01: A Oportunidade Surge

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     Mais uma semana que começou. Lá ia Anamara para seu banho matinal, a água gelada era de praxe para estar 100% acordada. O sol em plena segunda feira era forte, ela jurava ser capaz de fritar um ovo no asfalto. O tempo geralmente era fechado, com temperaturas baixas, mas naquele dia em especial parecia estar alta. Ou seria apenas a sensibilidade de quem acabou de acordar? Ou exclusivamente de Renault e sua pele sensível ao som? Qualquer segundo exposto ao sol já ficava vermelha. Era por isso que sempre após as higienes matinais enchia seu corpo de protetor. O uniforme da escola também ajudava sua proteção, vestida todo santo dia com o jeans preto, blusa branca com listra transversal em cor vermelha e o All Star da cor de sua calça. Ao terminar, pegou a bolsa e desceu as escadas. Já estava atrasada, respirou fundo, odiava estar atrasada.

    ─── Bom dia Anamara. – A voz de sua mãe a fez revirar os olhos, a relação entre mãe e filha não era uma das melhores. Dona Cassandra sempre tentava fazer de tudo para agrada-la e sempre parecia estar falhando nessa missão. Apesar de quase não se verem, era presente na vida de sua primogênita e unigênita.

    ─── Seria um bom dia se estivéssemos no Caribe ou se eu não tivesse que ir para aquela escola estúpida. – Respondeu ao entrar na cozinha. Bem perto de si uma mesa com pão, manteiga e pela graça de deus a opção de suco ou café. ─── Vai chover!

    ─── Anamara! Pare de reclamar, eu dou muito duro para pagar as suas mensalidades, trabalho não sei quantas horas semanais para te deixar no máximo de luxo ou conforto. E se você procurasse trabalhar para ajudar nas despesas, teríamos condições financeiras melhores. Sabe muito bem disso.

    ─── Tá tá tá. Mas passeio que é bom não me deixa ir. – Não entendia que o dinheiro ganho por Cassandra mal dava para pagar as contas. ─── E por falar nisso, semana que vem a turma quer ir no museu local, depois acamparmos... A senhora me prometeu! Lembra? Me disse com todas as letras do mundo que no próximo eu iria ir. – Contou uma mentira. Sua mãe jamais iria prometer algo daquele tipo.

     A verdade sobre a família Renault podia se resumir em uma jovem, apaixonada, engravidou do primeiro namoradinho e após contar a noticia, foi abandonada. Seus pais a expulsaram de casa. Desde então veio se virando como pode, mais trabalhos, esforços aos extremos até a filha nascer. Quando aconteceu teve ajuda e prosseguiu com a carreira de faxineira. Anos se passaram e já não conseguia ser como antes, o pique parecia estar sumindo a cada segundo de sua vida. Juntava com a preocupação da filha ir para os caminhos errados... Ninguém é de ferro para sempre.

    ─── Ana você sabe... – Pausou a fala. Já sabia que não adiantaria dizer não a ela. ─── Quanto custa esse acampamento? – Cassandra indagara colocando uma mão em sua cintura. Os olhos agora preso no rosto da filha esperando ouvir a resposta.

    ─── 140. – A Renault mais nova disse antes de morder a maçã e olhar para a mãe. A expressão dela era uma mistura de surpresa e tristeza. Estava pronta para pedir que deixasse para lá quando ouviu a resposta menos esperada. Tinha acabado de ouvir que poderia pegar o papel da autorização. ─── Está brincando? É uma pegadinha?

    ─── Eu vou pagar esse acampamento nem que eu tenha que matar sobre encomenda. Veja... - Ela se aproximou da filha para pegar em sua mão, olhando ainda nos olhos prosseguiu com a fala. - Tudo o que eu quero é ver você feliz, minha princesa. Você acha que temos poucas coisas, mas isso é nada, nada disso me importa. Só o seu bem-estar e felicidade me importam.

     Ana – como era chamada pelos mais próximos a abraçou fortemente. De vez em quando esses momentos aconteciam.

    ─── Você não vai mudar de ideia quando eu cruzar aquela porta rumo a escola? - A última vez que ela disse isso Anamara pagou mico na escola. Por que? Depois de ter assinado os papéis e tudo lá, sua mãezinha mudou de ideia e disse que não ia mais ter passeio. E o mico? Foi por conta do barraco pedindo o dinheiro de volta. No final, Elaine – outra patricinha da escola, mas de coração bom e filha da dona do colégio - devolveu o dinheiro com uma condição. Ela (Anamara) teria que lavar os banheiros da escola sem pestanejar e se não fizesse, seria expulsa.

Golpe Da Barriga - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora