A Última Ameaça

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ROSE

McGonagall estacou ao lado da porta da diretoria, dando espaço para que eu passasse adiante dela.

Não parecia nada feliz.

- Acho melhor – ela lançou um olhar nervoso à Pandora – que vocês conversem a sós. Vou notificar seus primos e seu irmão sobre... tudo – baixou o olhar, repentinamente insegura – Pandora, se puder acompanhá-la...

- Claro, Minerva – Pandora assentiu, me acompanhando diretoria adentro.

Entrei a passos trôpegos, procurando meus pais. Ouvi Pandora fechar a porta atrás de nós.

Finalmente, os vislumbrei á minha frente, debruçados sobre a mesa da diretora. Mamãe e papai perceberam nossa presença, arregalando os olhos em nossa direção.

- Rose – minha mãe murmurou. Encarei-a, vendo seu rosto adquirir um tique de constrangimento.

Papai parecia tão sem graça quanto ela. Porém, sua expressão mudou quando percebeu Pandora atrás de mim, fechando-se e adquirindo uma feição hostil.

- O que ela está fazendo aqui?

A exclamação indignada de papai pareceu trazer tudo de volta a tona.

Meu medo, meu desespero, o terror que me corroia. Uma raiva impensada tomou posse de mim, me fazendo fechar os punhos.

- Ela está aqui por que veio me contar a verdade! – não agüentei, cuspindo tudo de uma vez, num turbilhão de irracionalidade, e gritando para papai – foi mais do que vocês fizeram nos últimos dezesseis anos!

E comecei a chorar, cobrindo meu rosto com as mãos.

Junto da aflição, o remorso pelo que havia acabado de dizer me atingiu, quase me fazendo desabar.

Senti os braços de mamãe me circularem. Ela também estava chorando, apertando-me em seu abraço.

- M-me desculpa... – solucei.

- Não... – a ouvi dizer em meus cabelos, com um tom tão sofrido, que senti meu arrependimento aumentar. Não ajudou vê-la com os olhos marejados, quando me soltou e olhou para mim – nós... que temos que nos desculpar, meu amor.

Meu pai ainda olhava enviesadamente para pandora, mas desviou o olhar, voltando-se para mim, o olhar cheio de culpa.

- Rosie... – ele suspirou – ah, minha filhinha... se tivéssemos alguma ideia...

Mamãe finalmente pareceu se dar conta da presença de Pandora, piscando nervosamente para ela.

- Tudo bem – engasguei, com a voz embargada – ela só veio... ajudar. Ela me contou tudo.

- E foi o que devíamos ter feito... estamos tão arrependidos, meu amor... – mamãe suspirou, meneando a cabeça para Brown – obrigada, Pandora.

- Não foi nada, Hermione – ela falou – eu devia alguma retribuição para a família de vocês. No que eu puder estar ajudando... não quero que isso termine... – murmurou – como da última vez...

Papai se aproximou, parecendo usar todo seu autocontrole para não apanhar a varinha do bolso e enfiá-la, sem feitiço nem nada, dentro da garganta de Pandora. Percebi que, pelo visto, ainda tinha guardado um pouco de rancor pelo que ela fizera.

Ele se virou para mim, tomando minhas mãos nas dele.

Pela primeira vez na vida, percebi o como os olhos de papai eram parecidos com os meus.

Os olhos do homem que, no passado, tinha feito o inimaginável pela garota que amava. A pessoa que sentira as mesmas inseguranças e sensações que eu tive com Scorpius.

Ele sabia, mais do que ninguém, o que eu estava passando agora.

E depois... se eu não confiasse em minha própria família, em quem poderia confiar, no fim das contas?

Guinchei baixinho, deitando o rosto na palma que ele pousou em minha bochecha. Senti meu peito apertar insuportavelmente.

- Ah, Rosie... jamais pensamos que isso pudesse acontecer...

- Foi por isso, né? – ergui o queixo – por isso ninguém ficou preocupado... não tinha o que dar errado, por que já aconteceu... – solucei mais forte – não tinha o que dar errado...! E eu consegui... conseguir perde-lo, papai...!

- Shh – papai afagou meu rosto, condoído – ah, Rosie... escute – obedeci, voltando a fita-lo – eu não sei o que está passando agora... mas posso imaginar – mamãe assentiu consigo mesma, abraçando o próprio corpo – quando... – ele franziu o cenho, como se temesse recordar – quando sua mãe se tornou criança outra vez... eu acho que entendo o que está sentindo agora. Scorpius... nessa forma... não é só a pessoa que você ama, não é? É... uma coisa completamente diferente. Diferente de tudo que você já sentiu.

Confirmei com a cabeça.

- Ele é tão pequeno... tão indefeso, papai... – senti mais lágrimas banharem meu rosto – eu nem quero imaginar... e se ele estiver ferido...? Ou...

Foi a vez de Pandora se aproximar, penalizada, fazendo papai e mamãe recuarem um pouco.

- Tenha fé, Rose. Para ser seu namorado, Scorpius com certeza é alguém tão forte e determinado quanto você. E depois – seu rosto se vincou de remorso – se essas pessoas... são... se estiverem agindo... como eu agi... não vão feri-lo... – ela falou quase que com ódio, embora todo ele fosse dirigido á si mesma - até conseguirem o que querem.

Papai voltou a resmungar para ela, mas Pandora não se encolheu dessa vez. Devia achar que merecia os disparates do meu pai.

- Eu... – arfei, tentando raciocinar – mas Pandora... o que eles querem? Por que comigo? Por que com Scorpius?

Pandora abriu a boca como se fosse responder, mas foi interrompida por um farfalhar de asas que adentrou dentro da diretoria, nos fazendo erguer os olhos para o teto abobadado.

Um corvo negro desceu em espiral até a mesa da diretora, se chocando violentamente contra a pilha de pergaminhos que havia ali.

Gritei ao perceber que o som seco da queda não viera da madeira da mesa.

Papai segurou mamãe, mas não conseguiu me impedir – e tampouco Pandora – de ir até o local onde o corvo caíra.

Amarrada á perna da ave morta, outra carta negra.

Com a mão tremendo, arranquei o envelope da garra inerte do corvo, ignorando o guincho de alerta dos meus pais, e começando a ler febrilmente a escrita mórbida e violenta do pergaminho.

O que li ali fez meu coração parar.

Seu maior tesouro está conosco agora.

Apenas você, a querida namoradinha, e o pai dele. Mais ninguém. No mais tardar, em frente á Casa dos Gritos.

Se trouxerem mais alguém, ele morre.

E iremos saber se trouxerem.

Façam tudo o que dissermos, e, quem sabe, suas famílias terão um caixão a menos para enterrar.

Meu Pequeno Amor 2 - Segunda GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora