08/03
Após enviar o email, escuto a campainha tocar. Hoje não fui a escola, não tive disposição para levantar da cama.
Olho no olho mágico e vejo que é Augusto. Isso é sério?- O que você quer?
- Será que dá para você abrir a porta? - ele pergunta
- Minha mãe me ensinou a não abrir a porta para estranhos.
- Eu não sou estranho.
- É sim.
- Augusto, sou seu vizinho e estudo com você. Será que pode abrir agora?
- Não - digo abrindo a porta.
- Certeza? - ele pergunta após me olhar de baixo para cima.
- O que você quer?
- Boa tarde, Bia. Tudo bem? - ele diz com ironia, ignorando a minha pergunta.
- O que você quer?
Meu coração queria que ele dissesse "você". Sério que até você está contra mim Sr. Coração?
- Conversar. Posso entrar? - ele pergunta apoiando-se na porta.
Abro espaço para ele entrar e falo para me esperar na sala. Vou correndo até o meu quarto para trocar minha roupa. Não sou dessas que fica trocando de roupa para impressionar, eu só estava de pijama.
Vou até a sala e vejo ele olhando o porta-retrato na estante.- Quem é? - Ele pergunta curioso.
- Meu pai. - ele olha para mim e eu continuo. - Ele morreu.
- Desculpa. - ele diz solidário.
Confesso que fiquei com dó de mentir assim para ele, mas a culpa é da minha mãe que mantém esse porta-retrato na estante.
- Não me importo.
- Então, Bia. - ele continua. - Por que ontem você veio embora sem se despedir?
- Sério que você se incomodou só para isso? Quer mesmo saber?
- Sim
- Não é da sua conta - digo indo em direção a porta para ele ir embora.
- Eu não vou sair daqui até você me responder - ele diz cruzando os braços.
- Então eu vou até o meu telefone, vou ligar para portaria e dizer que tem um morador no meu apartamento enchendo o saco
- Olha, Bianca. Se for por algo que eu fiz, é só falar - Ele diz segurando meu rosto.
- Vai embora.
- Está bem. Não sei o que eu fiz, mas eu vou descobrir - Ele diz saindo de meu apartamento
Meu coração dizia que era para faze-lo parar e contar tudo o que eu sentia, mas eu não podia, não depois da noite na praia.
- Espera - Droga, eu tinha mesmo que fazer isso?
Ele para e olha para trás esperando que eu continue. Seu rosto demonstrava esperança.
- É que... - falo olhando para baixo.
- Bia, pode dizer. Confia em mim.
- Eu gosto de você.
- Eu também gosto de você - Ele se aproxima - Você é uma ótima amiga.
- Não.
- Não o que, Bia? - ele pergunta - Claro que gosto.
- Eu quero você
O silêncio toma conta por uns segundos que parecem ser décadas se passando.
Por um momento ele abre a boca para falar, mas nada sai.- Pode ir agora, por favor.
Ele não disse nada, apenas saiu e entrou em seu apartamento. Sr. Almir, meu vizinho da frente viu tudo e sem jeito me ofereceu um biscoito de polvilho.
Eu não queria ficar em casa trancada em meu quarto, então resolvi chamar Lucas para ir em algum lugar. Ele não era uma boa companhia, mas era a única.
Lucas disse que me levaria para um lugar melhor e eu então dei minha confiança a ele. Deixei para minha mãe um aviso na geladeira e uma mensagem em seu celular, disse a ela que sairia com Rebeka e talvez voltaria tarde com seus pais.----------------------------------------------------------
- Uma festa? - perguntei. - Você acha que eu me sentiria melhor indo a uma festa?
- Tenho certeza - disse ele rindo - Cheire isso aqui.
- Lucas, você pode me levar para casa? - falei seguindo ele para um quarto.
- Senta. - ele ordenou - Senta agora.

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Desastre
Ficção AdolescenteA vida para Bianca não é nada fácil, ainda mais acompanhada com seu velho amigo Desastre. Diário pessoal (ou não) de Bianca.