Capítulo 14

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Desde quando ele me beijou, eu tenho o ignorado. Seria mentira se eu dissesse que eu não gostei do meu corpo entrando em combustão e das palavras que ele disse antes de me puxar para si. Talvez eu esteja me iludindo como uma criança na noite de Natal, talvez ele tenha sido sincero, mas o que me deixa com raiva é o fato de ele ter me beijado só para sair da Salinha Geek.

Mesmo tendo isso em mente o tempo todo, aquelas palavras me perseguem e me roubam o sono. Você é a única que me impede de simplesmente largar o bom senso, Belle, você é a minha lucidez, como eu conseguiria dormir depois disso? Como qualquer outra pessoa conseguiria? Meu coração acelera quando penso naqueles sussurros, mas a voz da razão ordena que eu as esqueça e siga em frente. Ela me diz que o coração só faz besteiras, e eu concordo.

A semana passou como um piscar de olhos para mim. Hoje à noite, eu e meus amigos iremos ao Blue Space comemorar o meu aniversário, não é a primeira vez que vamos lá, foi há poucos meses, quando Jake completou os seus dezessete, música alta e dançante, quem não adora um lugar desses? Tenho algumas horas para começar a me arrumar e, no momento, estou aproveitando esse tempo devorando uma torta alemã. Sozinha.

– Sabe que temos outras pessoas que também gostariam de comer isso, não sabe?

Reviro os olhos, o que ele quer agora? Aparentemente, Adam é um ser insistente sem conserto: quanto mais eu o ignoro, mais ele tenta se aproximar. Olho-o de esguelha e pego mais uma colherada da torta, inexpressiva.

– Até quando vai continuar a me ignorar? – Resmunga.

Aí está uma excelente pergunta, reviro os olhos. Arqueio uma sobrancelha para o nada e como mais um pedaço. Sei que o que estou fazendo parece birra de uma menininha de quatro anos, mas aquele beijo ficou na minha cabeça e, eu odeio admitir, senti aquelas malditas borboletas no estômago.

Mesmo sem olhá-lo, sei que carrega um sorriso debochado no rosto, daqueles que fariam alguém sentir as pernas bambas. Odeio quando ele sorri assim.

– Pode me ignorar à vontade, Belle, pode continuar com raiva de mim, mas eu quero que saiba que você vai acabar cedendo.

Antes que eu pudesse lançar-lhe um olhar de desafio, ele pousa suas mãos nos meus ombros. Meu corpo gelou pelo susto por um segundo antes de começar a aquecer. Se Adam percebeu isso, tenho certeza que seu sorriso foi de debochado para vitorioso e convencido. Seus dedos desviam meu cabelo para o lado, deixando à mostra minha orelha esquerda.

– Porque sei que você gostou tanto quanto eu. – Sussurra tão perto de mim que consigo sentir o seu perfume. – Assim como sei que você está amando isso.

Sua última frase serviu para eu acordar de um transe que eu nem percebi que tinha entrado. Aposto que foi o maldito perfume! Minha cabeça tinha tombado para o lado, numa silenciosa permissão para ele se aproximar, para me tocar, para sussurrar e para depositar um beijo no meu pescoço. Esse pequeno gesto, somado à sua voz, ao seu hálito quente na minha pele praticamente invocou as borboletas mais uma vez e eu preciso que elas se aquietem.

Respiro fundo antes de largar a colher e me levantar, queria compartilhar da habilidade que ele tem de se transformar em gelo e sair com a elegância de um cisne, mas eu sei que minhas bochechas me denunciaram. Não quis encontrar o seu olhar para me deparar com a vitória estampada, então me concentrei em apenas sair da cozinha e correr para o meu quarto.

Chegando lá, deixei minha playlist de rock favorita tocando para poder me arrumar em paz. Duas horas depois, saí com um par de saltos, uma saia curta, uma jaqueta de couro, delineador e um sorriso no rosto. Este último sumiu assim que eu lancei um olhar às escadas, aos tantos degraus em frente e a possibilidade de cair e quebrar o pescoço. Agarro com força o corrimão, lutando para manter meu equilíbrio enquanto descia.

Sombras da Luz (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora