A aula de biologia foi estranha. A do óculos arredondando não parava de me encarar e eu estava ficando definitivamente constrangido. O que será que ela queria? Quando chegou a vez dela responder o nome, ela abriu um sorriso tão grande que eu até me assustei. Quem é que consegue ficar tão feliz assim no primeiro dia de aula?
"Amanda. Amanda Ferraz!" Então o nome dela era Amanda...
A Isadora(professora de biologia), começou a fazer perguntas sobre as matérias dos anos anteriores e claro, o Matheus levantava a mão para responder todas, porém, na sala tinha apenas mais uma pessoa que levantava o braço empolgadamente. Amanda.
Depois da entediante aula de biologia, teve matemática que eu me esforcei muito para permanecer acordado na aula do Vinicius. Ele é um ótimo professor, mas a voz dele e aquela calmaria toda para falar me dava muito sono mesmo.
Após a aula do Vinicius, teve português. A professora de português desse ano é a mesma do ano passado, a Marina. Ela sugeriu de novo que fizéssemos diários, assim como no ano passado. É obvio que eu não fiz e nem vou fazer esse ano. Sou péssimo com palavras!
Finalmente a aula de física(aula que dormi por inteira). Nem sei quem foi o(a) professor(a) pois só acordei quando tocou o sinal do intervalo.
Nath me puxou sala a fora para irmos a cantina comprar algo bem gorduroso para comer, como disse ela. Não sei como ela consegue manter aquele corpo magro comendo que nem um tigre que passou 2 semanas sem comer. Thiago veio logo atrás com o Matheus(que estava falando animadamente sobre um jogo qualquer da internet).
Assim que cheguei na fila, avistei a Malu - não tem como você não vê-la com aquele cabelo laranja chamativo, que aliás, é natural - com a Marcia e a nova amiga do clube, Amanda.
Nathalia logo percebeu que eu estava distante quando me fez uma pergunta e não respondi. Ela olhou para a direção em que eu olhava e abriu um sorriso. "Então nada de Bianca?" perguntou quase gritando de felicidade. Ela não gostava mesmo da Bianca.
Antes que eu percebesse qualquer movimentação, Nath já estava me puxando em direção as meninas.
"Oi gatas, tudo bom? Quem é a nova amiga de vocês?" Perguntou Nath apontando para a Amanda. Malu que não é nada comparada com a ingenuidade da Marcia respondeu com um sorriso largo: "Amanda. Ela é nova tanto na escola e tanto no bairro. Não conhece nada aqui no Recreio, por isso, marcamos de ir andar na praia hoje para ela conhecer melhor esse lugar maravilho onde moramos. Vamos ficar no posto 9 caso queiram aparecer por lá!"
"Que legal, prazer Amanda! Meu nome é Nathalia mas todos me chamam de Nath!" Falou a loirinha anã do meu lado.
"Prazer, Nath!" respondeu Amanda. E então todos os 3 pares de olhos se pousaram em mim e eu senti o sangue subir ao meu rosto.
"É...Hum.. Meu nome é Lucas, seja bem-vinda Amanda!" Eu sei, fui horrível, mas foi a única coisa que veio em minha mente. Então, antes que eu pudesse perceber, saiu: "Que horas vocês estarão lá? Na praia, quero dizer..."
"Vamos nos encontrar lá em torno das 15h. Vê se aparece, em Lucas!" Respondeu Malu. "Beleza, vou fazer o máximo para ir!" Dessa vez tenho certeza corei.
Nos despedimos das meninas com acenos de cabeça e voltamos para cantina, aliás, com essa apresentação nada vergonhosa não compramos a nossa coxinha pingando óleo. Assim que conseguimos enfim dar a primeira mordida na nossa maravilhosa refeição saudável, Nath me olhou com canto de olho e falou entre os dentes para Matheus e Thiago não ouvirem, pois já estávamos sentados na mesa deles. "Então, acha que não notei os seus olhos presos na gatinha novata?"
"Nath, para!" Respondi abaixando o rosto e corando novamente. "Eu nem sei se vou a praia para encontra-las. Na verdade, sei sim. Eu não vou!"
Ela me olhou furiosa. Como eu tinha medo daquele olhar.
"Ah! Você vai! Nem que eu tenho que te buscar na sua casa. Aliás, eu também vou! Preciso de uma cor..." ela resmungou.
"Uma cor? Você está parecendo um camarão de tão vermelha. Que cor você quer mais?" Provoquei-a.
"Olha, Lucas, não se atreva se não eu roubo a sua coxinha." Falou ela já se jogando em cima da mesa para tentar agarrar o meu salgado. Folgada.
Assim que o sinal que indica fim de intervalo tocou, subimos. Chegando na minha mesa, em baixo do meu caderno tinha um papel de carta rosa com bolinhas brancas destinada a 'Luck Fortunado'.
Sentei na mina carteira e morrendo de curiosidade de ler a tal carta, percebi que continha nela um texto gigante, mas isso não me incomodou, eu adoro ler!
'Oi, Luck! Você não falou comigo hoje na sala e nem atendeu minhas ligações ontem. Vi que você está lindo hoje, aliás, como todos os dias. Gostaria de saber se você queria ir a sorveteria hoje comigo para esclarecermos o que está rolando entre a gente porque, aquele beijo ontem na festa significou muito para mim e tenho certeza que para você também. Espero que se você me peça em namoro, pelo menos me leve flores. Rosas vermelhas, ta? Beijinhos.
Bianca Belluz.'
Ah, eu mereço... Dobrei o papel de carta e entreguei para a Nath que logo soltou uma gracinha: "Won, que romântico Luck! Pena que você não faz meu tipo..." E então ela começou a ler e logo fechou a cara.
"Essa garota não tem vergonha na cara não? Ela te agarrou ontem e hoje está agindo como se você tivesse beijado ela com fogos de artifícios no plano de fundo." Vi que tinha fumaça saindo do nariz da Nath.
"Olha, não é nada. Vou resolver isso agora!" Eu realmente não sou bom com as palavras, mas queria responder a carta á altura. Então, comecei.
'Oi, Bianca. Não falei com você porque eu nunca falo com você, não lembra? Não respondi suas mensagens pois estava sem bateria, mas isso não é da sua conta. Ontem você me agarrou na festa, o que está dizendo de que significou algo? Enlouqueceu? Como você conseguiu o telefone da minha casa? Olha, não vou à sorveteria porque já tenho compromisso a tarde com outra menina. Não banque a vítima e nem tente fazer um escândalo dizendo que eu te iludi, assim como você fez no 9° ano quando inventou que eu dizia que te amava.
Lucas.'
Mostrei para Nath para ela ler e me dizer o que achava. Ela me respondeu apenas com um aceno de cabeça o que significava que a carta estava aprovada. Então dobrei e mandei para frente para que chegasse nela.
Assim que ela terminou de ler, se virou para me encarar e passou o bilhete para a Patrícia, sua amiga. Eu fingi que não era comigo e continuei olhando para a professora que já estava explicando matéria há muito tempo.
Olhei para o outro lado da sala, onde estava a menina que eu encontraria na praia naquela tarde.