Capítulo 3 - Flechas de gelo

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O vento soprava forte quando Tess estava sentada na janela de seu apartamento, olhando para o céu. Edan havia levado Bartolomeu para passear e ela contemplava as nuvens brancas enquanto pensava em um de seus sonhos da infância: voar. Uma vez subiu no telhado de casa e jurou a todos que iria voar, mesmo sabendo que aquilo não era possível. Se seu pai não tivesse a pegado após saltar sem medo algum, ela provavelmente teria quebrado alguns ossos, mas não se importava. A experiência de ter estado no ar, mesmo que por alguns segundos, tinha sido o suficiente. Quando pensava sobre isso, Tess se sentia como um espírito livre, sendo carregada pela brisa como um sopro de esperança. Quão sortudos eram os animais que podiam voar pelos céus, tão distantes do solo e tão perto do infinito, ela pensava.

Ela pegou uma folha de papel e a dobrou com cuidado, fazendo um formato que já lhe era bem conhecido. Quando terminou, um avião de folha de ofício branca repousava em sua mão, dobrado com maestria. Ela sentou novamente na janela e esperou pelo momento certo, como se esperasse pela oportunidade perfeita de abrir suas asas e, quando finalmente teve certeza de que aquele era o sopro de vento que precisava, impulsionou o pequeno avião no ar. Ele planou por alguns segundos, que para ela eram como uma eternidade, até perder força e cair na calçada do outro lado da rua.

- Ei Tess, adivinha só – Edan entrou no apartamento, carregando o pug gordinho nos braços e atrapalhando seu momento de reflexão – Eu fiz um novo amigo.

A garota desceu da janela e o encarou, esquecendo de seus pensamentos por um segundo.

- Quem?

- O nome dele é Thomas e ele é um vampiro.

Ao ouvir aquilo, ela revirou os olhos e sentou em frente ao computador, pronta para abrir seus e-mails e ver se tinha um novo trabalho, como se aquele assunto tivesse trazido-a de volta a realidade. Ela achava Thomas um maluco, fazer amizade com ele não era lá uma coisa que podia considerar legal, mas Edan parecia encantado. Por mais de cinco minutos, o garoto vampiro foi o principal assunto da casa.

- Ele me convidou para ir ao cemitério um dia desses, parece que... – ele se aproximou dela e cochichou, como se aquilo fosse um segredo – os vampiros se reúnem lá para sugar o sangue dos humanos.

Ela tirou os dedos do teclado e o encarou, pasma.

- Você acreditou mesmo nessa bobagem? Vampiros não existem.

- Não existem? Mas ele até mesmo me mostrou suas presas.

Edan colocou os dedos em frente a seus dentes caninos, para dar a ideia de que eles eram grandes. Depois segurou os próprios braços, como se estivesse aterrorizado.

- Você devia ir ver com os próprios olhos então – ela sugeriu – Vê-los sugarem o sangue das pessoas.

- Eu posso?

- Claro, acho que é uma experiência desse mundo que você não pode perder – falou em um tom irônico.

- Você não vai, né?

- O que você acha?

Edan estava aos poucos se acostumando com a personalidade de Tess e começava a fazer algumas coisas sozinho agora que conhecia um pouco as redondezas. Ele gostava de caminhar pelo parque junto com Barto e havia feito amizade com algumas pessoas, como o homem da venda de frutas e uma senhora que sempre levava seu poodle para passear na mesma hora em que ele e o pug estavam no parque. Barto parecia apaixonado por Lilya, a poodle, mas era apenas um amor platônico, afinal Lilya preferia cheirar os cocôs de outros cachorros no gramado do que dar atenção ao pobre Barto.

Ele deitou o corpo no sofá e ficou admirando o teto mofo do apartamento, enquanto pensava sobre todas as coisas estranhas que tinha aprendido hoje. Um vampiro era algo novo para ele, algo que não havia em seu mundo, nem mesmo como ficção. Tess, ao contrário dele, mantinha os pensamentos fixos em um assunto completamente diferente.

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