Capítulo 7

123 28 166
                                    

Passei mais uma noite sem dormir direito. Isso tem se tornado cada vez mais comum, droga! Mas eu sinto que há algo muito diferente na atmosfera dessa casa, não sei. Parece que os pássaros estão cantando mais alto que o normal. Que tem fadinhas voando ao meu redor cantando com vozes perfeitas enquanto tocam violoncelo.

Eu devia ir me tratar.

Acordei um pouco mais cedo que ontem, por isso, gasto meu tempo extra fazendo uma lenta e vagarosa inspeção no meu cabelo. Está seco, apesar do xampu e condicionador caro que tenho usado. Reprimo um suspiro. A fragrância que costumava exalar mudou, isso é uma pena, eu amava aquele cheiro, mas isso não me abala tanto, toda a tristeza dessa casa se esvaiu, pelo visto. Pareço até a Pollyanna e o Jogo do Contente, porque logo que percebi essa mudança, pensei "ah, que pena, mas pelo menos o cheiro é outro e também é ótimo".

Troco de roupa e desço. Tudo que Margot me disse ontem me vem à mente e eu estou curiosa em saber mais sobre o passado de Adam. Ter uma garantia de que por trás dessa postura de ameaças e grosseria há uma pessoa é quase que gratificante de uma maneira que só faz sentido na minha cabecinha louca. Acho que porque eu queria acreditar que Adam tinha uma parte que não era rabugenta ou irritante ou estressada, e, com o que Margot me contou, provei-me correta. Somos todos humanos, a final de contas. Tudo bem que alguns erros são mais graves que outros, mas acho que nenhum está isento de perdão. Ninguém pode ser tão cruel à ponto de não merecê-lo.

Meu Deus! Até eu estou estranhando que isso saiu de mim. Eu costumo pensar que a pessoa deve lutar pelo que quer e dar o dobro de sangue para conseguir ser perdoado, se realmente o quer. Culpo isso no meu - temporário -complexo de Pollyanna.

Chego à cozinha com um sorriso enorme no rosto, tanto que cheguei a assustar Margot com ele. Dei uns rodopios, inclusive. Com certeza ela acha que eu sou estranha, mas isso não me abala, estou feliz demais para me importar com esse tipo de coisa.

- Bom dia! - Exclamo, alegre.

- Bom dia, Belle. Está tudo bem?

- Melhor impossível! - Sorrio mais ainda.

- Tem certeza disso, menina? Você parece estar alegrinha demais em comparação com ontem. - Ela pergunta, com os olhos crispados e a testa franzida.

- Ah, Margot, todo dia é um novo dia, não é? Estou com vontade de dançar, de cantar, de sair gritando "bom dia sol, bom dia vida, bom dia luz, bom dia pássaros" e por aí vai. Não sei o que aconteceu de ontem para hoje, mas, sei lá, parece que todo o clima negativo dessa casa foi embora, que o mundo está tão mais alegre, não sei mesmo, só acordei assim.

Ela começou a rir durante a metade do meu monólogo.

- Que foi?

- Você realmente não sabe o que aconteceu, Belle?

- Não...? - Respondo com a testa franzida.

Margot ri ainda mais, tanto que seu rosto começa a ficar levemente rosado.

- Depois de toda a confusão de ontem sobre o enterro, Stelly foi demitida, foi embora ontem à noite.

Arregalo os olhos.

Anuo vagarosamente.

Começo a rir feito uma capivara parindo.

Tem alguma coisa mais irônica que isso? Ontem eu a defendi e achei que nada superaria isso, mas estou tendo um Complexo de Pollyanna justo quando ela foi embora, só pensar nisso faz com que eu ria cada vez mais. Meu Deus, eu me amo!

Eu sou mais má do que achei que fosse... Quem se importa, mesmo?

Depois de nós duas finalmente nos acalmarmos, trocamos um olhar e rimos mais um pouco. E mais um pouco. E mais uma risada contida, aí nós paramos.

Sombras da Luz (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora