A Carta Sem Remetente

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ROSE

Uma coisa era certa: nada parecia tão maravilhoso – e assustador – do que ver o pequeno Scorpius dormindo.

Eu ainda achava difícil conciliar a imagem do meu namorado adolescente com a daquele pequeno e frágil anjo de cabelos louros, cuja cabecinha repousava no travesseiro ao meu lado.

As preocupações não paravam de me acossar durante os últimos dias.

Eu sentia uma falta imensa do Scorpius mais velho. Mas, ao mesmo tempo, junto da ansiedade em saber como iam os trabalhos de reversão no Ministério... eu parecia, bem no fundo, temer perder aquela parte dele.

Saber que, em breve, o pequeno Scorpius desapareceria, simplesmente para trazê-lo de volta à forma atual, não estava me dando o alívio que eu achei que sentiria.

Eu queria Scorpius de volta. Mas pensar em me despedir dessa parte tão adorável dele iria doer. Mais do que eu imaginara.

O Scorpius criança era tão amável e apaixonante quanto o Scorpius mais velho. Era impossível não sentir um frio na barriga com a perspectiva de nunca mais vê-lo assim. Eu havia me apaixonado por ele... outra vez. De uma forma que nunca pensei que conseguiria.

Sua forma criança inspirava proteção, algo que ele jamais precisara em sua forma natural. E isso era apavorante por si só. Mas também despertava em mim uma emoção nova. Um sentimento quase materno, ou fraternal. Isso era o mais chocante de tudo.

E ainda havia aquela estranha sensação... de que algo muito ruim estava por vir.

Não pense nisso, Rose, disse a mim mesma. Se sabe que terá que dizer adeus, aproveite o agora. Não seja egoísta, querendo que ele permaneça assim. Todos estão contando com você.

Sacudi a cabeça. Sim... minha consciência tinha razão. O bem-estar físico e emocional do Scorpius criança dependia de mim. Eu não podia perder a cabeça agora, me lamuriando por causa de uma despedida inevitável no futuro. Podia apenas aproveitar ao máximo aquela experiência, amedrontadora e maravilhosa, que era ser a cuidadora do pequeno Py.

Por isso, quando finalmente descemos, em direção ao Salão Principal, eu decidi que iria ao menos fingir – a mim mesma e aos demais – que minhas ansiedades definitivamente não existiam.

- Você tá diferente hoje, Rosie – Scorpius murmurou, rindo e sacudindo a minha mão.

- Estou? - sorri, achando graça.

- Tá – ele vincou a testinha, curioso – parece contente.

Suspirei mentalmente, aliviada. Parecia que minha "máscara" estava dando certo.

Era isso que eu queria. Que a criança da qual eu estava cuidando não se sentisse insegura com minhas paranoias.

Cuidar de Scorpius, sem intercorrências. Havia prometido isso aos pais dele. E, tirando os incidentes com Rachel e a ideia de jerico de Alvo, até que estávamos indo muito bem.

Bem, ainda estava aprendendo a ser um tipo de irmã coruja sem o mínimo parentesco. O mínimo que podiam fazer é pegar leve comigo, que não tinha a mínima prática pra lidar com uma criança... o que dirá uma criança que é seu namorado na forma normal.

Alvo parecia muito arrependido do que fizera, por que quase não falou durante o café da manhã, e me senti meio culpada do que havia pensado minutos atrás.

- Ei, Alvo – segurei seu braço, ao que ele me encarou, surpreso – você já se desculpou – suspirei – e acho que devo desculpas também. Dei um chilique exagerado... não precisa ficar assim.

Ele sacudiu a cabeça.

- Não, Rosie. Você tem razão. Foi burrice minha sair com ele sem te avisar – ele arfou – não vou fazer mais isso, eu garanto.

Surpreendendo nós dois, Scorpius bateu a talher na mesa de um jeito dramático, e fazendo todos ali se virarem para ele.

- Ah, para – ele guinchou, piscando indolentemente na minha direção e fazendo todo mundo rir – Rosie pediu desculpa pro Alvo. Alvo pediu desculpa pra Rosie. Pronto! - ele fez bico – chega de bagunça! Que coisa!

Lily parecia morder as unhas com força, como se assim pudesse evitar que seus dentes se cravassem em Scorpius.

- Py, pare de ser fofo. Ou vou ser obrigada a te beliscar.

Meus primos se entreolharam, divertidos, enquanto Hugo olhava para a abóbada do teto, parecendo rezar pra uma bigorna cair do céu enfeitiçado direto para sua cabeça, poupando-o de continuar convivendo com aquele bando de loucos.

Naquele momento, corujas de todos os tipos invadiram o salão, revoando acima de nossas cabeças, e deixando cair correspondências ao longo das quatro mesas. Vasculhei o teto, na expectativa, querendo saber se meus pais, ou os Malfoys, teriam enviado alguma carta. Ou se Kingsley, finalmente, mandaria uma notificação sobre a reversão.

Mas nada chegou em nossa mesa, exceto uma carta negra, trazida por uma coruja especialmente perturbada, que voltou a alçar voo logo em seguida, de um jeito quase epiléptico.

Encarei, espantada, o pequeno envelope, pegando-o nas mãos.

- Hum... vovó Granger mandou mais pastilhas sem açúcar - Hugo fungou, desapontado – acho que pra compensar as guloseimas da vovó Weasley - ele riu consigo mesmo – e você, Rosie? Alguma novidade?

Virei o envelope de cor preta, confusa.

Nenhum remetente. Selo. Nada.

Intrigada – e com uma ansiedade desagradável agitando-se em meu estômago –, me levantei da mesa.

Uma carta sem destinatário. Sem nome. Diferente de qualquer outra. Isso praticamente gritava para que eu a visse em particular.

O que me amedrontava era nãos aber por que devia vê-la em particular.

- Hugo, fique um pouco com Scorpius, por favor – saí do banco, afagando só cabelos loiros do garotinho que me encarava, assustado – não é nada, querido. Já volto.

Hugo e Scorpius continuaram me olhando, sem entender nada, enquanto eu disparava para fora das portas do Salão Principal.

Assim que alcancei o corredor, acocorei-me na parede, começando a abrir o envelope.

Puxei a carta que havia dentro, abrindo-a, com as mãos já trêmulas.

Algo me dizia que aquela carta me guardava uma desagradável surpresa.

E isso se confirmou, quando li a mensagem, escrita à pena afiada, em letras ferozes no papel pardo, destilando cinismo e ameaça em cada curva.

Eu sei que você tem um segredinho.

Acha mesmo que ninguém vai descobrir? Em breve, todos saberão.

Você acha que já sentiu dor? Pois eu vou te mostrar como realmente ela é.

Todos eles vão pagar.

E nosso pequeno probleminha... será a primeira vítima.

Não havia assinatura.

Meu Pequeno Amor 2 - Segunda GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora