Capítulo 02

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Preciso tirar minha família da miséria...

Agora eu já estava com 15 anos quando eu voltava da escola indo para casa, eram 18 horas. Eu vi aquele senhor que eu o assisti por anos os seus treinos. Caminhando lento e tranquilo, ele foi até a cerca conversar comigo pela primeira vez em Sete anos:

— Boa tarde rapaz, como você se chama?

— Lizandro, e o senhor?

— Sou Miguel, dono da floricultura na praça!

— É longe daqui a cidade, anda bastante para vir treinar todo dia.

— Sim é longe, mais eu corto caminho pelas trilhas nas montanhas. Aqui são fazendas, você mora em alguma delas aqui por perto, Lizandro?

— Não Sr. Miguel, lá olhe — Apontei — Lá, é a minha casa. Nada confortável, mais é o que meu pai deu para vivermos eu, a mãe e meus dois irmãos.

— Aquela vez, eu vi você ser o filho do Pietro.

Entristeci baixando a cabeça, ele relembrou o dia da surra que eu levei do pai por que eu estava observando os treinos dele — Sim, eu sou, senhor!

Silenciei, ele falava pausadamente, entre uma e outra respiração, propôs-me — Vejo por anos você me observa tourear nos meus treinos. Tem interesse por acaso, rapaz?

Ele sorriu, me ajeitei sentado na cerca, estava inquieto — Acho bonito os movimentos que o senhor faz com o manto, cada vez que grita seu, Olééé — Ele gargalhou gostosamente —

— Gostaria de aprender a tourear, Lizandro?

Saltei da cerca nos pastos dos touros, sorriso largo e meus olhos azuis acinzentados brilharam de alegria, meu coração descompassou — O senhor pode me ensinar a tourear?

Assentiu num largo sorriso — Certamente. Vai que tem um toureiro profissional escondido dentro de você e eu não sei. Eu ensino com gosto, rapazinho — Piscou sorrindo —

Não me parecia mais aquele carrancudo e sério como era antes de falar comigo — Tem medo do animal, Lizandro?

— Não tenho, Sr. Miguel. Eu tiro leite das vacas de três fazendas, deve ser parecido.

Ele gargalhou gostosamente — Parecido com tirar leite de vaca?

— Não senhor, parecido com chegar perto de um touro. Vaca, touro, senhor Miguel, entendeu?

— Até que foi uma boa comparação de uma vaca para um touro — Gargalhou — Porém, é bem mais complexo tourear do que ordenhar uma vaca, menino Lizandro.

— Me ensina, pego o jeito ligeiro, o que eu faço?

— O que tem visto eu fazer todos estes anos. Faça!

Naquele "Faça" que ele disse, gelou meu estômago, olhei no touro bufando no pasto. Correu um frio de insegurança, eu via ele treinar e não parecia ser nada fácil e não era mesmo. Ele estendeu o braço entregando sua capa para tourear o touro dele, peguei-a decidido. Lembrei passo a passo do manuseio do manto como nos treinos que assisti por anos. Da postura ereta ao bailar dos pés. Cada passada do touro por mim, eu gelava. Fiz o que eu observei anos ele ter feito e o touro se cansou depois de 40 minutos e desistiu de me enfrentar.

Sr. Miguel aplaudiu-me entre assovios e sorrisos. Ele me abraçou muito forte — Parabéns Lizandro, você nasceu para ser um grande toureiro, acredite no que eu digo.

— Obrigado, Sr. Miguel.

— Vou te treinar todos os dias que você puder vir treinar comigo. Você tem um grande futuro como toureiro profissional pela frente. Parecia que você já era um toureiro profissional. É inacreditável o que eu presenciei vindo de você Lizandro, que nunca toureou antes.

Chuva de Rosas o Diário de um Toureiro - Livro 01 -Onde histórias criam vida. Descubra agora