Capítulo 11 - Guerra?

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Era perto da meia noite quando Tess caminhou devagar e em silêncio até o primeiro andar do prédio, onde ficava a porta que dividia o hotel do prédio dos Estranhos. Ela se sentia como uma criminosa, se escondendo atrás de paredes enquanto observava se o caminho estava livre. Por fim, alcançou a porta sem contratempos, já que a grande maioria das pessoas estava dormindo naquele horário.

"Edan, você está ai?" – ela sentou no chão e se escorou na porta, as mãos tremendo de nervosismo.

Após alguns segundos de silêncio, a voz do garoto ecoou como uma melodia em seu cérebro.

"Sim, não conseguia dormir então vim mais cedo" – ele sorriu.

"Por quê? Aconteceu alguma coisa?" – Tess escorou o rosto nos joelhos, preocupada.

Edan suspirou enquanto encarava algum ponto escuro no meio do saguão vazio. Seu braço ainda doía por conta da injeção que tinham lhe dado naquela tarde.

"Eles injetaram aquilo em mim novamente, aquela coisa que me faz esquecer. Acho que eles estão preocupados, pois eu ainda não me esqueci de nada".

"Isso não é justo... Não é justo que eles possam tirar todas as memórias da sua vida" – Tess se encolheu, chateada.

"Não há justiça por aqui, Tess" – Edan suspirou novamente e escorou a cabeça na porta de metal, sentado no chão na mesma posição que a garota do outro lado.

Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, enquanto Tess pensava no que responder e se havia algo que pudesse ser dito em uma situação como aquela. Ele estava sofrendo e parecia não haver mais nada que ela pudesse fazer.

"E você?" – a voz súbita dele a assustou, tirando-a de seus devaneios – "Como foi o seu dia?"

"Me sinto mal em te contar sobre o meu dia já que o seu foi ruim..."

"Eu ficaria feliz em saber que você teve um dia bom" – Edan respondeu com sinceridade.

"Certo" – ela suspirou – "Neon me levou até a cidade".

A expressão de Edan se tornou um tanto sombria ao ouvir o nome daquele garoto que ele nem conhecia, mas já desgostava muito. Parecia que desde que Tess tinha vindo para Lunadryx, aquele garoto havia se tornado um pedaço de seu corpo e ele não conseguia evitar sentir inveja.

- Por que esse cara sempre está envolvido? – Edan falou com a própria voz e então se deu conta do que tinha feito, olhando assustado para os lados.

Tess se assustou ao ouvir a voz real dele vindo do outro lado da porta e também olhou em volta, com medo que mais alguém tivesse escutado.

"Desculpe..." – ele disse, envergonhado.

"Você está com ciúme?" – Tess provocou.

"Sim".

As bochechas da garota coraram rapidamente ao ouvir a convicção com a qual ele havia respondido a pergunta. Não parecia que ele estava brincando, então seu coração ficou nervoso e ela se sentiu feliz, por mais estranho que fosse se sentir feliz em uma situação como aquela.

"Você gostou da cidade?" – ele perguntou ao perceber que ela não sabia o que responder.

"Sim... É esquisito, por mais que eu não tenha entendido nada do que as pessoas diziam ou do que eu lia, me senti como se estivesse em casa" – ela respondeu com sinceridade.

"Porque você estava. Esse é o mundo onde você devia ter nascido, eu entendo o que você sentiu porque me senti assim também quando pisei em São Francisco".

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