Capítulo 6

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Bato a porta do carro com força ao entrar. Meus nervos estão à flor da pele e eu juro que mais um pouco e meu corpo pode entrar em combustão, literalmente. Isso mesmo, queimar de raiva. Se não era possível, agora é.

– Ei! Qual é o seu problema, garota? – Ele ralha.

– Qual é o seu problema, Adam? Meus pais morreram e você nem se deu ao trabalho de me avisar quando seria o enterro! – Respondo quase gritando, a cada segundo meu ódio aumenta.

– Eu pedi para te avisarem, não é minha culpa se Stelly não seguiu minhas ordens! – Rosna.

– E se eu fiquei em casa o dia inteiro, o que custava você gastar um pouco de saliva para falar comigo? Stelly não precisa saber de tudo e muito menos é culpada por tudo. – Digo, revirando os olhos.

Se antes o varapau musculoso não exibia nada além de raiva no seu semblante, isso mudou em questão de segundos, porque ele riu alto do meu comentário. Não o julgo por isso, acredito que está para existir alguma coisa que possa ser mais irônico que eu defendendo a reptiliana.

– Taí algo que eu não esperava. – Adam comenta com um sorriso maldoso. – Você se posicionando a favor daquela inútil! Que comédia!

Endureço meu rosto e cruzo os braços, suspirando.

– Quero uma resposta, o que te custava me avisar? Sente tanta antipatia por mim que nem me deu uma chance de me despedir deles?

O sorriso em seu rosto deu lugar a um longo suspiro, como se minha raiva fosse de pouca importância. Ele realmente está pedindo para ser espancado.

– Pelo amor de Deus, por que bater na mesma tecla se eu não posso mudar nada? Quer que eu os desenterre e faça uma outra cerimônia agora? – O varapau rebate. Sua voz exala tédio.

Eu estou sentindo uma vontade inenarrável de pedir para Adrian parar o carro e me deixar esfregar a cara do meu oponente no asfalto. É pedir demais? Pois eu tenho certeza que não. Inspiro profundamente, criando tempo para uma fala que faça com que ele repense sua atitude.

– Só quero saber o que te faz ser tão estupidamente ridículo.

Aí está o olhar um tanto quanto ofendido que eu estava esperando. Ótimo. Li num livro que, durante uma briga, se você deixar a outra pessoa com raiva, ela vai acabar falando uma coisa sem sentido ou se contradizer e você pode usar isso contra ela. Isso já funcionou para mim nas raras ocasiões que precisei, tenho certeza que vai dar certo de novo.

– Veja lá como fala comigo, sua petulante! – Rosna ele, apontando o dedo para mim.

Sei que ele mal me conhece, mas ele deveria ter consciência de que isso é a pior coisa que poderia ter feito. Sério, isso irrita mais ainda. Desvio sua mão bruscamente e aponto seu rosto, para ele sentir o quanto incomoda.

– Veja lá como você trata as pessoas! – Rebato com a voz dura e dos meus olhos saem faíscas.

Vejo as sobrancelhas dele se arquearem um pouco, pego de surpresa. Sua boca se abre ligeiramente. Parece que o jogo virou, penso com ironia. Talvez eu esteja alucinando, mas acredito que há um rascunho de sorriso se formando nele. Pisco e ele está carrancudo de novo. Estranho... 

Desvio minha atenção para a paisagem e tapo meus ouvidos para o resto do mundo durante toda a viajem de volta à mansão. Tenho certeza que o varapau esteve, durante todo o trajeto, rosnando para mim, mas, ah, quem se importa? Ele sequer se deu ao trabalho de me avisar sobre o enterro, merece um pouco do meu silêncio, mais ainda do meu desprezo. Isso somado ao fato de que se eu abrir a boca, é bem provável que eu caia na minha própria armadilha. Sou mais esperta que isso. Assim espero, pelo menos.

Sombras da Luz (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora