Capítulo 13

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Capítulo 13

-Credo, a mulher nunca se cala? - perguntou a Tatiana por detrás de mim, antes de arrancar o meu telemóvel da minha mão e o pousar em cima da mesinha à minha frente, mas não sem antes arrancar uns quantos fios de cabelo da minha cabeça devido à brusquidão dos seus movimentos.

Suspirando, estendi a mão para voltar a pegar no telemóvel, mas acabei por encolher os ombros e deixá-lo estar onde estava. Não era como se a minha mãe fosse dar fé que eu já não a estava a ouvir, visto que as suas chamadas eram mais monólogos que conversas.

-O que é que estás a fazer aqui? - olhei para a Tatiana sem virar a cara, para não dificultar o trabalho às duas mulheres que me estavam a maquilhar.

-Não tinha nada para fazer, pela primeira vez em seis meses, - ela encolheu os ombros. - Credo, sabias que não ter nada para fazer é estupidamente aborrecido?

Soltei uma gargalhada.

-Imagino, Tat.

-Mas adiante, sabias que quando as pessoas estão aborrecidas é que lhes ocorrem as melhores ideias? - ela sorriu quase que diabolicamente.

-Raios partam, Tat, de que é que te lembraste agora? É bom que não seja nada como da última vez, que eu quase era atropelada pela porcaria de um camião.

A Tatiana riu-se histericamente ao lembrar-se daquele momento, pelo que ficou toda a gente na divisão a olhar para ela. Não hesitei em levantar o pé e espetar-lhe um pontapé na canela.

-Rude, - resmungou ela, passando uma mão pela zona dorida. - Vamos fingir que não acabaste de me fazer isso, porque se eu tiver uma nódoa negra amanhã durante a minha sessão de fotos eu nem sei o que te faço. Mas enfim. Tenho uma coisa para te mostrar.

Franzi muito ligeiramente o sobrolho ao vê-la a abrir o fecho da sua carteira - Michael Kors, como não podia deixar de ser - e a retirar uma caixa branca, que me estendeu.

-Compraste um iPhone? - perguntei, surpreendida. - Não tinhas comprado um telemóvel novo ainda no outro dia?

-Não sejas idiota, Liv. É para ti.

Só não me engasguei naquele momento porque tive medo de arruinar a maquilhagem para a qual as duas mulheres haviam trabalhado tanto.

-Tat, eu tenho um telemóvel, - lembrei, como se ela fosse extremamente burra e precisasse que eu falasse devagar e lhe explicasse tudo por muitas palavras. - O que significa que eu não preciso de outro.

-Não, tu já tens um telemóvel ligado às contas da tua mãe, o que significa que ela sabe de todas e quaisquer comunicações que tu tentes estabelecer com o mundo exterior. Este é um telemóvel que está ligado às minhas contas e cuja existência a mulher nunca sequer vai imaginar. E sabes o que isso significa, Liv? Significa que podes falar com o Michael e com a Amara e com quem mais queiras sem que a mulher alguma vez descubra.

Com um movimento das minhas mãos, as duas maquilhadoras afastaram-se de mim e eu levantei-me de um salto para abraçar a Tatiana com força. 

-Tat, eu... eu nem sei o que dizer... como é que eu te posso agradecer? Eu...

-Está calada, sua idiota, - riu-se ela. Ela muito gostava daquela palavra. - Vai mas é ligar ao Michael, que o pobre rapaz já deve estar perto de se atirar de um penhasco.

Peguei no meu telemóvel - o antigo - e inventei uma desculpa qualquer para desligar a chamada com a minha mãe que ainda continuava e poder procurar o número do Michael nos meus contactos, para o poder inserir no meu novo telemóvel e ligar-lhe.

I Can't Remember • Michael Clifford {AU}Onde histórias criam vida. Descubra agora