Cap. 12

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Era um quarto com paredes brancas descascadas. Com poucos móveis, eu só conseguia enxergar uma cama, um guarda roupa e um relógio pendurado na parede, o mesmo fazia um barulho irritante. Eu estava no mesmo estado de quando Lucas me falou que eu iria ter que paga-lo, mas não com dinheiro.
Eu estava com medo de que meu sonho se tornasse realidade.

*tec tec*

A cada barulho que o relógio fazia era uma lágrima escorrendo pelo meu rosto.

*tec tec*

Minhas mãos soavam.

*tec tec*

Meus pés formigavam.

*tec tec*

Minha barriga doía indicando a fome e o medo de algo de errado acontecer.

Será que estavam procurando por mim?
O relógio indicava 7:17 da manhã. Já se passava seis horas desde que Lucas me trouxe para esse lugar.
Ele disse que se eu tentasse algo para sair daquele lugar, ele iria ter que tomar algumas providências como me amarrar.
Eu estava pensando em como iria escapar, pensei em meu celular.
Passei a mão pela minha roupa e não o encontrei, olhei em volta procurando um solução e vi um celular, o meu.
Levanto da cama devagar, ando em direção ao celular e volto para cama.
Tento desbloquear, mas a senha não estava indo, talvez porque eu estava tremendo demais.

Ouço um barulho e escondo o celular dentro do travesseiro, deito e tento fingir estar dormindo.

- Ora, Ora. Como alguém dorme tão calmamente nessa situação? – Ouço Lucas falando sozinho. – Será que devo acorda-la?

Me viro para ele com olhar de frustração e ele sorri para mim, mostrando seu sorriso medonho.

- Acordou bela adormecida? – Ele me olha esperando por uma resposta, mas eu apenas o ignoro. – Não vai me responder, querida?

- Por que você não acaba logo com isso?

- Não seja tão apressada, docinho. – Ele vem em minha direção e passa a mão pelas minhas pernas. – Já eu volto e eu irei cobrar. – Ele diz indo em direção a porta e a fechando.

Aproveito e pego meu celular agora com mais calma e desbloqueio.
Procuro nas mensagens o grupo para que todos vejam.

Olimpíadas
Alisson, Amanda, Bat, Belly, Gabi, Gus, Lucas, Mandix, Mands, Maria, Marcos Brayam, Rebeka, Robert, Eu

Eu: Estou com Lucas. Bão estou ben. Ele quer tentar algo cinugo. Nao sei onde estiu. Avisem mubha mae. Amo vocds

Mando a mensagem e não espero para desligar a internet e deixar o celular no silencioso.

O relógio indicava que passou uma hora desde que ele saiu de lá, até que ouço o barulho da porta destrancando. Era agora.

– Você já deve saber com o que deve pagar. – Ele diz entrando no quarto.

Ele estava se aproximando e noto que sua mão direita estava segurando uma faca. Engulo em seco e ele passa a faca por minhas pernas. Sua mão esquerda estava segurando cordas que após terminar o turismo da faca por meu corpo, ele começou a me amarrar na cama. Colocando no fim uma fita em minha boca.

Percebo que o pagamento não era o que eu pensei ser após ele fazer com a faca um símbolo que eu não conhecia em minha barriga.
Doía muito, minhas lágrimas se confundiam com meu suor de angústia.
Seu amigo entrou no quarto com medo de Lucas, colocando velas em volta da cama.

Eu estava urrando de dor e eu queria gritar, mas a fita não deixava.
Ele estava fazendo marcas que parecia um crucifixo de ponta cabeça pelo meu corpo.
Até que ele para e olha para seu amigo confuso, seu amigo vai para fora do quarto e ele o segue. Eu consigo ouvir alguns murmúrios mas não consigo entender o que é dito.

Se passaram 17 minutos desde que eles foram para fora, deixaram a porta aberta e se eu não estivesse presa não pensaria duas vezes em sair dali.

Ouço passos apressados vindo em direção ao quarto, eu estava rezando para que não fosse eles e talvez Augusto? Eu estava brava com ele, porque ele novamente beijou a Mands, mas isso não era hora para discutir esse assunto.

Um corpo apareceu na porta, eu não conseguia ver quem era, mas conseguia ver sua sombra. Ele se aproxima e eu reconheço que é meu pai (?)
A última pessoa que eu pensaria que iria me tirar daqui. Ele se aproxima mais ainda e começa a falar.

- Olha onde você se meteu, minha filha. – Ele diz apreensivo pegando a faca deixada por Lucas.

Penso que ele iria me matar, porque ele não era quem eu pensava ser, mas ele estava cortando a corda que me arramava e depois com cuidado tirou da minha boca a fita.

Eu consigo me levantar e vejo que eu sangrava muito e ao lado das velas tinha um  pote com sangue. Talvez meu sangue.

A polícia chegou minutos depois, começando por uma busca por aquele lugar.
Até que nos acharam e nos levaram para fora naquele quarto.
O lugar onde Lucas me trouxe era muito assustador, parecia um labirinto. Eu iria me perder se estivesse sozinha naquele lugar.
Depois de andar o suficiente consigo enxergar a claridade de fora e o sol que fazia nessa tarde.

- Obrigada – Falo ao meu pai. Eu não queria saber como ele me achou e nem mesmo queria estar perto dele.

Minha mãe estava encostada no carro dele chorando, seu rosto não negava o quanto ela estava preocupada, do seu lado não pude deixar de notar que tinha um garoto. Augusto.
Mamãe me vê saindo daquele lugar horroroso, seu ar de preocupação vai embora e um sorriso aparece em seu rosto, ela vem correndo em minha direção me abraçando e perguntando se estou bem. Ela se afasta de mim notando que eu estava sangrando muito, vê as marcas pelo meu corpo e isso faz que a preocupação volte. Ela estava com a boca aberta tentando deduzir o que aconteceu.
Eu não disse nada, não conseguia falar, estava transtornada.

Augusto vem em nossa direção, seus olhos o entregavam que estava chorando. Uma pequena lágrima passeia por minha bochecha ao lembrar do que vi ontem à noite.

- Bia, eu... te amo. –  Ele diz vindo me abraçar, mas eu recuso e abraço minha mãe.
Ele parece notar que eu não queria o ver, então abaixa a cabeça e vai andando em direção ao carro.
Confesso que meu coração estava apertado por fazer isso com ele, mas era o certo. Ele me traiu.

- Você nem o deixou explicar. – Minha mãe fala percebendo o que acabou de acontecer.

- Eu não quero saber dele agora. Se eu quase fui usada para um ritual a culpa é dele.

Vou em direção ao carro e me sento ao lado dele não me importando com o sangue saindo de meu corpo.
Estava torcendo para que ele não tentasse falar comigo.

- Eu te amo. – Ele diz olhando para seus pés.

Eu coloco a mão em meus joelhos e minha mãe entra junto com meu pai.
Espero ele ligar o motor e sair com o carro para dizer.

- Eu também.

Augusto me olha com um sorriso e eu continuo olhando para os meus joelhos, olhando de canto de olho vejo que seu sorriso se fechou e ele encostou no banco.

O lugar que eu estava era longe da cidade, era uma estrada de terra, em volta tinha mato e árvores enormes.
Depois de muito notar vejo a estrada em asfalto.
Encosto minha cabeça na janela e começo a pensar.
Nada é como você pensa ser, nada é como é. As pessoas são más e por isso são capazes de tudo.
Não sei o que Lucas queria com aquela coisa, mas o seu olhar demonstrava ganância e ele estava ansioso. Demonstrava que aquela coisa era o que ele queria a muito tempo.

DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora