater com a pedra em sua cabeça e ele cai para trás. Subo em cima dele e não paro de espanca-lo com a pedra, ele me pede piedade, já com a voz fraca, e sem força nenhuma para mexer o corpo, mas eu não paro. O seu sangue respinga em minha roupa e em meu corpo.

Desviando um pouco meus olhos da minha vítima, vejo uma barra de ferro, já enferrujada, jogada no chão, e meu sorriso aumenta. Pego a barra e o homem, que por incrível que pareça, ainda estava acordado, me implora por perdão, e aquela cena me faz sorrir. Com toda a força que eu tinha, acertei a barra de ferro contra a garganta do homem, e depois de repetir o processo mais duas vezes, perfuro o pescoço do homem, e ele para de se mexer. Uma risada demoníaca escapa de meus lábios enquanto eu olho para aquela cena. Depois de um tempo, decido jogar o corpo morto do homem num rio que havia no cemitério. Levantei e comecei a arrastar os pés do homem até o rio, e, chegando lá, empurro seu corpo para a água. O sangue do homem deixa a água a sua volta um pouco avermelhada, mas essa logo volta a sua cor normal. Lavo minhas mãos e as partes do meu corpo que estão sujas com seu sangue e decido que já era hora de voltar para o orfanato, afinal queria descansar, pois amanhã eu teria aula.

Vivendo com a MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora