Prólogo

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Passos silenciosos na noite escura, respingos de água das poças em sua calça. Entre todas as noites, tinha que ter chovido justo naquela. Suas pernas se moviam em frente, mas seus olhos apontavam para todos os lados. Um capuz negro cobria seus cabelos, enquanto ele andava por ruas nas quais nunca havia pisado, sentia aromas que nunca havia sentido e se deleitava com ruídos que nunca haviam cruzado seus ouvidos. Aquele era um mundo que ele não conhecia e talvez jamais pudesse conhecer. Tudo que tinha era um mapa e tudo que podia fazer era fugir para um lugar tão longe que jamais poderia ser encontrado.

Aquele não era o seu mundo.

Seu sangue o havia sentenciado antes mesmo que pudesse dar os primeiros passos. E então escolheram por ele, sua vida ao invés de sua alma, o cárcere privado ao invés do coletivo. Não havia muito o que ele pudesse fazer além de ver o mundo através da pequena janela de vidro do quarto. Foi assim que ele cresceu.

"Você não pertence a esse mundo".

Então agora ele iria procurar pelo próprio mundo, pela própria liberdade. Ele iria fazer o que fosse possível para encontrar seu verdadeiro eu em algum lugar, sua essência e seu povo, mesmo que isso significasse abrir mão do pouco que tinha, mesmo que corresse o risco de acabar sem nada, perdido, destruído. Ele tinha que tentar.

A viagem durou seis dias e esse foi o único momento em seus vinte e poucos anos em que ele pôde ver como viver realmente era. A organização da sociedade, pessoas andando apressadas de um lado para o outro, olhares fixos e vagos nos aparelhos eletrônicos em suas mãos. Ninguém o notava, ele não fazia diferença. Não era tão eletrizante fugir sem ser perseguido, embora seu coração ainda batesse acelerado diante de cada desconhecido que cruzasse o seu caminho. Contudo, ele sabia que viraria um alvo assim que chegasse ao seu destino. A partir dali, o jogo iria começar.

Edan colocou a mão direita no portal e, como se todo o seu corpo tivesse sido sugado, se perdeu na escuridão.

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