Capítulo 14 - Caverna de vaga-lumes

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As mãos de Neon tremiam enquanto colocava o casaco e se olhava no espelho, meticuloso. Ele não havia vestido algo em especial, afinal de contas nem mesmo fazia questão de ir até aquele local, mas se não fosse, sua mãe provavelmente não o procuraria novamente. Havia muito rancor em seu coração por aquela mulher que o abandonou quando era apenas uma criança, deixando-o aos cuidados de um homem que mal via, que nunca agiu como um pai. Mas ela era sua mãe e seu fraco coração queria vê-la e estar com ela, por mais difícil que tudo aquilo fosse. E então, colocando a chave de seu carro no bolso do casaco, desceu até o estacionamento.

Enquanto caminhava por entre os diversos carros, se perguntava se sua mãe tinha mudado, se tinha envelhecido. Não lembrava bem da última vez que tinham se visto, fazia dois anos... Três anos? Quando estava quase chegando até o carro preto que seu pai havia lhe dado – Valastri era do tipo de pai que achava que presentes caros como o último modelo de um carro supriam o amor paterno – viu que havia alguém escorado no pilar ao lado dele. O garoto piscou duas vezes até conseguir ver quem era e, por um momento, achou que havia algo errado com sua visão.

- Dalton? – ele perguntou, sua mente confusa.

O Estranho o encarava com os braços cruzados no peito e sua típica expressão de seriedade e inteligência superior. Ele não sabia se os Estranhos podiam descer até o estacionamento sem autorização, então achava sua presença ali muito esquisita.

- O que você está fazendo aqui? – disse ao se aproximar dele.

- Você está atrasado, não chegaremos a tempo dessa forma.

Dalton cruzou o veículo, abriu a porta do lado do carona e sentou. Neon permaneceu parado no estacionamento por alguns segundos, segurando a chave do carro nas mãos como se sua mente estivesse fora de órbita. O que estava acontecendo ali?

- Nós temos que partir ainda hoje – a voz do garoto ecoou para fora do veículo.

Quando Neon finalmente conseguiu caminhar até o carro e sentar no banco do motorista, Dalton estava ao seu lado como alguém pronto para um passeio de final de semana, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Ele sentia como se seu cérebro tivesse se desmanchado igual a um ovo frito.

- Sério, o que está acontecendo? – ele perguntou novamente – Por que você está aqui?

- Você não disse que não queria fazer isso sozinho?

- É, mas você é um Estranho, você não pode sair sem autorização...

- Por isso você deve correr, quanto menos tempo eu ficar fora, maior a probabilidade de nem perceberem.

Dalton se escondeu embaixo do banco e encarou Neon, ainda como se aquilo não tivesse o menor problema.

- Me avise quando passarmos pelos guardas do portão.

Neon balançou a cabeça e ligou o carro, afinal de contas eles realmente estavam atrasados. Quando passaram pelo portão sem maiores problemas, Dalton levantou e sentou novamente ao lado dele, um sorriso triunfante nos lábios.

- Diga ao seu pai que a segurança dele anda péssima – ele riu – Podíamos fugir com 10 Estranhos nesse carro e eles nem notariam.

- Meu pai confia em mim o suficiente para me dar passe livre de ida e vinda – Neon riu também – Ele nunca imaginaria que eu faria... Isso.

O Estranho riu e olhou pela janela, eles estavam passando pelos campos que cercavam as Divisões e logo começariam a aparecer as bonitas plantações de Graska. Diferente da última vez, Dalton parecia bem mais relaxado, mesmo que agora tivesse escapado sem permissão. Neon ainda não entendia por que ele tinha feito isso, afinal de contas eles nem mesmo eram amigos. Ou eram?

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