17.

3 0 0
                                    

Will disse que hoje seria meu último dia de aula, e que depois ele me levaria para viajar. Mas, uma coisa em sua voz me intrigava. Era como se ele estivesse me escondendo alguma coisa, era como se ele estivesse com medo de alguma coisa.

Já fazia uma semana desde que eu havia me mudado para a casa de Will, e eu ainda não havia conhecido a sua esposa. Ele já havia saído de casa diversas vezes para visitá-la, mas nunca me levava junto. Segundo ele, por causa da minha idade, eu não poderia entrar na área do hospital em que sua mulher estava internada.

-Então, para onde vamos viajar?- perguntei, tentando puxar assunto enquanto comia uma maçã, antes de irmos para a escola. -E você sabe que, eu estou no meio das provas finais, e se eu não fazê-las vou reprovar de ano, né? - ele concorda com a cabeça - então porque viajar agora?- ele respira fundo e pensa um pouco, depois de uns segundos em completo silêncio, Will respondeu: -Quanto antes irmos, melhor. Eu tenho um amigo, ele vai nos emprestar seu jato particular e não vamos precisar nos preocupar com passagens nem nada- puta. Que. Pariu. Will tinha um amigo com uma poha de um jato particular?

Depois da nossa breve conversa, Will me levou para a escola, e como eu ja estava em cima da hora, fui direto para a sala de aula.

PVO SOPHIE

Vejo Annabelle entrar na sala, ela se senta na última cadeira, e fica no seu celular. As vezes as pessoas a encaravam, mas sempre tentavam ser mais discretas possível. Anne era uma garota que eu já escutei muitas vezes, ser chamada de "estranha" pois ela nunca falava com ninguém e vivia sozinha, mesmo que, antes da morte dos seus pais Anne era amiga de todo mundo, depois, quando eles morreram, ela dispensou a maioria das amizades, só ficou comigo e com Angie, suas verdadeiras amigas. Eu sempre achei ela diferente, tinha alguma coisa nela que não era normal, sei lá. Eu tinha um pouco de medo dela. Mas eu acho que todos têm, por que ninguém nunca zoou ela por ela ser excluída nem nada, era como se todos tivessem medo dela.

Tento chamar ela, mas ela não me escuta, ou finge não me escutar. Desisto de chamar sua atenção, e começo a copiar a matéria que, como num passe de mágica, apareceu na lousa.

PVO ANNABELLE

Por sorte, a primeira aula passa rápido, e quando noto, o professor já está saindo da sala. As pessoas começam a conversar enquanto esperam o outro professor entrar, e eu fico no celular.

Mas ninguém veio. Sim, o professor havia faltado. A diretora chega depois de meia hora de aula perdida para avisar para que o professor não viria, e que nós estávamos liberamos para ir para o pátio, e ficar lá até a outra aula começar.

Como eu só havia trazido uma caneta e um caderno (minha mochila estava ocupada com as minhas coisas que eu trouxe do orfanato, e eu ainda não tinha tirado as coisas de lá) eu coloco a caneta no bolso da blusa e seguro o caderno na mão. Vou para o pátio da escola, não tinha ninguém além dos alunos da minha classe. Ótimo. Sigo até os fundos da escola, aquele lugar onde o muro era mais baixo, e escalo o mesmo sem dificuldades. Já em cima do muro, dou uma última olhada para a escola e pulo. A rua estava vazia. Respiro fundo e fecho o zíper da minha blusa, para impedir que as pessoas vejam a blusa da minha escola, e logo imaginam que estou matando aula. Por precaução, coloco o gorro da blusa e ando com a cabeça baixa, passando despercebida pelo portão da frente do meu colégio.

Assim que tenho certeza que ninguém da escola me veria, tiro o gorro e começo andar normal. Até que eu paro em frente ao cemitério. Sim, aquele cemitério no qual minha família estava enterrada. Respiro fundo e entro. Eu já conhecia o caminho até o túmulo dos meus pais e dos meus tios, então fui caminhando até eles quase que automaticamente.

Eu não sei por que estava aqui. Eu não tinha nada para fazer aqui. E eu sinto que devo ter prometido a mim mesma nunca mais voltar nesse lugar. Mas aqui estou eu. Novamente, nesse cemitério.

Ao me aproximar do túmulo de meus pais, vejo um homem, ele era alto e vestia preto, eu não conseguia ver seu rosto, pois o gorro de seu agasalho o cobria. Fico o olhando por um tempo, pensando em quem seria esse homem.
Quando, sem olhar para mim, o homem pergunta: -Eles eram seus pais?


----------------------------------------------------
FELIZ 2017!! MTAS FELICIDADES A TODOS <3

Vivendo com a MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora