Diferenciar, Pegar e Brincar

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ROSE


Na terceira vez em que eu colocava os olhos no mesmo parágrafo do livro de Poções, desisti de lê-lo. Scorpius me perguntava algo do castelo a cada cinco minutos enquanto brincava com alguns bonequinhos ao meu lado, nos jardins.

- E a lula gigante é grande? - Ele perguntou, arregalando os olhinhos, encarando o Lago Negro, como se o animal fosse saltar de lá a qualquer momento e levá-lo consigo para as profundezas do lago.

- Bem, o nome é sugestivo - comecei, fazendo sinal para que ele se sentasse mais próximo a mim e largando o livro de Poções ao meu lado. - mas não se preocupe, Py, ela é semi domesticada. Inclusive, minha mãe me contou que um de seus colegas de escola caiu no lago uma vez e a lula o empurrou de volta. Como vê, ela é muito útil para os estudantes.

- Posso chamar ela, Rosie? - Os olhinhos dele brilhavam, se assemelhando a um céu nublado recebendo os primeiros raios da tempestade. - Quero brincar!

- Acho que para chamar uma Lula Gigante é preciso muito mais do que gritar ''lula gigante'' - ri - mas vou mandar uma carta para meu pai, e semana que vem, talvez, possa vê-la.

- Yeeeeeeey! - Scorpius enlaçou meu pescoço, se jogando em cima de mim. Comecei a gargalhar com seu real entusiasmo e depois de conseguir me pôr sentada novamente, com ele em meu colo. Ele prosseguiu de repente. - Sinto saudade da mamãe, sabe? E do papai também. Mas você, a Lily, o Al, a ''Chloi'', o Jimmy, e o Gogo...

- Gogo? - Franzi o cenho.

- O Hugô! - Ele revirou os olhinhos e dei risada - vocês são bem legais - Scorpius sorriu largamente, o cabelo loiro caindo em sua testa.

- Saiba que nós estamos adorando cuidar de você, pequeno. - Sorri, mexendo em seus cabelinhos.

- Mas acho que o Gogo não gosta muito que eu chame ele assim. - constatou ele sabiamente.

- É que... é um apelido diferente. - segurei o riso. - o diferente sempre assusta.

- É por isso que a Anna saiu correndo na escolinha?

- Como?

- Na minha escolinha sem magia, onde mamãe me botou um tempinho, antes disso tuuudo - ele gesticulou para o nosso redor. – acontecer - senti um forte aperto no peito enquanto notava sua expressão murchar. - Eu tava lanchando né... com ela e o Betinho na salinha. Depois da hora da história dos trouxas... daí, o suco dela caiu no chão e molhou tuuuudinho... ela ia chorar, Rosie. Eu só olhei pra lá, desejando que tudo voltasse pro copinho dela de novo.

- E aí voltou. - suspirei, sentindo o aperto se intensificar a medida que os olhinhos dele encheram de água. Scorpius, o meu Scorpius, o namorado, nunca havia me dito isso. Capaz dele nem sequer lembrar. Com apenas quatro anos ele já havia demonstrado seu primeiro sinal de magia? Incrível. - Isso te incomoda muito, meu amor?

- É que eram meus amiguinhos...- quando Scorpius esfregou seus olhos, o abracei atordoada. - e depois que a Anna saiu correndo e gritando que eu era um mutante, ou sei lá o que, Betinho ficou me chamando de esquisito. - sua voz saia abafada por estar encolhido em mim, mas senti que começava a chorar. - papai me mudou de escola, mas gostava daquela...

- Você confia em mim, meu anjo? - Saí do abraço para fazer com que ele me olhasse. Li em algum lugar que o contato visual com a criança é muito importante. Algumas lágrimas manchavam sua bochecha e eu as enxuguei. - Infelizmente, o nosso mundo funciona a favor da maioria. E no mundo dos trouxas, logicamente, eles são a maioria... não são todos, mas alguns não aceitam as diferenças. Julgam tudo que veem pela frente, por pura maldade ou falta de conhecimento.

Meu Pequeno Amor 2 - Segunda GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora