Capítulo 23 - Espírito da floresta

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Não havia um único ruído na floresta naquele momento, apenas os olhos cor de sangue que o encaravam, tão penetrantes e sombrios. Yarden encarava a si mesmo com a espada na mão e sabia que assim que movesse o corpo, o ser em sua frente se moveria também.

- Edan – ele falou, sem olhar para trás – Leve o resto do grupo para longe, agora!

O garoto puxou os outros pelo braço, mesmo que estivessem tão petrificados que quase não conseguissem se mexer. Assim que os arrastou para o mais longe possível e se escondeu com eles, de forma que conseguissem ver o que acontecida, Yarden atacou.

O ser que era como uma cópia perfeita dele – exceto pelos olhos cor de sangue – revidou logo em seguida. Dotado das mesmas características físicas que ele, sua rapidez para atacar e esquivar o deixava irritado, como se suas habilidades estivessem se voltando contra si.

- Alguém consegue raciocinar o que está acontecendo? Aquele é o irmão gêmeo do cara? – Kris perguntou, confuso.

- Eu honestamente não sei como você conseguiu terminar seu treinamento na escola – Yasmin revirou os olhos – Não consegue ver que os olhos daquele homem são vermelhos?

Kris olhou com mais atenção para a cena, enquanto Yarden voava pelos ares girando sua espada, tentando pegar o desconhecido.

- Ele é um espírito da floresta – Aria disse em um tom sombrio – É um mau presságio.

Espíritos da floresta são seres que vagam pela escuridão da mata sem forma corpórea. Acredita-se que eles perseguem viajantes que estão perto da morte, para tomar-lhes a alma antes que partam. Eles assumem a forma do primeiro humano com o qual trocam olhares, assim como suas habilidades e fraquezas. O nível de poder de um espírito da floresta depende do quão poderoso é o humano o qual ele copiou.

- Isso significa que vamos morrer? – Kris perguntou em um tom esganiçado.

- É só uma lenda – Aria respondeu – Pode não ser verdade.

"Mas pode ser", foi o que Edan pensou, enquanto pegava na mão de Tess e voltava a observar a cena. Yarden estava com rasgos no ombro da camisa e ofegava. Havia um jeito de derrotar um espírito da floresta, ele só não lembrava como...

"Aria, como posso derrotá-lo?" – Yarden perguntou aos pensamentos da garota ao longe.

"Descubra seu ponto fraco" – ela respondeu de prontidão.

É verdade, ele lembrava agora de ter aprendido isso em alguma aula. A única forma de derrotar um espírito da floresta era ataca-lo em seu próprio ponto fraco. Então olhou para seu corpo e soube o que fazer.

A canela. Era preciso ataca-lo nas canelas, o ponto mais volúvel de seu corpo sempre tinha sido aquele. Odiava que encostassem lá, até mesmo as meias o incomodavam. E então, assim que o espírito saltou em sua direção, ele deslizou pelo solo e o atacou por baixo, fazendo um rasgo na canela dele. A princípio nada aconteceu, ele se virou mancando como se quisesse contra-atacar, até que seu corpo se curvou em um uivo de dor e começou a desaparecer, virando uma grossa fumaça preta. Assim que sumiu pelos ares, Yarden recobrou a respiração.

Ele jamais tinha esperado se deparar com um espírito da floresta. Como alguém que havia crescido naquele tipo de ambiente e mesmo assim nunca cruzado com um, significava que as coisas não iam bem. Aquilo era um presságio de morte, a vida de alguém daquele grupo estava perto do fim, mas ele não sabia quem ou até mesmo quantos deles. A única coisa que sabia era que aquele era um péssimo sinal para um começo de viagem.




O grupo parou para dormir mais adiante, num local aberto onde Edan fez uma fogueira com suas chamas. Yarden achava que eles não correriam mais perigo, afinal de contas espíritos da floresta não atacavam o mesmo grupo duas vezes. Mas, mesmo assim, ele e Edan revezariam na guarda daquela noite, para que os demais pudessem dormir sossegados.

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