– Belle Levy.
Solto um breve suspiro, uma mania que tenho sempre que recebo provas ou redações. Depois de Adam e eu voltarmos para casa, no sábado, escrevi o que tinha que escrever em poucos minutos e devo admitir que senti orgulho das palavras. Espero ter conseguido uma boa nota, porque nem sempre eu sinto vontade de esfregar uma redação na cara das pessoas.
Caminho até o professor, que me devolve uma cópia da dissertação com um sorriso no rosto. Uso todo meu autocontrole para não franzir a testa, o Sr. Walst sorrir é tão raro quanto uma pedra de Opala. Retribuo o sorriso com as bochechas coradas antes de me dirigir ao meu assento.
Tenho certeza que algo de errado não está certo.
Releio o texto uma, duas, três vezes antes de perceber que ele não me deu nota e que não há nada escrito nela, nenhuma correção, um comentário, nada. Solto um breve suspiro, terei que falar com ele no final da aula.
Olho por cima do ombro para Peter, que, por sua vez, não tira os olhos do papel que recebeu.
– E aí? Como foi?
– Uma decepção. – Bufa. – E você?
– Tenho certeza que não foi tão ruim quanto diz ser e aqui não tem nota. – Respondo, apontando o meu papel.
Peter arregala os olhos e arqueia as sobrancelhas, numa óbvia careta de surpresa. Sei o que ele está pensando: o Sr. Walst é a pessoa mais perfeccionista que conhecemos, não deixaria passar um errinho tão bobo quanto este.
– Parece que o velho está começando a ficar gagá. – Peter solta sem nem controlar o tom de voz, chamando a atenção de alguns alunos.
Eu adoro as pessoas que conseguem manter a discrição. Peter não é destes.
– Por que não fala mais alto? Aposto que ainda não te escutaram da Lua. – Resmungo o mais baixinho possível.
Peter ri tanto do meu comentário quanto do tom tomate que meu rosto ficou. Tomate não, berinjela. Corar fácil e rapidamente é apenas um dos problemas de ser tão pálida a ponto de brilhar no escuro.
Alguns minutos antes da aula acabar, o professor fez um discurso sobre a qualidade do que escrevemos e o quanto isso influencia na hora de entrarmos numa faculdade, como se nós fôssemos ignorantes quanto a isso. Deixei meu cérebro no modo automático enquanto ele falava, mas "acordei" quando ele falou que poucas pessoas conseguiram se sobressair. E, dentre elas, citou meu nome. Disse também que enviou as redações desse grupinho específico para um tal amigo jornalista e que talvez uma dessas acabe como um artigo.
Quando o sinal tocou, Peter deu um leve tapa no meu ombro, sorrindo muito e me parabenizando.
– Então, Belle, vai almoçar com os seus amigos?
– Hoje não, não tivemos tempo de marcar nada. – Respondo, torcendo o nariz.
Peter morde o lábio e passa os dedos pelo cabelo loiro e bagunçado, desviando o olhar para o chão.
– Que se dane, vou direto ao ponto... – Murmura. – A Susan está... solteira?
A minha reação não foi muito diferente da esperada: arregalar os olhos, arquear as sobrancelhas, sorrir como uma psicopata esquizofrênica e dar uns pulinhos.
– Hum... Temos alguém interessado, não é mesmo?
– Talvez... – Peter murmura, mais para si mesmo do que para mim.
Eu não pude deixar de reparar no sorriso que ele tem no rosto ao deixar esta palavra passar pelos seus lábios, isso me motiva a ser a cupida oficial dos dois. Sim, nas várias vezes que almoçamos juntas eu tenho ouvido os suspiros da parte dela e, quando Peter está conosco, eu percebo o quanto ela age constrangida. Dois fofinhos!
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Sombras da Luz (Pausada)
RomansaBelle sempre acreditou que sua vida era pacata, na melhor das hipóteses, mesmo sendo filha de uma médica e de um enfermeiro que passavam o dia inteiro fora de casa. Até que os dois morreram. Sem um aviso, um adeus, um mais ou um menos ou o que quer...