Angustiado

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SCORPIUS


Minha cabecinha doía muito, e as lágrimas não paravam de cair.

Havia tido um pesadelo horrível.

Eu andava em um corredor longo, escuro e sujo... bem parecido com esse quartinho. Aí, eu conseguia enxergar a Rosie.

Mas ela estava dormindo no chão.

E não acordava nunca!

Eu mexia nela...mexia nela...mas nada!

Ali, onde eu estava, o chão era muito durinho. O mascarado mais baixo, algum tempinho atrás, tinha me trazido um pão e um copinho de água, escondido do outro mascarado maior.

Eu estava começando a achar que ele não queria estar ali mais do que eu queria... era como se tivesse sido obrigado ou algo assim. Comecei a ficar com pena dele.

Eu tinha certeza que eu conhecia a voz do baixo... mas quanto mais eu pensava para tentar lembrar, mais minha cabeça doía.

Meus ombros não paravam de tremer, e eu sentia uma dor muito forte no peito... parecia querer me sufocar.

Como eu sentia saudade da Rosie, dos seus primos... do Gogo e da Clôi. Estava começando até a sentir falta da Rachel Belmore, a menina malvada, desejando até que pudesse vê-la de novo, só para me convencer de que tudo não passava de um pesadelo ruim...

Era uma coisa muito estranha, que parecia se espalhar dentro de mim.

Papai e mamãe viviam dizendo que eu era bem pequenininho... então pensei que essa dor poderia me fazer um mal bem grande, já que deveria ser maior que eu. Vinha de dentro, e parecia querer fugir pelos meus olhos, fazendo eles lacrimejarem toda hora.

Mamãe... papai... onde será que eles estariam? Será que também viriam me buscar? Junto da Rosie? Quando chegariam?

Sentia falta de dormir mexendo no cabelo da Rosie. Eles eram tão macios, quentes e cheirosos... pareciam até meu coelhinho de pelúcia...

Mas desde que eu acordei naquela escola, meu bichinho não estava mais comigo.

E agora, tudo que eu tinha era esse chão sujo, duro e frio. A escuridão, e o som do vento nas janelas eram as minhas únicas caompanhias.

Tentei sufocar um soluço, mas não consegui. Estava doendo demais...

Um barulho forte me sobressaltou, e fez com que a porta se chocasse contra a parede, com muita força.

- Acha que ninguém está ouvindo essa choradeira, moleque?! - o mascarado alto entrou, vindo até mim a passos largos - CALA A BOCA! - agarrou minha bochecha com suas mãos ásperas - engole esse choro! - apenas causou o efeito contrário. Ele me sacudia bastante... meu corpinho poderia ir parar do outro lado daquele lugar - PARECE UMA MENININHA CHORONA!

Segurei um berro, tentando fugir de seus dedos esmagadores.

- Eu quero a Rosie! - gritei, soluçante, me desvencilhando dele, enquanto ainda chorava - me deixa ir embora, moço!

Funguei, me encolhendo no canto, enquanto seus olhos por trás da máscara pareceram virar breu. Sua expressão pareceu mudar por um momento.

- Aaah, quanto a isso... - eu poderia jurar que ele sorria. Mas um sorriso feio, quase doente. - você não tem que se preocupar, coisinha. Isso eu posso lhe garantir.

O que ele queria dizer? Será que meus dias aqui já tinham acabado? Eu poderia voltar para junto de todos?

Enxuguei meu rosto, me sentindo ligeriamente mais calmo.

- Agora - ele se aproximou de novo, enfiando a mão nos meus cabelos, com um bolo bem considerável deles entre os dedos, e me chacoalhou. - se eu ouvir mais um pio, não vai conseguir ver a sua preciosa Rosinha enfatizou, acrescentando - nunca mais. Entendeu, vermezinho?

Não entendi em que sentido ele quis dizer.

Me machucar...?

Ou pior ainda... machucar Rose...?

Por ela, eu deveria me comportar, caso não quisesse que o homem malvado lhe fizesse qualquer mal. Por ela...

Tive vontade de chorar de novo, só de pensar em algo acontecendo com ela...

Não, não, não. Ela era minha amiga. Isso não podia acontecer!

E se acontecesse... seria tudo culpa minha...

Me encolhi mais ainda, evitando encarar aquele rosto medonho. Ele não podia encostar em um fio de cabelo da Rosie... não podia!

- Apesar de ser um bebê chorão... vejo que fez a decisão certa. - bateu na minha cabeça, e eu me encolhi ainda mais, se é que era possível - até mais tarde, vermezinho.

Ele me deu as costas, sua longa capa negra esvoaçando ao redor, fazendo um vento bater no meu rosto.

Ainda tinha medo dele. Mas o medo que tinha do mascarado não chegava nem perto do meu medo de ver Rose ferida.

Deitei meu corpinho de volta ao chão, tremendo de frio e aflição, abraçando minhas perninhas. A corrente em meu pé chacoalhou quando puxei-o para perto de mim, e paralisei, com medo que o homem voltasse e brigasse comigo outra vez.

Tentei fechar os olhos para voltar a dormir... a única coisa que me era permitido naquele lugar, sem que alguém me machucasse ou reprovasse, afinal de contas...

Der repente, comecei a ouvir gritos.

Meu nome saiu de outra voz, mais forte e segura, embora ainda parecesse aflita.

Apurei os ouvidos, e, com um suspiro que poderia me tirar todo o ar, deduzi que só poderia ser uma pessoa.

Uma das únicas pessoas que diriam meu nome com tamanho fervor.

Papai.

Logo depois, meu nome ecoou por trás das paredes, vindo de outra voz alta, rouca e desesperada, bem mais alta que a de papai.

Eu reconhecia aquela voz também... Atônita, angustiada.

Como eu já havia deixado várias vezes antes.

Senti meu coração diminuir e aumentar de tamanho, tal como um elástico.

Senti meus olhinhos ficarem úmidos, vendo que tinha tido razão em espera-la. Em saber que, uma hora, ela iria me encontrar.

Por que eu era tão importante para aquela garota... quanto ela era para mim.

Rosie.

Meu anjo ruivo.

Ela finalmente viera me buscar.

Juntamente com essa conclusão, outra se fez bem presente na minha cabecinha...

Era hora de proteger Rosie. Ela era mais importante. Ela deveria ser salva. Ainda mais do que eu.

Nem que, para isso, eu deixasse de me salvar.

Meu Pequeno Amor 2 - Segunda GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora