Bordeaux

10K 778 65
                                    

O sol preencheu o quarto de Madison, levantei e me sentei na cama ainda pensativa. Estava séria, mas sabia que fechar a cara não ajudaria em nada e nem ser gélida com todos ao meu redor. Madison está dando o melhor e tudo que pode para que eu possa finalmente aceitar que tudo acabou.

Entretanto, eu sentia que esse não deveria ser nosso final.

Dei os ombros e levantei da cama ainda sonolenta, Madison não estava no quarto então desci as escadas chamando pelo seu nome.
No final, ela não estava mesmo em casa.
Coloquei meu café e comecei a comer no sofá sentindo uma estranhável solitude, seu apartamento sempre me era estranho. Madison mora aqui em Paris sozinha, seus pais ricassos moram na California e a garota sempre me chama para que possamos passar tardes juntas, porquê segundo a mesma, os dias comigo parecem passar mais rápido.

Eu não entendia o motivo de alguém querer tanto que o dia passasse rápido... Mas depois que você percebe que se tornou uma alma solitária, tudo o que menos precisará, é de tempo consigo mesmo.

- Carlyzinha!

Madison disse entrando e gritando, acordei desses pensamentos obscuros e logo a olhei animada.

- Mad, o que é isso tudo?

Perguntei olhando os sacos e mais sacos em sua mão.

- Você fez aniversário recentemente e eu não pude te dar nada, mas hoje eu trouxe presentinhos.

Ela disse se sentando eufórica no sofá.

- Mad, seu apelido nunca combinou tão bem com você... Sua louca.
- Não precisa gastar seu dinheiro comigo amiga.

- Ai... Como se isso fosse problema, né?!

Ela disse colocando um saco com um amontoados de livros presos a um laço cor-de-rosa.
Coloquei minha xícara de café no chão e abri o saco, me surpreendi ao ver os livros que eu mais queria ler desde que saiu na primavera deste ano.

- Aí meu Deus... São os que saiu da Trice Stefan!

Falei enlouquecendo.

- São sim, são todos dela, sei que você queria demais...

- Obrigada, ah, eu te odeio.

Falei abraçando-a fortemente, odiava ser a chorona mas sabia que já já meus olhos iriam ficar marejados.

- Também te odeio... Ah, tem outra coisa para você.

Ela falou desfazendo o abraço. Foi quando abriu uma caixa branca e tirou de lá um par de coturnos pequenininhos...

Pus a mão na boca espantada.

- Olha esses coturninhos para meu sobrinho ou sobrinha, que seja... Olha só isso, é maldade!

Ela disse franzindo a testa, peguei aquele minúsculo cortuno e mordi os lábios segurando-me para não chorar. Era bem o estilo de Alec, ele provavelmente sairia mostrando para todos seu único e primeiro filho... Essa criança seria muito amada por nós dois.

- Carly, não chora... Eu não comprei para você se sentir mal.

- Eu sei, eu tô feliz Madison... Sério, obrigada amiga.

Menti, menti feio. Se havia uma coisa que eu não senti desde que fui "resgatada", foi felicidade.

XXX

Eu não poderia ficar nem mais um segundo aqui, precisava encontrá-lo.

Ainda era dia e o sol estava forte, coloquei um vestido rosa claro que continha mangas bufantes e delicadas ao mesmo tempo. Calcei meus tênis e desci as escadas correndo, Madison me encarou incrédula.

- Carly, vai sair?
- Se quiser eu te dou uma carona, porque vou sair com um cara agorinha.

Ela disse passando um batom, Madison nem precisava se arrumar já era demasiadamente atraente e só um batom vermelho era o suficiente para que a presa pudesse cair.
Mas eu não precisava da sua carona, ninguém poderia saber que eu estava indo fazer o errado.

- Não, obrigada, eu só vou aqui do lado na Marnie.

Falei aleatória.

- Marnie? A gente não fala com aquela garota desde a quinta série...

- É, eu sei mas ela disse que quer me ver... Tchau, te amo.

Falei saindo apressada.

Não sabia onde ficava a mansão de Alec, mas era notório que não era aqui em Paris... Perguntei ao policial que me trouxe onde era e fiquei surpresa em saber que estávamos em Bordeaux e eu deveria saber que era lá por contas das viniculas... Mas foi difícil assimilar tudo, Alec deve ter feito o caminho pela via A20, pois demoramos.

Olhei para o ticket do ônibus e senti um frio na barriga, nunca achei que voltar seria muito mais aterrorizante do que ir.

XXX

Desci do ônibus e olhei para o relógio em meu pulso, que tristemente indicava 22:00 da noite. Eu sabia onde ficava a casa dele pois agora não era muito longe. Decidi não ir rápido, queria aproveitar mais um pouco de Bordeaux.

Deveria ter vindo aqui mais vezes, a cidade sempre fora muito bonita e cheia de vida. A colheita das uvas acontecem entre setembro e outubro e muitas cerejeiras crescerem por aqui.
Me apoiei no muro que me permitia ver claramente a basílica de São Michel, um local de muita importâncias para os católicos da região.

Algumas garotas passaram por mim abraçadas, derramavam cervejas de seus copos e elas estavam alegremente bêbadas! Sorri de pensar que poderia ser eu e Mad, me encolhi no casaco e respirei fundo encarando a imensa torre da basílica...

- Eu só quero que tudo fique bem.

Sussurei para os céus e mares.

Decidi prosseguir meu caminho e não demorou muito para o casarão de Alec aparecer, era o mais bonito e neoclássico.
A sensação de nostalgia me fez correr até o imenso portão com euforia, mas ao perceber que o local havia sido isolado, logo fiquei cabisbaixa.

- Não pode ser...

Falei pondo a mão na boca, dentro de mim havia uma mistura de ódio e tristeza... Não deveria me espantar.
Estava destinada a ir para minha casa, mas uma luz em um dos quartos da mansão ligou repentinamente.

Não tive outra opção a não ser correr até a casa. A porta estava aberta e tudo mantinha-se gelado e escuro, como se eles tivessem fugido esquecendo o ar-condicionado ligado...

- Alec?

Gritei trêmula.

- Alec?

Alguém disse de volta para mim, aquela voz arrepiou-me a espinha... Engoli seco dando passos para trás pretendendo fugir.

- Sentiu minha falta, Carly?

Ele disse correndo até mim, era Caio.

Foi uma armadilha e eu caí sem nem mesmo perceber...

- Hoje, será a noite da sua morte.

Sequestrada | COMPLETO |Onde histórias criam vida. Descubra agora