[Dias Depois]
Uns acreditam que para alguém nascer é preciso outra pessoa morrer, o famoso ciclo da vida. Enquanto há um indivíduo vivendo os 70 anos, existe um jovem de 17. O que haverá de diferente? A família. As experiências. De qualquer forma, no final, o jovem virá a falecer dando seu lugar para um bebê ou uma criança de sete anos de idade. Numa determinada religião a crença de reencarnação é forte, para eles, é como se fosse dado aquela chance de consertar os erros, talvez a lei de Newton sobre ação e reação pudesse ser aplicada aqui. Todos pontos até aqui poderiam ser usados para expressar e tentar entender a atual situação de Anamara Renault. Seu mundo tinha virado de cabeça para baixo tão rapidamente e mal tinha tempo de respirar. Para início, o que é dor? Dizem que a dor torna o indivíduo mais forte. Dizem que o choro limpa a alma. Dizem que cair nos ensina a levantar. As pessoas costumam dizer muitas coisas, mas será que elas próprias fazem tudo o que dizem? Ex: Quando alguém diz que vai mudar, será que ela ou ele muda de verdade ou apenas finge uma mudança? Dizem que se desejar coisas boas, é preciso que fazer o bem sem olhar a quem. As pessoas também dizem que devemos ser amigos dos nossos inimigos. Dizem que temos que chorar quando um parente nosso morre. Dizem que cada um tem apenas uma vida, mas é incrível como as pessoas gostam de querer viver a vida dos outros. Dizem que não devemos julgar para não ser julgado. Dizem que temos dois caminhos para escolher: O céu ou inferno. Dizem que é preciso escolher o certo. Dizem que temos que escolher tal coisa pois tal coisa está na família. Certo, indo direto ao ponto que interessa: Qual dessas frases poderia ser usar nesse exato momento? No caso de Renault a frase "dizem que temos que chorar quando um parente nosso morre", mas a verdade é que não precisa derramar alguma lágrima para expressar sua dor.
Por debaixo de um coração gelado, a pele de lobo, Ana não passa de uma pessoa frágil, debilitada emocionalmente. Embaixo de um "sinto nojo ao ver um morador de rua" é porque a mesma já se imaginou naquela situação. Por esse motivo, a morena se colocava como garota de aço e gelo ao mesmo tempo.
Onde ela está naquele instante? Em um cemitério. Fazendo? Certamente morando que não é. Era um velório da amiga de sua mãe, em meio caminho andado Anamara aproveitou para visitar uma pessoa querida que já partiu para outro lugar. Seu nome era Alice. Faleceu ainda cedo, mal havia feito 19 anos. Se conheciam por causa do posto de gasolina, ela trabalhava lá e como era caminho para o colégio, simples cumprimentos se tornaram estáveis, depois fixos e se transformaram em amigas. Alice misturou bebida alcoólica com direção, tudo por causa do Philip James, amigo de Pedro Wich, forçou a menina beber na festa mesmo ela alegando estar dirigindo. Na hora do acidente, ainda saiu com vida, até chegar no hospital, entrar em coma alcoólico, por muitos meses vegetava em cima da maca. Seus pais, no décimo mês resolveram desligar os aparelhos. Não reagia mais aos medicamentos, o quadro clinico pior a cada dia. Os custos eram grandes demais para uma família em dividas grandes.
Lentamente, aproximou-se do tumulo de Alice. Ao lado um pequeno buquê de margaridas foi colocado, logo depois, Ana sentou-se. Havia uma foto talvez recente. O sorriso iluminador da ruiva, suas sardas, aqueles fios que costumava voar naturalmente com os ventos fortes ou fracos. Antes de qualquer palavra, duas lágrimas escorreram caindo diretamente na grama verde.
───── Oi Alice, você está bem? Espero que esteja. – Renault demonstrou um leve sorriso no canto direito da boca. ───── Sabe, eu sinto muito a sua falta. Ainda me lembro do seu cabelo natural, seus belos olhos cor de mel.... Cada detalhe seu, eu me lembro. – Sentiu o gosto salgado do próprio choro. ───── Tenho tanto para te contar.... Você com certeza me chamaria de louca, surtada, falaria para desistir... Mas não posso. Estou grávida. Fiz o exame na clínica ontem. – O sorriso foi maior, os planos caminhavam como planejado até aqui. ───── Sobre o pai.... Ele é lindo, cheiroso.... Tem um olhar de matar.... E rico! Podre de rico, amiga.
Continuou contando sobre o planejamento de se tornar rica desde o início até o fim. No meio da conversa ainda aconteceu um tipo de atualização envolvendo o mundo. Meio filósofo aos olhos de Anamara. "Deixe-me dizer algo. O mundo está sendo levado pelo dinheiro, política e pela religião. A gente cresce ouvindo que é preciso trabalhar para ter dinheiro. A gente cresce ouvindo casos de corrupção na Tv. Somos obrigados desde pequenos a escolher nossa religião e nossa! Coitado de quem não escolher a religião predominante na família. Minha mãe está mais firme do que nunca em um tal de Jesus Cristo, eu não entendo! A nossa situação é das piores e ela, ela é capaz de adorar alguém. Como não bastasse, mamãe me quer lá também. Diga Alice, devo dizer que não quero e agradecer? Ou simplesmente abrir mão da minha própria vida e viver a dela? Nossa família nos faz escolher caminhos que talvez não queiramos para nossas vidas", dissera olhando a grama. Diferente de dona Cassandra, Anamara não tem nada de religião em sua vida. Diferente de sua mãe, quase fanática. Não vê que o mundo acabará por causa de crenças ou opiniões divergentes a respeito de política.
Num sorriso fraco, finalizou aquela conversa. Respirou fundo. Tristezas a parte, era hora de cantarolar. Fazia três anos desde que veio a falecer, desde então, em todas as visitas cantava a música favorita de Alice.
[Aperta o player]
───── I can be tough. I can be strong. But with you, it's not like that at all. There's a girl. That gives a shit. Behind this wall. You've just walked through it. And I remember, all those crazy things you said.You left them riding through my head. You're always there, you're everywhere. But right now I wish you were here. All those crazy things we did. Didn't think about it, just went with it. You're always there, you're everywhere. But right now I wish you were here. – Outro suspiro. ───── Damn, damn, damn. What I'd do to have you here, here, here. I wish you were here. Damn, damn, damn. – Tocou a foto de sua amiga. Aquela música revelava um pouco da amizade que tinham. ───── What I'd do to have you near, near, near. I wish you were here. - Por um segundo respirou fundo. A emoção era forte demais, quando se tratava de Alice, Anamara se rendia aos sentimentos como não fazia há muito tempo. ───── I love the way you are. It's who I am, don't have to try hard. We always say, say like it is. And the truth is that I really miss. All those crazy things you said. You left them running through my head. You're always there, you're everywhere. But right now I wish you were here. All those crazy things we did. Didn't think about just went with it. You're always there, you're everywhere. But right now I wish you were here... - Retornara a cantar o refrão quase em um sussurro por conta de sua voz um pouco embargada pelo choro. É difícil perder alguém que um dia foi sua base, a responsável por sorrisos e choros de alegria ,aquela pessoa capaz de te colocar no lugar com um simples olhar. ───── Damn, damn, damn. What I'd do to have you here, here, here. I wish you were here. Damn, damn, What I'd do to have you near, near, near. I wish you were here...
Seguiu cantando até terminar. Ao fundo sua mãe a chamava para irem embora, o enterro havia terminado. Anamara ficou sobre seus pés imediatamente, por haver feito aquilo rapidamente sentiu uma leve tontura e precisou se segurar na lápide mais próxima. Cassandra não sabia ainda que sua filha estava grávida (muito menos sabia do plano), Ana optou por contar bem mais para frente quando não houvesse mais como aquela gravidez ser interrompida. A seguidora de Jesus era contra o aborto, para alegria no presente momento e tristeza no passado da Renault mais nova.
[Continua...]
VOCÊ ESTÁ LENDO
Golpe Da Barriga - Finalizado
ChickLit#1 em interesse: 30/10/2019 #1 em golpe: 26/03/2020 Tudo começa com vontade, depois se torna desejo e temos que correr atrás para realizar. Foi assim com Anamara Renault: Seu desejo era que deixasse de ser pobre, um certo dia viu a chance b...