Capítulo 17

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– O que aconteceu ontem? 

Adam me lança um olhar surpreso. Eu não esperava nada além disso, para ser sincera. Acabei de acordar, escovei os dentes e saí em disparada para procurar o quarto dele, minha sorte foi ter esbarrado com ele logo quando pisei no corredor. Olha para os lados e me conduz de volta para dentro, fechando a porta atrás de si, recostando-se contra ela.

Desce os olhos para o chão, o arrependimento e a culpa ainda não saíram do seu rosto.

– Eu não sei, Belle... Não sei mesmo. 

Cruzo os braços, pensativa. Sei por experiência própria o que acontece quando sua raiva passa dos limites, mas tentar me bater? Não tinha motivo algum e naquela última briga que tivemos, a pior de todas, quem esteve perto de usar agressão fui eu, e isso não é algo que eu faria se a situação não fosse extrema.

– Sentiu alguma coisa diferente? Tontura, dor, sei lá?

– Nada, eu sabia o que estava acontecendo, mas não conseguia parar. 

Assinto, sem olhá-lo. As palavras se formam na minha mente, mas eu precisei de alguns segundos para conseguir dizê-las.

– Adam, você... quis me machucar?

Um silêncio se instala. Percebo que cerrou os punhos e o maxilar. 

– Se acha que precisa me perguntar uma coisa dessas, você não me conhece. – Murmura, irritado, antes de sair do meu quarto.

Por mais que eu confie nas suas palavras, a suspeita de que pode acontecer mais uma vez não livra meus pensamentos. E o medo me acompanha. Adam me pediu para não me envolver neste assunto, mas se houver algum registro de outro Beamont que se tornou agressivo pouco antes da transformação ajudaria um pouco. Claro, teve aquele que tentou quebrar a redoma, mas os detalhes são poucos demais para eu ter certeza.

Terei que procurar enquanto ele estiver na empresa, até lá, tentarei passar meu dia como se não tivesse acontecido nada de errado. O que não funciona, porque Peter estala os dedos na minha frente.

– Estou falando com você, Belle.

Pisco duas vezes, surpresa.

– Ah, desculpa. O que disse?

Ele revirou os olhos, suspirando.

– Você está bem avoada hoje, aconteceu alguma coisa? – Indaga, percebo uma breve desconfiança passar pelos seus olhos.

– Não, por que a pergunta? – Respondo, ajeitando o cabelo, um pouco desconcertada.

– Eu só... reparei. – Coça a nuca, desviando o olhar.

Tive que morder a língua para não cair na gargalhada. Peter é um péssimo mentiroso. À essa altura, é óbvio que Susan e Jake já compartilharam suas preocupações com ele. Forço um sorriso.

– Só estive pensando na prova da Vendrame. Não achei que seria difícil. Não achei que ia ser otária, fui otária.

Peter riu. Se eu conseguir uma abertura e ficar mudando de assunto, provavelmente ele esquecerá de me investigar. 

Foi o que fiquei fazendo até voltar para casa. Subo até o quarto, jogo a mochila na cama e caminho até a Ala Oeste. Talvez tenham mais cartas escondidas lá, diários dos antepassados de Adam ou qualquer coisa do tipo. Corro os olhos pelo lugar à procura de um baú ou alguma caixa. Nada. Checo os móveis antigos, talvez tenha algo escondido dentro deles, um fundo falso, nada. Algum cofre atrás dos quadros? Não.

Piso com força no assoalho, tentando encontrar uma tábua solta. A única era a que Adam me mostrou, com cartas do seu pai e da sua avó. Solto um resmungo indignado. Retiro a tábua, destampo a caixa e pego-as na mão. As de Layla eu já li, mas as de Willian... Ah, as de Willian. Sei que não tenho direito nenhum de ler, mas a vontade é arrebatadora. Solto um grunhido irritado antes de guardá-las. 

Sombras da Luz (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora